MUITA
SORTE PRA VOCÊ!
"A
sorte não é mais que a habilidade de
aproveitar
as ocasiões favoráveis."
O.
S. Marden
Capítulo 351
Do outro lado da linha o amigo Thompson atende:
— Alô, cara! Tudo bem?
— Eu é que pergunto a você como está?
— Só lhe digo uma coisa, amigo:
felizmente você ligou num momento em que estamos num intervalo das gravações,
que,
por sinal, estão bastante...
Não consegue terminar a frase; Dave, do
outro lado da linha, o interrompe um tanto assustado:
— Você está nos estúdios?
— Sim, claro! Não falei a você que viria
filmar?
— Na Itália...?
— Isso! Por que a dúvida?
— Eu... bem Thompson... vou desligar,
ok? Muita sorte pra você nesse novo empreendimento.
Thompson mal consegue dar uma palavra de
despedida, pois o outro já desligara.
Dave, por sua vez, está absorto,
apertando os lábios, olhos fitando o espaço à sua frente. Se joga numa poltrona.
Sua mulher vem entrando na sala e o vê
tão preocupado.
— O que aconteceu? O que você tem?
— Olha, algo me dizia que havia qualquer
coisa diferente acontecendo com a gente.
— O que...? Fala!!
— Thompson está na Itália, filmando.
— Como assim...?
— Não entende o que estou falando? Ele não está aqui em nosso País!!
— Como não, se ele veio aqui hoje?!
— Pra você perceber que um impostor
chegou aqui na pele do Thompson.
Ela dá uma estridente risada:
— Só você mesmo pra inventar um negócio
desses!
— Ah, é? O que você acha que aconteceu?
O Thompson veio, brincou com as crianças e num fechar de olhos já está lá
na Itália filmando! Legal! Ele é um
mágico!
Ela se achega a ele docilmente:
— Me fala direito sobre o que está
acontecendo, Dave.
— Ainda não entendeu?
— O que entendi não dá pra acreditar.
— Ah, é verdade. Até pra mim isso está
parecendo uma coisa irreal.
*
* *
William continua seguindo os passos de
Thompson.
— Já é noite, né?
— inicia uma conversa com o homem que quase não emite palavras — O senhor me
levou àquele parque
e eu gostei muito, sabe? Só que...
— ... o quê?
— Preciso muito voltar para meus pais.
— Nossos amigos Gilly
e Dave disseram que seus pais são Agentes Federais.
— Isso mesmo, senhor Thompson.
— Sei... — somente murmura.
— Mas eu quero saber do senhor se não é
hora de a gente voltar lá pra casa do senhor Dave.
O homem para e fala:
— Se aqueles não são seus pais por que
se interessa em voltar para lá?
— Ah, eles me tratam muito bem e tenho
certeza de que eles acharão minha casa, minha família.
— Sua casa... — o homem murmura.
William cessa os passos e fica diante do
homem:
— E o senhor vai me levar pra lá agora,
não é?
O homem mete a mão no bolso, fitando o
garoto profundamente.
— Ei! — grita o menino — Que ruído é esse?
— O que você ouviu?
— Um ruído... — fita com mais atenção o
homem à sua frente — ... você ... você...
— O que é, garoto? — faz a pergunta.
— Você é...
O homem enraivece o frio semblante:
— Para com isso, garoto! Já está saindo
do seu limite! — fala asperamente.
Num segundo William começa a correr,
afastando-se do homem que o segue a passos largos e rápidos.
*
* *
— O que você vai fazer? — indaga Gilly.
— Será mesmo que preciso dizer?
— Mas o que é isso, Dave? Você vai
procurar o menino?
— Claro! Você acha que vou deixar o
garoto pra lá, já que a noite chegou e nada de seu retorno?
Os olhos dela se enchem de lágrimas:
— Eu entendo... eu entendo; também estou
cheia de pena dessa criança...!
Ele já está entrando no carro.
— Vou com você, Dave.
Ele a fita, apertando os lábios:
— Eu não queria isso, amor.
