O GAROTO JÁ ESTÁ EMOCIONADO

 

"Não é prudente ter muita confiança

nas     palavras   pronunciadas   em

momentos de emoção."

Goethe

 

Capítulo 349

 

Nicholas aparenta grande calma e paciência com o garoto:

— Olha, William, não queremos, nem estamos chamando você de mentiroso. De jeito nenhum! Apenas nos diga por que você não conta ao meu amigo

Dave onde mora. E por que saiu de sua casa?

— Eu já disse a ele que estava indo para a casa de minha avó e, de repente, me encontrei noutro lugar.

— Como assim...? O que aconteceu com você?

— Eu não sei! Eu não sei!

Os homens notam que o garoto já está emocionado.

— Fique calmo...! — Dave fala docilmente.

— Vocês não querem acreditar em mim! Não querem acreditar que estou sentindo falta dos meus pais! — agora ele está chorando.

— Oh, meu Deus! — É Gilly entrando no ambiente — O que aconteceu agora, William?

O menino logo corre até ela para abraçá-la chorando.

— Gente, o que vocês falaram pra ele? — ela se volta para os dois homens.

— Nada! Apenas queremos obter mais explicações dele! — explica Nicholas.

Ela acaricia a cabeça do garoto, que ainda está agarrado a ela:

— Não fique assim, querido. Pode deixar que a gente vai fazer tudo para levá-lo para sua casa, ok? Prometo!

Ele assente meneando a cabeça.

Ela fala com os três ali presentes:

— Pessoal, vamos relaxar um pouquinho, sim? Um programa de tv vai mostrar, daqui a cinco minutos, o evento do qual nós participamos na semana passada.

— Evento...?! — admira-se Nicholas.

— Sim, amigo; uma homenagem aos vinte anos do seriado em que trabalhamos naquela época: o Arquivo-X — fala Dave.

— É isso, Nicholas. — Gilly confirma.

— Ah, sei! O Comic Con.

— Isso! — Dave confirma agora.

Gilly encaminha o garoto até a sala onde está a televisão.

Os dois homens também se encaminham para lá.

A televisão está mostrando atores de várias séries.

William se senta entre Dave e Gilly.

O apresentador do evento após algumas palavras está cantando uma das músicas que foi cantada por Scully em um dos episódios.

— É o programa que vocês foram convidados, mãe? — Perla chega perguntando.

— Sim, filha, vem cá ver com a gente. — chama Dave. O apresentador logo vai nos chamar para apresentação ao público que está assistindo no auditório.

A jovem também se senta junto aos outros.

Nicholas comenta:

— Veja só, amigo, como é que pode, hein? Vinte anos já se passaram daquele enorme sucesso que foi nosso trabalho naquela Série e até hoje os fãs nos dão

o maior valor! Quanto aplauso ali pra todo mundo!

— Exatamente. E tem mais: a série Arquivo-X foi a inspiradora de, mais ou menos, dezesseis séries de tv!

— Sei disso; acho que o nosso amigo Chris é um afortunado. Ficará para sempre lembrado.

— E felizmente nós, os atores, também, Nicholas! — fala Gilly, dando uma risada.

William a fita extasiado:

— Senhora Gilly agora veio à minha mente minha mãe, porque é o mesmo modo de risada sua que ela tem; só que...

— ... o quê? — ela quer saber.

— ... minha mãe dá risadas com menos frequência que a senhora.

Gilly e os dois homens olham para o garoto sem acreditar no que o menino está falando.

— Esse menino vai manter na mente sempre essa história de que é filho de Mulder e Scully. — murmura Dave para o amigo.

— Acho que é um absurdo os pais dessa criança deixarem que ele crie uma mania como essa. — Nicholas comenta em voz baixa.

— Ele necessita de um terapeuta. — explica Gilly.

— É isso que estou providenciando. — confirma Dave.

E todos continuam se divertindo, vendo na televisão as reportagens sobre o famoso evento.

Em dado momento aparece entre os convidados que são os atores e toda a equipe de produção, o filho de um dos que dela fazem parte.

Gilly sorri, vendo o rapazinho se aproximando e fala com Dave:

— Olha aí nosso filho, o William.

— O quê...? — então é o garoto que se levanta rapidamente para falar — ... esse aí sou eu já crescido, é isso?

Nesse momento há um tremendo efeito de confusão nas mentes de todos que ali se encontram.

— O que é isso, William? Esse rapaz ali tem também o nome de William, porque ele trabalhou na série conosco, fazendo o papel de meu filho, só isso! —

explica Gilly se sentindo completamente agitada.

— Sim, certo! Mas a Agente Dana Scully, a minha mãe, teve esse filho que sou eu! E eu não estava e nem estive ainda com ela na idade que esse

rapaz está! Entendeu? Ele sou eu no tempo de vocês! Esqueceram de que eu falei que sou de outra dimensão?

— Deus do céu! Me entende, criança! A gente aqui já está ficando até desnorteada com essas suas convicções. Por favor, para com isso! Já está demais!

— Chega, William! Para com isso! Não dá mais pra tolerar essa sua conversa maluca. Chega!! — Dave se exaspera.

 

*  *  *

 

A mulher se achega ao seu amado; abraça-o carinhosa:

— E aí? Essa cabecinha está mais leve agora?

O homem a agarra com calor, beijando-lhe o pescoço:

— Não sei por que me pergunta isso e imagino como você fica tão despreocupada com nossa situação tão difícil de ser resolvida.

— Não, meu bem, eu não estou despreocupada! Acontece é que não podemos é nos estressar mais do que nosso trabalho nos faz ficar, não estou certa?

— É claro!

— Nós resolveremos o caso desse garoto de qualquer maneira, não é verdade? Presta atenção: temos que manter nosso equilíbrio emocional; você tem seu

trabalho e eu o meu: amanhã teremos que estar fora de casa trabalhando... nos estúdios ... cheios de coisas pra fazer e decorar ...  e aí...?

— Pois é isso, querida! É isso que estou pensando! O que pode acontecer?

Ela deixa seu corpo ser apertado, aconchegado ao dele:

— Problema sério...! — suspira.

 

"O trabalho tem a vantagem de

encurtar os dias e prolongar a vida."

Diderot