ELA PENSA,  EMOCIONADA

 

"Não é prudente ter muita confiança

nas palavras pronunciadas

em momentos de emoção."

Goethe

 

Capítulo 354

 

Dana acabara de sair do banho; seus pensamentos a levam até o momento em que ela e Mulder tinham avistado seu filho.

"— Mulder, o que é aquilo? — havia ela chamado a atenção dele.

— Não sei, Scully... bem... eu...

— O que está querendo dizer? — pergunta, notando que ele está como que hipnotizado, observando a cena.

— É que aquela espécie de nuvem assim tão... tão densa e a pouca altura do chão...

— ... sim, bem estranha...

E Mulder vai chegando até a nuvem que vai se alastrando pela parte da calçada, que àquela hora está bem deserta.

— É ele, Scully! Nosso filho, Scully! — grita Mulder.

— Estou vendo!! — grita também e corre em direção da imagem que vai surgindo no local."

Dana, enquanto escova os cabelos, tem os olhos rasos d'água relembrando o reencontro com seu amado William.

"Meu filho é parte da minha própria vida." — pensa, emocionada.

Ouve a porta se abrindo.

— Oi! — Mulder acaba de entrar.

Ela sorri. Une os lábios, enviando um beijo para ele.

Mulder se joga com força no leito.

— Que alívio, meu Deus! — ele murmura.

— Nem fala, Mulder! Acho que eu não aguentaria a perda do meu filho; e Vivian também sofreria... eu sei.

— Scully, nós já tivemos nosso filho longe de nós e se acontecesse agora... eu não sei...!

Ela se aproxima do leito e senta:

— E o que ele nos contou... não é impressionante? Nunca pensei ouvir coisas assim.

— O casal que o abrigou... — dá um sorriso — ... olha, Scully, a vida é um mistério e nos leva a entender que uma magnífica e

estranha situação nos cerca a cada segundo.

— William gostou demais deles, Mulder!

— Claro! Trataram-no com amor!

— E são iguais a nós! Incrível isso... incrível!

Mulder a abraça, fazendo com que ela se deite junto a ele.

— Bem, agora está tudo bem, amor. Seu coraçãozinho deve ficar em paz, hein?

— Sim... sim! — ela se deixa acariciar.

Mulder lhe mordisca a orelha.

Ela dá risadinhas de prazer.

— Mulder... — murmura.

Ahn...?

— Eu quero...

— ... eu também... — ele cola os lábios aos da amada.

 

 

*   *   *

 

— Agente Scully!

Dana ouve o chamado e cessa os passos.

O homem se aproxima:

— Agente, boa tarde! Enfim a encontrei!

— Pois não, Agente...? — ela inicia.

— ... Morgan. Acabo de chegar. Fui encaminhado para cá e conforme solicitação do Diretor Kersch.

— Certo. — ela sorri; estende a mão para ele.

Morgan lhe segura firmemente a mão:

— É um prazer imenso conhecê-la, Agente Scully. — diz, com olhos fixos nela e ainda a segurar-lhe a mão.

Dana aperta os lábios; retira a mão que o outro deseja, ainda, mantê-la unida à sua.

Aaahn, Agente Morgan, eu preciso ir; estou cuidando de um assunto urgente. Com licença!

E se afasta em passos rápidos.

No escritório, Mulder, examinando vários papéis sobre a mesa, tem o olhar fixo ali, a fim de encontrar o assunto do qual necessita.

— Mulder...? — Dana entra na sala.

Ahn? — responde sem olhá-la.

— Achei o endereço que estávamos procurando.

— Ótimo, Scully. — levanta o olhar.

Ela coloca um papel sobre a mesa e se senta. nota que ele a está fitando demoradamente.

— Que foi...?

— Minha Dana, você está mais bonita hoje do que normalmente. — falando, ele fixa seus olhos perscrutantes sobre ela, enquanto

deixa os lábios entreabertos — Será que vou resistir a ...?

— Ei, Mulder! Acorda! Estamos no trabalho, esqueceu?

Ele sorri.

— Te amo, lindinha.

Ela se debruça sobre a mesa:

— Eu também te amo... demais!

Mulder se levanta rapidamente. Dá a volta pela mesa e a segura pelos braços.

— Mulder... pára! — murmura.

— Agente Mulder! — vem a voz através da porta que se abrira.

Rapidamente o casal de Agentes se separa.

— Agente Reynold, tudo bem?

— É, Agente Mulder, já recebemos a mensagem que você nos havia enviado sobre a investigação.

— E então? O que foi resolvido? — Mulder faz sinal para que o outro se sente.

— Quem vai lhes acompanhar nesse caso é o Agente Morgan.

Dana ouve o nome mencionado. Suas narinas se ampliam pela raiva que sente. Morde os lábios; já sabe de quem se trata.

— Certo. E ele já está aqui no Bureau?

— Sim. Vou chamá-lo.

— Mulder... — Dana se aproxima — aahn... vou até à sala do Skinner. Ele quer falar comigo. — diz isso como forma de sair dali

naquele momento.

— Ok, Scully. — Mulder fala, voltando o olhar para o colega — Então traga o Agente Morgan até aqui.

E resolve continuar a verificar sua papelada espalhada sobre a mesa.

— Agente Mulder, estou de volta. — diz Reynold — E estou trazendo o Agente Morgan.

Mulder se levanta para cumprimentar o recém-chegado.

— Como está, Agente Mulder? — fala Morgan.

Mulder o convida a sentar.

— E então? Por que a decisão de nos acompanhar nessa investigação?

O outro dá uma risada, demonstrando satisfação:

— Eu quero trabalhar um pouco aqui com vocês, mas quero também ter um pouco de liberdade.

— Liberdade?! — os dois Agentes exclamam.

— Calma, Agentes. Vou explicar; eu estava trabalhando num local onde estava sendo muito cobrado, sabe... e quero respirar um

pouco, ver novas caras perto de mim...

Mulder já havia levantado as sobrancelhas e pousara o dedo indicador acima dos lábios, num gesto de dúvida.

O Agente Reynolds, por sua vez, abrira a boca, surpreso com as palavras do outro.

— E aqui — continua — já vi que a barra vai ser menos pesada; as Agentes são maravilhosas... e hoje conheci uma que é

realmente um encanto.

Mulder o observa a falar, com o cotovelo pousado na mesa, mão segurando o queixo e olhos semicerrados. E logo explica:

— Olha aqui, Agente Morgan, se pensa que aqui no Bureau a coisa é fácil, está errado. Somos cobrados a todo momento, pode crer.

Morgan levanta as mãos:

— Espera aí. Não levem muito a sério o que estou falando, colegas! — dá uma risada.

— Bem, espero que entenda o que o Agente Mulder está querendo lhe dizer, Agente Morgan. — fala Reynolds.

Morgan ri, novamente, levantando as mãos.

— É o seguinte então: — começa Mulder — Você vai conosco para  Maryland.

— Certo. — olha para Reynolds — Você faz parte da equipe, não é?

— Não; o Agente Mulder trabalha com sua parceira, a Agente Scully.

Reynolds arregala os olhos.

— Ora... eu não imaginava! — sorri, com ar prazeroso.

Mulder vai lhe mostrando documentos que estão espalhados sobre a mesa.

 

"Um homem crédulo

é um enganador."

Francis Bacon