NADA DE DIVERSÃO!

"Nada é mais maçante do que

a obrigação de ser divertido."

J. Petit-Senn

Capítulo 355

 

Mulder a arranca rapidamente o paletó.

— Pai!! — grita Vivien, correndo até ele.

— Minha queridinha...! — murmura, abraçando-a e tomando-a nos braços.

— Me solta, pai, porque vou brincar lá fora. — diz a menina.

Ele a deixa no chão.

Vai entrando em seguida; retira os sapatos, pegando-os e colocando-os próximos à porta. Segue somente com meias pela casa a dentro.

Vê o filho diante do lap-top,concentrado.

— E aí, filho? Se divertindo com o jogo?

William vira a cabeça para olhar o pai:

— Não, pai! Nada de diversão. Estou acessando um assunto importante.

Ah,sei...! — o pai fala, fingindo acreditar.

Mulder prossegue seus passos. Vai até a copa. Pega água para beber. Quando termina levanta o pescoço, para esticá-lo, soltando um suspiro.

Dana se aproxima; cessa os passos. Fica olhando para o amado com semblante emocionado.

Mulder pressente a chegada dela no ambiente:

— Oi Lindinha!

— Oi.

Ele retira a camisa.

  Tudo bem?

— Sim. Tive um dia tranquilo, claro! Sem ir para o Bureau tudo fica mais fácil. E você?

— Seguindo... — olha com atenção para ela — ... não sei porque, hoje seu semblante me faz lembrar coisas de há muito tempo atrás.

— O quê...?

Ele se senta junto à mesa:

— Eu cheguei e você, com ar triste me recebeu.

Ela ri:

— Mesmo? Por que?

— Bem... — puxa-a para perto de si — ... conversamos sobre sua infertilidade, sua impossibilidade para ter um filho...

— Ah, sim, Mulder... — se agarra a ele com carinho — ... e você me disse uma frase que jamais esquecerei em toda minha vida!

— Verdade? Nossa! O que eu falei, Scully?

Ela aproxima bem os lábios do ouvido dele:

— Nunca desista de um milagre . — sussurra.

Mulder a aperta entre os braços, afagando seu corpo com doçura.

— Falei bem, não acha, lindinha?

Ela somente movimenta um pouco a cabeça, deixando-se ficar mais apertada entre os braços ardentes do amado.

— E o nosso milagre está ali adiante se divertindo num lap top.

Ambos riem.

Ele a afasta do seu peito um pouco:

— Espera aí. Seus olhos estão inundados de lágrimas...!

— De emoção; só de lembrar aquele momento, Mulder.

Ele a abraça novamente:

— Pois vamos relembrar...

— ... Mul... espera... — ela murmura enquanto ele lhe procura a boca.

— Fox! Dana! — a voz vem até eles.

O casal se separa.

— Diga, mamãe. — fala Dana à Maggie, que chegara ali.

— Olha, William estava me contando que adorou o casal que o abrigou naquela semana; mesmo que o homem duvidasse das coisas

que ele falava, meu neto tinha todo o apoio da mulher. E eu perguntei: ela era bonita? Como era essa mulher?

O casal se entreolha.

Maggie continua:

— E ele me respondeu: a cópia perfeita e exata da minha mãe, assim como o homem era a cópia perfeita do meu pai. — coloca a mão no peito.

— Nós sabemos disso, senhora Scully. — confirma Mulder.

— Mas meu Deus, como pode ser isso?

— Senhora Scully, verdadeiramente é difícil entender o que o seu neto viu e ouviu.

Maggie continua com a mão no peito, ofegante.

Dana se aproxima para afagá-la:

— Mãe, neste universo existem mundos de todas as formas; é algo inexplicável para nosso entendimento. Seu neto esteve em algum lugar que

nós, simples seres humanos, não podemos definir exatamente o que significa, onde se pode encontrar... sabe? Tudo muito complicado.

Mulder observa Dana dando explicações a Maggie; sente, intimamente, uma grande satisfação ver que sua parceira de trabalho, sua amada, em tudo

agora concorda com seu modo de pensar, mesmo as coisas mais absurdas que se possa imaginar.

— Mas eu não entendo, Dana! Ele fala sobre outra dimensão... sei lá!

— E o que entende sobre isso, senhora Scully? — Mulder quer saber.

— Parece que ele quis dizer... outro mundo...?!

Ele apenas franze os lábios.

Dana levanta as sobrancelhas e suspira.

— Sem William ter sido levado por um avião, um helicóptero ou mesmo um disco voador...! — Maggie ainda fala.

O casal continua sem palavras, somente olhando para Maggie.

 

*   *   *

 

Mulder, espalhando várias pastas sobre a mesa, ouve baterem à porta.

— Pode entrar... quem estiver a fim de falar com um enrolado aqui!

— Agente Mulder, boa tarde. — cumprimento o recém-chegado.

— Ah, tá. Espero mesmo que seja uma boa tarde, Agente Morgan.

O outro dá uma risada:

— Estou pronto para enfrentar os problemas do Arquivo-X.

— Tem certeza?

— Completa.

— Vamos lá, então. — arruma uma pilha de pastas.

— Que hora sairemos da cidade? — Morgan pergunta.

— Às 10 horas, mais ou menos.

A porta é aberta e Dana entra na sala. Vê o Agente Morgan e o sauda:

— Bom dia, Agente Morgan.

— Oh, oh! Bom dia, Agente Scully. — ri e aponta um dedo para o casal de Agentes — Desculpe a intromissão, mas reparei que só cumprimentou

a mim; já viu o Agente Mulder hoje?

Mulder ergue o olhar na direção do homem, sem movimentar a cabeça.

Ahn... Agente Morgan, por favor, exijo que uma boa educação faça parte da sua convivência ao nosso lado, ok? — fala, fitando-o fixamente,

levantando as sobrancelhas.

Morgan se aproxima, fitando Dana com um sorriso sarcástico nos lábios.

— A Agente Scully é, realmente, bem autêntica, não?

Mulder havia levantado o rosto ao ouvir a frase do colega:

— Não tenha dúvida, Agente Morgan. — levanta, agitando papeis — E vamos começar a dar tratos à bola, a fim de resolver o mais rápido possível

o caso a ser investigado.

Dana continua de pé ao lado de Mulder. Cruza os braços.

— O Agente Reynold me falou que você costumava comer sementes de girassol, Agente Mulder; verdade?

Dana olha de soslaio para Mulder.

— Ora, ora, que assunto deveras importante para iniciar nosso trabalho! — Mulder responde, fingindo bater palmas.

 

"A dúvida é indigna do homem."

Cícero