SERIA
O IDEAL
"Os ideais são o traje de gala da alma.
H. G. Wells
CAPÍTULO 343
Mulder segurando Dana pelo braço, a encaminha para a
sala de jantar.
— Scully, o
que você acha disso?
— Bem...
— ... não
venha me dizer que ele está inventando! — ele observa o ar cético de sua
mulher.
— Mas eu nem
cheguei a falar você já me cortou a frase!
— Tá; então
qual é a sua opinião?
— William
pode ver coisas que, na verdade, nós não podemos; você sabe disso.
— É a minha
opinião também.
— Mulder,
vamos procurar monitorá-lo o máximo que pudermos daqui em diante...
— ...
concordo, Scully. Você o leva para o colégio com a Vivien
e eu os apanho lá.
— Sim, sei
que esse seria o ideal, mas não podemos fazer isso!
— Como não
podemos...?!
— Será que
estou falando bobagens... invenções... fantasias...? — ela o olha fixamente —
Mulder, nós trabalhamos no FBI e não temos hora
nem tempo
certo pra nada!
Mulder se
senta numa cadeira junto à mesa de jantar:
— De repente
não pensei nessa realidade. — faz um bico com os lábios e passa os dedos acima
da boca — O que temos que fazer, Scully?
Dana já está
colocando num liquidificador frutas para um bom suco:
— Vou pedir
à mamãe que esteja sempre com eles. E pode ter certeza de que isso ela fará com
prazer.
— Acredito
que sim.
* * *
O dia
chuvoso não dá entusiasmo para ir às ruas.
Mulder, com
ar cansado, enquanto dirige vai
retirando do paletó o crachá do FBI. Seus pensamentos vão até sua casa. Está
ansioso para chegar
e ver sua
família.
Estaciona o
carro; fecha as portas e entra em casa arrancando rápido o paletó.
Logo pode
ver Dana arrumando no cabelo de Vivien uma flor.
— Combina
com meu vestido, mãe?
— Claro,
filhinha!
A menina
logo sente a presença do pai:
— Pai!
Estava te esperando!
— É, filha?
— ele a toma nos braços.
— Quero saber
o que você trouxe pra mim.
— Pão de
queijo.
— O quê...?!
— ela faz cara feia.
O pai a
aperta contra si:
—
Brincadeirinha, filha; apanha lá no carro sua caixa de bombons.
— Obaaa!!
A menina
desce dos braços do pai e sai correndo.
Dana sorri
vendo a alegria da menina.
— Estou
cansado, Scully. — ele suspira.
— Eu bem
imagino, Mulder. Você ficou hoje lá no trabalho mais tempo do que eu.
— Exigência
lá do poderoso chefão.
Ela apenas
sorri.
— Dana...
Ela o fita
com seus brilhantes olhos azuis.
— ... como sempre
digo: seus olhos são como se estivessem sempre com lágrimas não derramadas.
Ela se
aproxima, abraçando-o com calor, beijando-o no pescoço:
— Adoro
quando você me chama assim.
— Chamando
Dana ou Scully quero demonstrar sempre o que sinto por você... e sabe
Scully...?
— O quê...?
— Você não é
chá de camomila mas me acalma e é gostosa!
— Ah! Ah!
Ah! — os dois caem na risada abraçados.
— Você criou
essa esperta frase Mulder? — ela continua rindo com a mão na boca.
— Não,
Scully; ouvi isso na tv. Engraçada, hein?
— Com
certeza; ah! a! ah!
— E aí,
Scully? O que acha da tal investigação daquele caso de hoje?
— Ah, bem
mais fácil do que muitos anteriores.
— É;
concordo. Mas vou te falar... aquele tal Kerch está
sempre nos colocando como se fossemos agentes principiantes.
— Sim,
claro, mas temos Skinner sempre ao nosso lado.
— Ainda bem.
— se afasta, balançando as chaves do carro — Você buscou as crianças na escola,
não é?
— Não,
Mulder! Eles vieram sozinhos.
Mulder
franze os lábios chateado:
— Então
chama William; quero dar uma coisa que trouxe para ele. — fala, procurando algo
no bolso da calça — E vou falar com ele pra não fazer
mais isso.
Dana se
encaminha para fora de casa:
— Vivien! Diz para o William vir aqui!
— Mãe, ele
foi pra casa da nossa avó!
— O quê...?!
— volta rápido para dentro de casa.
— Mulder,
William foi para casa da mamãe. — conta, ansiosa.
— Scully, eu
não falei pra ele não ficar saindo sozinho assim?
— Agora é
que estou sabendo que ele não veio direto para cá! — ela se encaminha para onde
está a filha — Vivien, logo que vocês chegaram em
casa ele
saiu?
— Sim, mãe;
ele me falou que ia lá pra casa da vó Maggie.
* * *
William
caminha olhando tudo ao seu redor; já está com intenção de pedir a Maggie o
jogo de video game do seu primo para brincar um
pouco.
Já haviam
combinado isso.
