MINHA VIDA SENTIMENTAL

 

"Sem sentimento a vida não teria sabor"

Thackeray

 

 

Capítulo 341

 

Mulder sai do aposento agarrando Dana contra si, parecendo querer ajudá-la a sair daquele transtorno mental ao ver cenas tão íntimas deles em

muitos lugares na Internet.

— Mulder, me promete que você não vai mais acessar aqueles links.

Ele pigarreia, incomodado.

— Responde!

— Tá, Scully; pode deixar... por enquanto.

— Por enquanto...?! Ficar observando essas atrocidades contra nós faz muito mal!

— Bem... na verdade não são atrocidades.

— Não são...?! O que você acha de ver TUDO o que você faz na sua vida, no seu dia-a-dia, nos seus momentos íntimos...

— ... não exagera. Nossos momentos realmente íntimos não são mostrados.

— É...?! É assim que você pensa? Nós fomos filmados naquele momento em que eu lhe falava sobre minhas decisões finais da minha vida sentimental,

adormeci, você me

pôs o cobertor para me agasalhar e mostram você se levantando do sofá.

— E daí?

— Você pergunta? Quem está observando atentamente as imagens vê que você, ao se levantar, me carregou pra cama!

Ele a aperta várias vezes, sacudindo seu corpo, com animação:

— Mas que foi bom a nossa primeira vez, não foi?

— Mulder, presta atenção no que estou falando! Quem vê as nossas imagens lá pode perceber logo o que teria acontecido depois!!

— Mas só imaginaram.

— Ah, você não quer levar a sério o que estou falando. Acho até que você está curtindo muito essa situação de nos ver ...

— ... em parte estou mesmo, sabe?

— E aquelas que me mostraram com as feições torturadas pela dor no nascimento do nosso filho? Terrível essa situação!

— Certo. Vamos esquecer um pouco esse assunto.

— Promete que não vai mas olhar aquelas coisas?

Ele apenas a agarra pela cintura, fitando-a nos olhos.

 

*   *   *

 

Mulder havia saído por algum tempo.

Dana, ajudando Maggie em arrumação na casa, continuava com os pensamentos voltados para o que tinha visto na Internet.

— Você está com algum problema, filha? — a mãe quer saber.

— Eu...? Ahn... não mãe. Tudo bem.

— Não parece. Há uma preocupação muito grande transparecendo no seu olhar.

Ahn... de coisas que preciso resolver e não consigo. É isso.

— Coisas referentes à parte financeira, filha?

Ela sorri:

— Não, mãe. Nós ainda estamos bem remunerados no nosso trabalho no FBI, felizmente.

— Ainda bem.

Maggie continua no que está fazendo.

— Mãe!

Dana ouve a filha chamá-la.

— O Will falou que vai me levar ao Parque hoje.

— Ao Parque? Quem deu ordem pra isso? — pergunta, colocando as mãos na cintura.

— Meu pai deixou. É aquele ali perto de casa.

— Ah, sei; muito bem então.

Neste instante Mulder entra, carregando sacolas.

— Pai, trouxe aquelas coisas que pedi?

— Claro, Vivien. Lógico que não iria deixar minha pequena com água na boca somente.

— Meus docinhos?

Ele assente.

Dana o vê passar para a sala de jantar carregando os pacotes e a filha o seguindo toda serelepe.

 

*   *   *

 

— Não é possível o que estou vendo! De novo, Mulder?!

— Não adianta, Scully; isso está me atraindo demais; tenho que continuar olhando isso aqui. — explica, manuseando o mouse do computador.

— Mas pra quê, Mulder? Isso apenas serve para mexer com nosso coração, mente...

— ... daqui a pouco você vai virar uma psicóloga! — olha para ela com seu sorriso maroto

  Olha isso aí! Olha isso aí! — ela lhe chama a atenção.

— Essas cenas daquela época há... — conta mentalmente — ... 12 anos atrás.

— Olha esse horror, Mulder! Ah, não! Quanto a mim chega disso! Não quero mais ver esses troços. Afinal de contas não é sobre nossa vida mesmo.

Apenas estão nos imitando...

sei lá. — ela se retira.

Mulder continua acessando os sites sobre a famosa Série The X Files - Arquivo X.

"Veja só; fizeram do nosso trabalho uma série! Mas embora sejam nossas imagens e tudo o que aconteceu em nossas vidas não pode ser real isso que

podemos ver aqui.

