MAIOR ENCRENCA DA MINHA VIDA

 

"O heroísmo, se há algum na vida,

não está em amá-la, mas em vivê-la."

Vargas Vila

 

Capítulo 348

 

— E então, amigo? Concorda que esse garoto precisa ser tratado por um terapeuta?

— Naturalmente; principalmente porque ele pensa estar num mundo diferente, sei lá o que ele imagina, Dave!

— Imagina estar em outra dimensão.

— Ah! Ah! Ah! Você sempre procura falar algo divertido. — faz uma pausa fitando o amigo — Escuta aqui, enquanto isso ele vai ficando aqui na sua casa...?!

Dave aperta os lábios. Passa a mão nos cabelos e em seguida coça os pelinhos do rosto, quase deixando aparecer a barba:

— Estou na maior encrenca da minha Vida. Nem sei bem o que fazer. Ainda há pouco liguei para uma entidade que cuida de menores desaparecidos e nada foi resolvido até agora.

— Ninguém está a procura dele?

— Pois o principal problema é esse. Ninguém faz queixa do seu desaparecimento!

Agora a mocinha se aproxima:

— E então? Gostou do lanche? — pergunta ao convidado.

— Claro! Uma delícia! — fala, segurando as mãos da jovem.

— Pois fui eu quem deu as dicas dos pratos.

— Mesmo, garota? — ele se vira para o outro — Dave, não demora muito essa menina vai casar.

O amigo dá um sorriso forçado, não gostando muito da idéia.

Perla se aproxima dele:

— Vou lhe contar uma coisa: na hora em que o tio William estava chegando o Nicholas telefonou, avisando que vai dar uma passada aqui para falar com você.

— Ah, é? E ele vem hoje?

— Sim, mais tarde.

— Ok.

— E ele até comentou sobre a série em que você está trabalhando agora. — ela completa.

— Ah, a Californication! — quem diz é William Davis.

O outro apenas sorri, balançando a cabeça.

— Você está se dando bem nesse trabalho, hein? — comenta o amigo.

— É... a gente faz o possível para que tudo seja do agrado do público, é lógico!

— E a Gilly também está ótima nessas em que ela trabalhou.

— Verdade. A série Hannibal  já chegou ao fim, mas a outra já tem nova temporada em andamento.

— Sério?

— É, tio William, a The Fall está dando bastante cartaz à minha mãe! — diz a mocinha.

— Ela merece. — fala o amigo sorrindo.

   *   *

Maggie, com olhos brilhantes pelas lágrimas, acaricia os cabelos de Dana:

— Filha, não se esqueça de que nosso Deus está sobre todas as coisas e por certo Ele está vendo onde nosso querido William se encontra neste momento!

Os soluços fazem movimentar o corpo da aflita filha.

— É muito sofrimento, mãe! Pela segunda vez estou sofrendo horrores pela falta do meu filho. Não estou aguentando mais!

— Vamos esperar que o Fox venha com uma notícia pra nós, filha! Tenha fé!

— E eu tenho fé, mãe! — soluça mais — Só que essa angústia não posso dominar!

— Eu sei, eu sei! — a mãe fala chorando, abraçando a filha.

Um barulho de motor é ouvido neste instante.

— Oh, meu Deus! O Fox chegou, Dana!

Dana se levanta rapidamente.

Mulder vai entrando apressado.

— Mulder, você está só! Não veio com nosso filho! Ah, não! Oh, meu Deus!

Ele a abraça. Em seus olhos verdes também as lágrimas aparecem.

— Nada ainda, Scully...! — murmura.

— Não...?! Não é possível!

— Nem uma notícia, Fox? — Maggie quer saber.

— Como estou falando pra vocês. Nada! Não há informação possível sobre o paradeiro de William.

Dana está agarrada ao corpo de Mulder. Chora sem parar.

— Olha, senhora Scully, — ele avisa — eu só vim até aqui porque preciso trocar de roupa. Estou muito suado. E vou sair novamente.

— Sim, sim, claro. Vou preparar rapidinho algo pra você comer. — diz Maggie.

— Não! De jeito nenhum, senhora Scully! Nem consigo engolir nada!

— Mas Fox...

Ele faz um gesto com a mão de que não quer ouvir mais sobre o assunto de alimentação.

Maggie sai dali.

Mulder acaricia o rosto de Dana. Suspira:

— Nosso filho voltará, Scully.

— Por que fala assim com tanta certeza?

— Não sei. É o que sinto no coração.

Ela chora mais ainda.

— Dana, querida da minha vida, temos que ter esperança! Se não ha indício de morte ou sequestro, ele pode estar em algum lugar...

— ... com vida? Você acha, Mulder?

Ele balança a cabeça, confirmando.

Levanta o rosto dela, passando os dedos para secar as lágrimas que lhe correm na face. Depõe os lábios levemente em seus olhos azuis.

— Ainda há uma esperança, Dana.

 

*   *   *

 

— E então? O que você conseguiu hoje? — ela pergunta interessada.