O carro de
transporte de lixo; alguns automóveis com batedores acompanhando um veículo que
demonstra estar transportando alguém importante
também
passam pela larga via com ruído ensurdecedor; um ônibus pára
num ponto, a fim de descerem passageiros.
"Engraçado,
— pensa o menino — o sol estava bem fraco desde a manhã e agora está aparecendo
tão forte...!"
Ele vê
algumas pessoas passando por ele normalmente, como se nem notassem aquela estranha
claridade.
" Daqui
a pouco já estarei na casa da minha avó."
Nota, então,
que a claridade está cada vez mais intensa e sente que não pode nem abrir os
olhos normalmente.
" Mas o
que está acontecendo?" — sua mente
quer saber.
Uma mulher
está passando com um cão preso à coleira.
William
decide perguntar:
—
Senhora, não acha que algo estranho está
acontecendo com essa claridade muito forte?
Como se o
menino à sua frente fosse invisível a mulher continua sua caminhada
tranquilamente.
— Ei,
senhora! — ele chama, parado no lugar, esperando uma reação da desconhecida.
E esta
continua seu caminho como se não estivesse enxergando nada diante de si.
Súbito um
vento em redemoinho vem em direção do filho dos Agentes.
— Que é isso?! — ele grita — É um ciclone se aproximando! Me ajudem!
Nenhum dos
transeuntes parece ouvi-lo nem sentir qualquer coisa estranha acontecendo.
"Vou
correr agora pra chegar rápido." — pensa ele.
Começa a
correr aceleradamente e nota que todos os transeuntes estão caminhando
normalmente ainda.
Sente que a
ventania está tão forte que seus pés estão sendo levantados do chão.
O menino
grita, apavorado.
* * *
O casal
entra no carro apressadamente.
— Você viu?
Aqueles caras estão me parecendo ser os tais paparazzi malucos! — ele fala.
— E é claro
que são! — confirma.
Rapidamente
ele gira a chave de ignição no carro para dar partida.
— Anda!
Rápido! Não vamos deixar que se
aproximem!
— Olha, vou
te contar: estou ficando bem irado com toda essa perseguição desses caras com a
gente!
Ela passa a
mão nos longos cabelos:
— Acho que a
qualquer momento o mundo inteiro vai saber sobre nós. — suspira.
— Certo! Tem
que o mundo inteiro saber que nos amamos mesmo, que estamos juntos, temos
nossos filhos e pronto! E daí? Qual é o problema?
Isso
acontece a todos a qualquer hora por aí.
— Eu sei. —
ela confirma — Só que nosso trabalho é bem diferente da maioria das pessoas e
isso favorece em muito investigações
sobre nossa vida.
Agora é ele
quem lança um profundo suspiro.
— Escuta,
mas vamos falar sobre o que estamos tendo que resolver; o que acha da produtora
estar realizando nessa época tão complicada essa nova
produção?
— Bem... ahn... só espero mesmo é que não aconteça o julgamento
negativo dos que assistiram o nosso último trabalho. Tanto cansaço, tanta
labuta...
e sem
grandes apreciações.
— Também
penso assim. O último não foi lá essas coisas, pois desagradou a meio mundo.
O carro
segue em velocidade pela pista úmida.
— Olha, uma
coisa vou dizer pra você: — ajeita novamente as mechas douradas dos cabelos —
nós somos muito queridos por milhares de pessoas, viu?
— Sei disso.
— volta o rosto para fitar os olhos dela — E você se emociona, não é?
Ela meneia a
cabeça afirmativamente.
Ele tira a
mão do volante para acariciá-la amorosamente na face.
Ela o beija levemente
junto aos seus lábios. Agora mantém a cabeça inclinada sobre o ombro do amado.
A pista
agora molhada e brilhante se desenrola diante de seus olhos. Estão calados agora.
— Olha! Olha
ali! Não acredito! — chama a atenção do outro.
— Um menino
caído no chão!!
— E quase
fora do meio fio, meu Deus!
O homem vai
desacelerando o carro.
— O que vai
fazer?
— Parar aqui
no acostamento e ver o que podemos fazer.
— Oh, meu
Deus! E a quanto tempo será que essa criança está aí?!
— E será que
ninguém o viu aí jogado quase na pista?
Ele para o
veículo. Os dois descem para chegar perto da criança.
— Meu Deus!
Como é que pode acontecer uma coisa dessas? Não é criança de rua, não! Veja a
roupa dele!
— É; ele
está bem vestido.
— Está
desacordado. — ela olha para ele, levantando as sobrancelhas — Se eu fosse uma
médica poderia avaliar o estado desta criança, mas...
Ele dá um
sorriso entendendo o que ela quer dizer:
— Veja se tem pulsação.
Ela toma o pulso do garoto:
— Sim, tem.
— Vamos levá-lo ao hospital, rápido! — pega
a criança no colo, dirigindo-se para o carro.
"Educai
as crianças e não será
preciso punir os homens."
Pitágoras