OLHOS FIXOS NUM PONTO

"Os olhos são os lábios do espírito"

Capítulo 353

 

Gilly saira do carro para ir onde estava Dave.

Os policiais se voltam para o casal:

Tudo bem, senhor.  Agora não teremos que fazer nada. Está resolvido. .. embora tudo muito esquisito!

O casal não responde.

Os policiais notam que os dois estão um tanto estranhos:

— Senhor... — repete o homem — ... tudo bem?

Nada ouve em resposta.

O outro policial acha estranho o procedimento do casal e tenta uma resposta:

— E então, senhores... tudo certo... está tudo bem com vocês?

Novamente nada vem em resposta.

O casal está com semblante completamente sem reação; olhos fixos num ponto.

— Senhor! — o policial o chama-o tocando-lhe o ombro.

Ainda nada acontece, no entanto.

— Ei, colega! O casal está em estado de choque. O que está acontecendo com eles?

— E tem uma criança no carro!

Um dos policiais vai até o carro.

William ao vê-lo tenta fechar a porta do carro.

 

*   *   *

— Scully... Scully... por favor, querida! — Mulder chama em voz branda, tentando fazê-la retornar à realidade.

— Dana, minha filha... está sentindo alguma coisa? O que você tem, filha? — Maggie tenta fazer a filha falar algo para aliviar seu coração perturbado

 pela atitude estranha de Dana.

Mulder se ajoelha junto à poltrona onde Dana está sentada em estado depressivo: completamente muda, olhando para o nada.

— O que está acontecendo, Fox? — a mãe chora.

— Senhora Scully, ela não está aguentando essa situação do que aconteceu com nosso filho. E eu me preocupo cada vez mais; com Scully tendo forças

nos faz formar um jeito de agir das melhores maneiras para descobrir o que está acontecendo com nosso filho, mas ela nesse estado eu me sinto...

— ... eu sei, Fox , — fala em lágrimas — é um sofrimento muito grande... eu bem sei!

— Nosso sofrimento é enorme, mas Scully tem que ser forte — suspira, fechando os olhos — e temos que encontrar nosso filho. Não vou desistir.

Mulder senta-se próximo de onde está Dana; fecha os olhos e rememora tudo o que tem em mente a respeito de problemas psicológicos:

"No forte sofrimento são sentimentos negativos como ansiedade, raiva e tristeza que são normais e inevitáveis, mas algumas pessoas não lidam adequadamente

com essas emoções, e, como resultado, sofrem com freqüência incomum ou intensa ou persistentemente.

O tratamento não pode curar distúrbios mentais da mesma forma que os médicos podem curar sarampo ou pneumonia. Em vez disso, as terapias psicológicas e

medicações ajudam o paciente a fazer um controle do distúrbio. Sendo que o envolvimento ativo do paciente é essencial.

As pessoas cujo pensamento e comportamento são tão perturbados que não conseguem atender as demandas da vida diária, tem uma psicose e  o forte sofrimento

são sentimentos negativos como ansiedade, raiva e tristeza que são normais e inevitáveis.

Com o sofrimento, provavelmente também haja considerável consciência. Uma vez que as pessoas neuróticas são incapazes de romper com esses padrões, a vida

delas tende a ser abalada e sofrida.

A ansiedade é um sentimento intenso de perigo iminente que envolve tensão e sofrimento. Embora seja desagradável, indica perigos potenciais, adverte-nos em

relação a algo que pode acontecer. Mas ansiedade também é desorganizada e comumente leva à confusão e à ineficiência."

*   *   *

O homem deitado na cama, olhando o teto clareado pelos feixes de luz do lustre, mantém pernas e braços espalhados.

— E então...? Está menos preocupado agora? — a mulher pergunta, enquanto escova os longos cabelos louros.

— Menos preocupado...?!

— Pois é, ora! O menino está com a gente e nada demais irá acontecer a ele.

— Por que essa certeza, Gilly?

Ela se aproxima e senta na beira da cama:

— O que você pensa fazer, amor?

Ele aperta os lábios e balança a cabeça, num gesto negativo.

Ela fica apertando os lábios com os dedos, pensativa:

— Você acha que, de qualquer forma ele tem que achar a família?

— Claro que sim. — se ergue da cama para fitá-la — Você ainda tem alguma dúvida sobre a origem desse menino?

Ela o fita diretamente nos olhos:

— Está me perguntando sobre ele ter vindo de outra ... ahn... dimensão...? Ahn... eu ... bem...

Ele continua a fitá-la sem desviar o olhar.

— ... sim, Dave... acredito!

 

 

*   *   *

William, tomando o café da manhã sentado à mesa com a família, sente-se um tanto feliz.

— E então, William? Está tudo bem? Como se sente? — Dave pergunta.

— Sim, senhor Dave, estou me sentindo bem, porém...