— Eu vou! — e confirma, entrando no
carro; ajeita-se e coloca o cinto de segurança.
— É por isso que eu te amo demais! Você
enfrenta tudo sem titubear. — ele fala, segurando-lhe o queixo para beijá-la.
— Para onde vamos?
— Ao parque; o cara que se dizia ser o
Thompson ia levar o menino lá.
Ela põe as mãos no peito:
— Meu Deus, mas esse cara é muito
parecido com o Thompson, senão logo todos teriam notado!
— Isso é que está me intrigando. Como
pôde nos enganar a todos?
— Não estou entendendo. O que aconteceu
com a gente? Acreditamos que nosso amigo esteve aqui. Como pode isso?
— E todos em casa o reconheceram como
sendo Thompson!
Ele fixa a pista à sua frente, com o
rosto demonstrando tensão.
Silêncio total por vários minutos faz
com que ela volte o rosto na direção dele:
— O que você está pensando?
— Não posso lhe falar...
— ... por que? O que está pensando? —
ela insiste.
— Não devo...
— Não deve o quê? Me fala! — diz
nervosamente.
— Esse tal cara pode ser o ...
Ela achega-se para ouvi-lo mais de
perto:
— ... o ...? — faz um gesto com as mãos
— Já sei seu pensamento — dá uma risada.
Ele não desvia o olhar da pista à sua
frente; e nem responde.
Ela pega com os dedos o maço de louros
cabelos que lhe vem ao rosto pelo vento que entra pela janela do carro:
— Dave! — chama — DD!! — insiste ao ver
que ele continua a dirigir atentamente, sem querer falar — Olha pra mim!
— Não vê que estou dirigindo?! O que
você quer?
— Quero que me diga o que tem em mente!
Só isso.
— Você disse que já sabe.
— Mas olha, não é possível o que está
pensando! Entendeu?
— Não, não entendi. Só entendo é que
aquele menino não é deste mundo... desta dimensão...
Rapidamente ela se afasta dele e se
encosta na porta do carro, olhando para fora:
— Um fantasma...! — murmura.
Ele para o carro no sinal luminoso.
— Nós temos que chegar à conclusão de
que ele é algo diferente; sabe de tudo e nos considera criadores de seus
pais...
— ... mas isso qualquer criança mais
inteligente pode criar em sua fértil imaginação!
— Tá. — ele confirma sem olhar para ela.
Gilly coloca as
mãos no colo e põe-se a fitá-las, pensativa:
— Oh, meu Deus, por que aquele homem
disse ser o Thompson? Para que propósito? — murmura.
— Está vendo? Você tem que chegar à
conclusão de que aquele impostor planeja alguma maldade com aquela criança.
— Dave... — olha para ele — ... será que
existe mesmo em algum lugar do mundo pessoas tão semelhantes quanto... um
clone?
Ele não responde; apenas aperta os
lábios e seus maxilares pulsam dentro da face.
— Olha lá! — chama a atenção dela.
— O parque, enfim!
*
* *
Mulder abre a porta, entrando com passos
pesados, jogando longe o casaco.
— Pai! Você chegou!! Cadê meu irmão?
Ele segura a garota, erguendo-a nos
braços:
— William já vem, tá filha?
— Ah, você ainda não trouxe ele, pai?
— É filha, mas espera um pouco, sim?
— Tá bem.
Ele a coloca no solo. Dirige-se para o
interior da casa. Vai até o quarto.
Dana, parada diante da janela, olhos
lacrimejantes e vermelhos, torce as mãos num gesto nervoso.
— Scully...
Ela volta o olhar para a direção dele em
silêncio.
— Ainda nada...! — ela fala em tom
emocionado.
— Eu sei; ouvi Vivien
falar com você.
Ele a abraça com carinho.
— Mulder... perdemos nosso filho...!
Ele beija-lhe os cabelos:
— Ainda há uma esperança.
— Será...?
— Por que não age a sua fé?
Ela apenas deixa que as lágrimas desçam
em cascata em sua face apertada entre os braços do amado.
"Ter
fé é crer no incrível, ver o
invisível,
acreditar no impossível."