A prova é que na loja na qual levei o modem do computador não apareceram cenas como essas... isto é, imagino eu."

Ele fica ocupando a mente nesses pensamentos.

"Preciso fazer alguma coisa; não dá pra aceitar ver essa situação continuar. Nossas vidas estão totalmente sendo divulgadas por toda parte e talvez...

para o mundo!"

— Pai!

O chamado o faz sair dos links que estava acessando. Volta-se para olhar o recém chegado.

— Sim, filho...?

— Eu estava estudando e de repente lembrei que tenho que fazer uma pesquisa.

— Sobre...?

— O ser humano em outras vidas.

— Como...? — fica boquiaberto — Por que outras vida? Seu colégio exige isso?

— Não, pai; não tem nada a ver com o mundo atual; é sobre o passado.

Aaaah, sei.

O pai se afasta um pouco para olhar na janela, deixando entregue ao filho o computador.

— Caramba! Que máximo!

— O que aconteceu, filho?

— Acessei algo bem diferente, pai.

O Agente se aproxima para ver melhor:

— O que é isso?

— É um estúdio de filmagem, não está vendo?

— Realmente. O que tem de extraordinário?

— Essas imagens estão em tempo real!

— Ah, filho, você quer dizer que é "ao vivo"?

— Sim.

O movimento no ambiente lotado de câmeras, pessoas com papéis nas mãos, luzes, holofotes.

— Que confusão, hein? Deve ser difícil para os atores aguentar isso tudo!

— Mas quando as pessoas querem se dedicar a algum tipo de trabalho que gosta, tem que ir em frente, enfrentando qualquer coisa.  — argumenta o menino.

Mulder abraça os ombros do filho:

— Parabéns pelo seu modo responsável de pensar, filho!

— A gente pode calcular pelo tipo de trabalho que você e minha mãe têm! Correm, inclusive risco de vida.

— É verdade, William.

— Você vê só isso aqui. É uma correria tremenda!

— E o diretor tem que se virar mesmo, hein?

— E você seria um ator, pai?

Ele dá uma risada:

— Claro que não, meu filho! Meu caso é só capturar gente que não presta.

Agora é William que dá uma gostosa risada.

E continua acessando o intenso movimento no estúdio que aparece na tela do computador.

Mulder se joga numa poltrona afastada de onde está seu filho e toma entre os dedos algumas sementes de girassol, pondo-se a mastigá-las enquanto

desfolha as páginas do jornal.

Minutos relaxantes para ambos se passam assim.

— Pai! Não é possível isso!!

Mulder não perde a sua relaxante pose, sem tirar os olhos das páginas do jornal:

— Já sei; deu problemas nesse seu PC aí.

— Não, pai! Chega aqui pra ver!

— Tá; já vou. Vou só terminar de ler um negócio aqui.

— Mas falando sério! É sério mesmo, pai!

O pai se aproxima, vendo o filho tão agitado.

— Olha aqui! É você!!

— O quê...?! — assusta-se com a imagem, mas logo lembra do que ele e Dana já haviam descoberto há dias atrás.

— Filho, esse aí é um ator dessa Produtora.

— Mas é um sósia seu! — fala assombrado — Demais parecido: o tom de voz, as feições e corpo...

— ... até os gestos.

— Isso! Isso!

Mulder agora está interessado ao ver a figura de um homem que está exigindo dos atores suas devidas interpretações.

— Esse aí é o diretor. — explica ao filho.

— O que ele faz?

— Dá aos atores a ordem para representar seus personagens.

— Por que se chama de "personagens"?

— Simplesmente porque eles representam alguém que o roteiro exige.

— E o que é roteiro?

— É um texto, ou melhor, uma história escrita por alguém que deseja que a mesma seja desempenhada, vivida por atores.

— De cinema e teatro?

— Também de TV.

Neste momento os dois veem um sorriso no rosto do ator e seu olhar demonstra alegria e desejo ao mesmo tempo.

Uma mulher aparece no cenário.

— Meu Deus, pai! Olha!

— É mesmo incrível, William. É exatamente a cara de sua mãe!  — ele exclama com um sorriso, notando o semblante assustado de seu filho.

 

 

"Sorrimos quando temos consciência

de ser superiores aos que nos creem."

Stendhal