AS LÁGRIMAS DO
MENINO
"Quem
deveras confia nos destinos da
humanidade não
tem medo das lágrimas."
Lope de Vega
Capítulo 346
Neste momento o casal nem sabe o que fazer, exatamente. As lágrimas nos olhos do menino parecem falar mais alto que suas próprias palavras.
Gilly fixa o olhar em Dave que o retribui, com um longo
suspiro de insatisfação e impaciência.
E se
antecipa para perguntar:
— Então como
aconteceu com você? Fala!
— Olha...
foi assim... meu pai ...
— ... Fox
Mulder... — completa Dave com ar irônico.
— ... sim;
ele havia saído para buscar a mim e minha irmã Vivien
na escola. Minha mãe...
— ... Dana
Scully — novamente interrompe a narrativa do menino.
— É; minha
mãe; então ela estava em casa. Mas eu, quando saí da escola, falei pra minha
irmã que ia na casa da nossa avó. Daí então eu estava
seguindo
pela rua até relaxado, olhando as lojas por onde eu passava, quando de repente
apareceu uma luz!
— Uma
luz...?
— Sim! Que
foi aumentando pouco a pouco e fiquei com muito medo, senhor Dave. E eu falava
com as pessoas se não estavam com medo e elas nem me
ouviam!
Ninguém me dava atenção! Era como se nem me vissem! Essa é a verdade.
— Escuta
William; um rapaz contou a um investigador que você estava correndo; por que?
— Com medo
da tal luz que vinha mais sobre mim do que sobre os outros; notei isso e fiquei
apavorado.
— E depois?
— Depois não
me lembro de mais nada!
— Escuta e
por que você foi parar lá naquela rodovia tão movimentada e cheia de risco?
— Não sei!
Já lhe disse que não sei!
Dave se põe
de pé; passa a mão nos cabelos, com ar perturbado.
— Mas o que
é isso, rapaz? Como pode inventar essas história fantástica?!
— Mas é a
verdade, senhor Dave! Não estou mentindo!
A mulher se
aproxima mais, agora:
— Por que
você achou que ninguém o via naquele momento?
— Só estou
falando a verdade, senhora Gilly! Até perguntei a uma
moça que estava com um bebê num carrinho e ela nem me olhou, como se não me
visse.
Horrível! Senti muito medo mesmo! Acreditem no
que estou dizendo... por favor! — já conclui a frase choramingando.
O casal se
afasta dali:
— Escuta Gilly e sobre a irmã dele?
— O que tem
a irmã...?
— Se ele é
realmente...
Ela dá uma
de suas características cristalinas risadas:
— Não me
diga que está acreditando que o menino é filho daqueles Agentes, mas ao mesmo tempo não existe tal
possibilidade porque aquele casal
não teve
outro filho... — dá outra risada — ... mas como vivem numa outra dimensão do
tempo...
Ele se
aproxima, fixando os olhos nos dela:
— Pronto! Já
falou tudo o que eu estava pensando!
— Não
acredito que é isso que você imagina! — coloca as mãos nos quadris.
— Então por
que me fez essa detalhada descrição do que imagino?
— Porque...
— dá voltas pelo ambiente, puxando mechas do longo cabelo louro — ... porque
... — faz um ar de como se estivesse tentando desbravar o que
lhe está
ocorrendo no pensamento.
— Senhor
Dave! — o menino chama.
O homem vai
até ele.
— Eu sei de
como o senhor pode descobrir que eu sou filho dos meus pais!
Dave sorri,
batendo suavemente sobre o ombro do garoto:
— Mas não
tenho dúvida de que você nasceu de seus pais, ora, William!
— Mas vocês
não acreditam que eles são Fox William Mulder e Dana Katherine
Scully.
Dave aperta
os lábios.
— Mas eu
tenho como você acreditar no que estou falando. — continua o menino.
— É...? E
como?
— Num exame
de DNA.
— O quê...?!
Você sabe o que é isso?
— Sim; é muito comum hoje as pessoas
pensarem que exame de DNA é
sinônimo de exame de paternidade. Na realidade quando falamos de exame de DNA
estamos nos referindo a análise
de um gene específico dentro dos milhares que são responsáveis por
nossas doenças genéticas. O DNA é formado por este conjunto
de genes. É o material genético que herdamos de nossos pais e que
determinam todas as nossas características. Algumas, como os grupos sanguineos ou a cor dos
olhos só dependem dos genes. Outras dependem da interação entre os
genes e o ambiente (ou outros fatores), em maior ou menor grau. É o caso dos
genes que
causam doenças genéticas. Cada indivíduo ao ser concebido recebe, para
cada característica, duas informações. Uma que vem da mãe, através do óvulo, e
outra
do pai, através do espermatozóide. Portanto,
cada um dos pais colabora com 50% das informações do filho, que se combinam uma
a uma, como um zíper,
no momento da fecundação. Estas informações individuais estarão
distribuídas em 23 pares de cromossomos que serão copiados em toda nova célula
gerada.Os
nossos genes são seqüências (pedaços) de DNA
que codificam proteínas essenciais para o funcionamento do nosso organismo. Se
houver um defeito no DNA
(uma mutação) a proteína correspondente também estará alterada (ausente
ou defeituosa). O exame de DNA tem sido
extremamente importante para confirmar
o diagnóstico, em um número
cada vez maior de doenças genéticas. Ao contrário
de que muitos imaginam, existem vários
métodos de investigação de vínculo
Genético por DNA.
Com essa extensa narrativa sábia de William, o casal
já se havia sentado boquiaberto, ao ouvir tal descrição tão detalhada do
referido assunto abordado.
— Chega,
William, pelo amor de Deus! Nem eu saberia dar tanta explicação sobre isso!
Chega!
— Tem razão,
garoto! Não dá mais pra ouvir qualquer explicação. Chega, portanto. — é o homem
falando — Agora me diga uma coisa: você não aprendeu isso
na escola,
claro!
— Na verdade,
senhor Dave, eu nasci com esse dom de saber sobre tudo... ou quase tudo. —
dá um tímido sorriso.
Agora os
dois filhos do casal entram em algazarra.
— William!
Olha aqui! Esta é a nossa irmã!
O menino se
levanta de diante do PC.
— Oi! Sou
William. E você?
— Sou Perla.
Logo o
esperto garoto se entrosa com os amiguinhos recém-chegados.
Gilly e Dave ainda estão absortos; ar pensativo, desejando
entender toda a cena que haviam assistido.
Ela murmura:
— Dave...?
— O quê...?
— Eu quero acreditar.
— Anhan, anhan! Fala isso pro
Carter!
"Conjecturas
tímidas tomam às
vezes o nome
de resoluções acertadas."
Zamarhschari