— ... porém... — interrompe Gilly, aguardando sua resposta.

— Sinto muito falta dos meus pais e quero ir até eles.

O casal se olha, entendendo os sentimentos do menino.

— Compreendemos muito bem sua esperança, William. E pode ter certeza de que a vitória se cumprirá na sua vida. — completa Dave.

— Obrigada, senhor Dave. O senhor vai me ajudar?

— Sem dúvida, menino! Conte com a gente! — exclama Gilly, empolgada.

Saem da sala de jantar.

Já é noite e, naturalmente, não vão deixar o menino sair pelas ruas afora.

Gilly pega um DVD e aproxima-se do aparelho.

— O que você está querendo ver, hein, lindinha? — ele pergunta.

— Você vai ver. — e coloca no dvd-player o disco.

Começam a rodar imagens.

— O quê?! Verdade o que estou vendo?

— Sim, bobinho! Cenas do nosso trabalho no Arquivo-X.

— E pra que lhe interessa ver isso?

— Espera... — e ela fica observando.

Aparecem imagens com o semblante de Dana Scully entristecido por ter dado William em doação.

— Está vendo aí, Dave, quanto sofrimento para uma mãe?

— Claro que estou! Você fez um trabalho extraordinário, por isso é que já foi chamada para diversas filmagens dramáticas. — puxa-a pelo braço — Vem cá.

Ela obedece. Achega-se a ele.

— O que está querendo ver com isso então?

— Pode ser o que você está pensando...

— ... eu?

— Sim, bobo! Eu sei que dentro dessa sua cabecinha está rolando uma grande preocupação de saber que os pais desse menino estão sofrendo muito.

— Acertou!

— E nós temos que achá-los para que fiquem felizes eles e o menino também.

— Exato.

— E ... — ela chega os lábios bem perto dos dele — ... eu sei, agora tenho a certeza de que você está certo, certíssimo... ahn... o William não é daqui ... ahn...

do nosso mundo!

— Ah! Ainda bem que resolveu descartar aquelas idéias de que eu estava sonhando... criando fantasias!

— Sim, meu bem. É isso mesmo.

Vozes das crianças são ouvidas pelo casal.

— Mãe! O William foi pra onde? O que ele foi fazer? A gente pode ir com ele?

— O quê...?! Ele saiu?

— É, sim, mãe. A gente pode ir com ele?

— Claro que não! Fiquem aqui!

Rapidamente Dave chama a moça que toma conta das crianças:

— Fica aqui com eles, por favor! Não os deixe sair de jeito nenhum, tá?

— Pode deixar, senhor Dave.

O garoto mais novo começa a chorar.

O casal sai da casa sem querer ver mais nada. Estão somente preocupados com a saída brusca de William.

— Ele deve estar andando por aqui, claro.

— Sim. — ele responde — Saiu a coisa de poucos minutos.

— E assim à noite é tão ruim ficar um menino na rua... meu Deus!

— Nós vamos achá-lo já. — franze os lábios, aborrecido — Esse menino tem nos dado muito trabalho.

Repentinamente vêem o garoto lá adiante.

— William! — ele chama.

O menino para de andar para atender o chamado.

— Vamos voltar pra casa! Já é noite! O que quer fazer aqui na rua? — Dave pergunta.

— Senhor Dave... eu... senti uma necessidade, assim como uma espécie de chamado dos... meus pais...!

Gilly chega bem perto:

— Não nos deixe preocupados, William. Se acontece alguma coisa com você... nós... — os olhos dela começam a ficar cheios d'água.

— Eu entendo, senhor Gilly, mas é que...

Enquanto o menino vai pronunciando as palavras, parece aos olhos do casal, que seu corpo vai se desvanecendo pouco a pouco, como se fosse uma imagem.

— William!! — o casal chama o menino, para ver a reação de seu corpo — William!!

O garoto continua olhando para eles calmamente, com um sorriso, por mais alguns segundos. Após isso, fala:

— Estou vendo eles...!

— Eles, quem...?!

— Meus pais estão se aproximando... estou tão feliz, senhor Dave!

— William!! — chama novamente e tenta agarrá-lo pelo braço e não consegue.

— Dave, a gente não pode mais tocá-lo! Por que??!!

— Eles já estão perto, senhor Dave! Obrigado pela ajuda! Estou muito feliz mesmo! — e o menino volta as costas para o casal e abre os braços; chora de

felicidade  — Pai! Mãe! — ele grita.

— Não posso acreditar no que estou vendo! — Gilly fala.

Dave está mudo; indeciso; não tem certeza se entende a cena que está vendo ou não.

E a imagem do garoto vai se apagando no espaço.

 

"Quando se chora de prazer é porque

no coração há uma vibração que, mesmo

com prazer, nos dói."

Campoamor