A VERDADE QUE NÃO ESTÁ LÁ FORA

 

"A verdade é, as vezes, mais

inverossimil que a ficção."

Camilo Castelo Branco

 

Capítulo 363

 

 

Mulder, enquanto lê o jornal, deixa ligada a tv.

— Pai! — chama William.

Ele olha o filho chegando até ele:

— Oi, filho! Tudo bem?

— É... acho que sim, desde que...

O pai o olha com atenção, aguardando o restante da frase.

— ... desde que você me conte a verdade.

— Verdade...? Do que está falando, filho?

— A verdade que não está lá fora!

— Tudo bem. Ok! Mas do que você está falando?

— Do alien, pai! Do alien!

— Que alien?

— Pai, por que você não me fala a verdade? Seu falso primo é um alienígena.

— William! Para com isso!

— Não, pai. De jeito nenhum. Vou continuar. Se você não quiser me falar, tá bem, porque já sei que aquilo lá é um alien e você finge que é seu parente.

— Para com isso, William! Já falei!

Mulder joga o jornal para o lado, fitando o menino. Balança a cabeça, chateado:

— William, meu filho, presta atenção...

  ... sim pai! Estou prestando atenção ao que você agora vai me dizer; vai contar a verdade.

O pai o puxa para perto de si, fazendo-o sentar ao seu lado.

— Pai, vou falar então. Não precisa você me dizer nada, afinal de contas. É o seguinte: quando chegamos da praia, o Joe estava .

— Estava o quê...?

! Sem roupa, isto é, a roupa que ele põe naquele corpo, pra fingir que é igual a gente. Nisso tudo, as partes íntimas dele não aparecem, justamente

porque ele coloca aquela roupa em tecido colante, ou melhor, a pele artificial, usa luvas; usa uma máscara; está sempre vestindo camisa de mangas

compridas e...

— Chega! Para! — o pai se levanta e, com mais calma fala — Olha, filho, deixa eu explicar: Joe fez uma cirurgia para mudança de sexo, mas não deu certo.

Ele ficou até um tanto...

— ... traumatizado! — o menino conclui, cruzando os braços.

— Isso mesmo, filho.

Agora William encara com firmeza o pai:

— Pai, agora sou eu quem lhe peço: para! Não dá mais para enganar a mim e a minha mãe também. Eu sei a verdade. Esse ser é um alienígena.

Só não entendo é como e porque você o trouxe aqui  pra nossa casa!

O Agente acabara de ouvir as palavras do filho se jogando na poltrona; as mãos cruzadas entre as pernas largamente afastadas; cabeça baixa.

— Não vai me falar nada, pai?

— Não precisa, meu filho! — a voz ressoa no ambiente.

Dana acabara de chamar a atenção de seu filho, pois havia chegado momentos antes e então ouvira a conversa entre os dois.

— Mãe! Você ouviu nossa conversa...?!

— Claro, filhinho!

— E o que...?

 — ... não me pergunte o óbvio! Eu já tinha a certeza do caso daquela criatura.

De repente uma voz ressoa:

gjuy! uoe9puy!

Todos se voltam para olhar.

— Joe! — exclama Mulder, vendo-o chegar.

— Sim, atendo por esse nome, mas vocês já estão sabendo quem eu sou.

— Sabemos, sim, que você está passeando no nosso planeta.

— Não! Não estou só passeando. Quero levar alguém comigo.

— O quê...?! — Dana agarra o filho com força.

— Já estive lá no seu planeta e não gostei! — diz Mulder.

— E por que? — quer saber o alien.

— Achei suas ET's muito magrinhas! — afirma, apertando os lábios e olhando para Dana.

— É que nós não usamos comer tanto carboidrato quanto vocês. — responde Joe.

Agora o alien olha fixamente para Dana:

— Acho que vou levar sua parceira... — dirige-se depois para olhar Mulder.

— Não!! — o menino agarra-se à mãe, apavorado.

Dana acaricia o filho, acalmando-o. Em seguida se volta para o alien.

— Ah, por favor, não! Eu sou alérgica! Não posso voltar lá!

— E por que não? — pergunta Joe.

— Porque lá fiquei o tempo todo deitada e minha barriga cresceu... cresceu...!

Mulder vai para junto de Dana e seu filho.

— Eu, de minha parte, digo que seus aparelhos de fisioterapia são muito desagradáveis.

O alien olha para os três à sua frente:

— Sabe, Agente Mulder, vocês tentaram me ajudar aqui neste seu planeta tão complicado e por isso...

Mulder aguarda com ansiedade a continuação da frase do ET, enquanto Dana, com os olhos cheios de lágrimas, agarra cada vez mais seu filho.

— ... por isso desisto de carregar comigo qualquer um de vocês.

— Obrigado, Joe! — o Agente suspira aliviado.

— E lembrei que posso ter a ajuda de uma coisa que vai me fazer voltar ao meu planeta.

— Sério...? — Mulder está contente.

— Sim, na minha nave que caiu, tenho um dispositivo de comunicação.

— Então, Joe, é isso mesmo! Vou te ajudar! — fala Mulder, com entusiasmo — Vamos até lá.

— Certo, Agente Mulder. Vamos lá.

Dana segura o amado:

— Não, Mulder! Não vai! Fica aqui.

— Fica com a gente, pai! — pede o filho.

O Agente abraça os dois.

— Calma... tenho que ajudar esse cara. Não se preocupem. Vai dar tudo certo.

— Mulder... — reinicia Dana.

Ele coloca um dedo sobre os lábios dela.

— ... volto logo, amor. — ele murmura e fala para Joe — Vamos agora, Joe.

— Não! Não agora, Agente Mulder. Só quando tudo ficar escuro.

— O que quer dizer?

— Sim, o que vocês chamam de noite.

Aaaah, à noite?

— Sim, isso.

— Conta comigo, Joe. Vou te ajudar, pode acreditar.

 

"Uma casa sem filhos é

uma colmeia sem abelhas."

Victor Hugo