— Nada feito. O menino parece não ter uma família, Gilly... sei lá o que está acontecendo!

— O terapeuta conhecido do nosso amigo vai ajudar, vamos esperar.

— É... vamos ver. Já é o segundo dia que ele está aqui em nossa casa. Isso é preocupante.

Ela achega-se a ele para acariciá-lo:

— A gente vai conseguir resolver isso. — toca os lábios nos dele.

Ele a agarra com força:

— Quando você está perto de mim não tem jeito... eu fico assim, olha só.

E ela percebe a vibração do corpo dele a desejá-la. Se agarram com paixão.

— A que horas o Nicholas vai chegar?

— Não disse ao certo.

Aaah...!

Ele continua a apertá-la contra seu corpo.

 

*   *   *

 

— Vem cá, William! Pega minha bicicleta que eu vou no meu carro! Anda! Vem logo!

As três crianças brincam alegres.

E o entusiasmo barulhento prossegue no espaçoso pátio da casa.

William segue na bicicleta do seu novo amigo Phillip; o menino menor corre sem parar, dando voltas no lugar; logo entra na casa. Após poucos minutos o menino reaparece

com uma capa lhe cobrindo os ombros e uma máscara.

— Ah! Ah! Ah! Olha só, William! Meu irmão tá parecendo um monstro!

William detém-se a observar o outro garoto que aparecera mascarado:

— Que nada, Phillip. Ele tá igual a um super herói! — explica ao amigo.

E em seguida aparece um homem também mascarado usando uma capa vermelha.

— Ei! — grita Phillip e se aproxima do homem — Foi você quem deu aquilo pro meu irmão?

Eles ouvem a voz rouca, esquisita do homem, fazendo com que sintam medo:

— Fui eu, sim! E para ganhar uma vestimenta igual você tem que adivinhar quem sou eu!

Ahn...? — o garoto está na dúvida.

— Você conhece esse cara, Phillip? — indaga William.

— Sei lá... me parece um tio nosso...

— E aí, Phillip, não quer ganhar sua vestimenta de super-heroi? — pergunta o homem.

— Eu quero sim! — o menino o olha com as sobrancelhas cerradas — Eu quero descobrir quem é você!

— Então vamos lá, garoto!

Neste instante Dave aparece sorridente:

— Tá engraçado isso! Você vai ficar tentando, filho? Não dá pra saber quem é?

— De jeito nenhum, pai! Tá difícil!

O menino menor se aproxima:

— Tio, eu gostei de ser super herói!

O homem acaricia os cabelos do garoto:

— Legal! Seu irmão quer ganhar também.

— Mas ele não sabe que você é o tio Nicholas! — fala ingenuamente.

— Tio Nicholas...?! — grita Phillip.

O homem retira a máscara.

O menino corre até ele para abraçá-lo.

William, encostando a bicicleta num canto retorna até seus amigos; seu semblante entra em amedrontante surpresa:

— Gente! O que é isso? Esse homem tá morto!

— O quê?! — gritam os dois meninos.

— Não estão vendo que é uma visão? É isso que estou dizendo! Ele tá morto e era um assassino.

— O que é isso, garoto?! Para com essa história louca! — Dave o repreende irado.

— Calma, amigo; não se preocupe porque deve ser um engano. Ele nem me conhece. — retruca Nicholas.

— Engano não! Você morreu! Antes matou minha tia Melissa!

— Ei! Que história é essa, garoto? — Nicholas já está se aborrecendo.

— Esse é o meu tio Nicholas, William! Ele é bonzinho! — explica Phillip.

— Nossa! Agora entendo o sentido disso! — fala Dave, suspirando.

— Entende o quê...? Que quer dizer? — pergunta Nicholas preocupado.

— Esse menino — aponta para o garoto — é William; diz-se filho de Fox Mulder e Dana Scully e tem você como inimigo de seus pais.

O outro se volta para o amigo:

— Do que é que você está falando? Que história é essa de Arquivo-X?!

— Mesmo passados todos esses anos você ainda lembra do nosso trabalho, hein?

Nicholas sorri, sem nada falar. Não está entendo bem o que se passa.

Dave puxa William pelo braço para que se aproxime deles.

— William, este aqui é Nicholas Lea, um amigo meu, de muito tempo atrás, mesmo antes de trabalharmos naquela série que você conhece.

— O senhor quer dizer que ele também é um ator?

— Sim, claro! — confirma Nicholas — Eu desempenhei o papel de Alex Krycek naquela famosa série.

— Boa cabeça, hein Nicholas? A Gilly não lembra de muita coisa que fez naquele trabalho.

— Vem cá; — Nicholas puxa William até ele — por que você se diz filho de Mulder e Scully?

— Mas eu sou filho deles! Tá pensando que estou inventando? Tá me chamando de mentiroso?

Dave e Nicholas entreolham-se sem nada falar.

 

"Torna-se verdade a

mentira repetida."

Campoamor