LER A ALMA DA PARCEIRA
"O
alimento da alma é a
verdade e a
justiça."
Fénelon
Capítulo 370
Dana entra no quarto:
— Estou cansada! — suspira.
— Vem aqui. — ele dá uns tapinhas no
colchão.
— Ah! Ah! Você me fez lembrar uma coisa,
Mulder.
— Mesmo...? O quê? — coloca os braços
sob a cabeça.
Ela senta ao lado dele:
— Há muito tempo, naquela cidadezinha
chamada Arcadia, eu era apenas sua parceira; então
chegando no quarto,
você me chamou pra deitar junto, na
cama.
— Ah, lembro dessa! E a minha parceira
não queria nada comigo. Não era nada fácil.
Ela joga o rosto sobre o peito dele:
— Mas depois ela assumiu que amava
demais aquele cara! — continua, murmurante — Ela chegou à conclusão que não
daria pra resistir.
— Pois é; por que seria, hein?
— Ahn... —
suspira — ... os olhos dele, esquadrinhadores,
tentando ler até a alma da parceira, aqueles lábios muito
bem desenhados — toca com as pontas dos
dedos tocando levemente o rosto dele — e aquela voz, ai... aquela voz
sussurrante...!
— Ei! É assim que você me descreve? Que
bom!
Ela o fita firmemente. Calada.
— O que houve, Scully? Por que essa
carinha?
— Você sabe muito bem! — diz, com ar
sério.
Ele a agarra, fazendo-a grudar-se ao seu
corpo:
— Eu sei, tolinha! Você gosta de me
dizer isso.
Ela suspira:
— Mulder, mas voltando àquele assunto de
outro dia, me fala sobre cores.
— Como assim?
— Descreve pra mim o que significa a
esta cor que estou usando na minha roupa agora.
Ele observa o quimono que ela está
usando; abre um pouco a aba do decote.
Ela sorri:
— O que está querendo? Eu estou falando
sobre a cor da minha roupa e não minha pele!
— Hum, hum...! — ele se afasta um pouco
— Sua roupa é azul; então olha só: essa cor é a preferida entre as cores. É a
preferida de 46% dos homens e 44% das
mulheres. Não existe quase ninguém que não goste de azul. Repara só: por seu
efeito calmante, é uma cor que se adequa bem nos dormitórios. Só não pode ser vista nos
alimentos e bebidas.
— É verdade, Mulder!
— E é a cor da simpatia e da harmonia.
Veja só: o céu é azul; portanto azul é a cor do divino, a cor eterna. Então
deixa eu
contar outra coisa; você já ouviu falar
em "bilhete azul", não é?
— Sim, Mulder! Para caso de comunicados
judiciais...
— ... isso mesmo, Scully. Então esse
negócio de "bilhete azul" começou assim: antigamente os diretores de
escolas comunicavam
que o aluno teria que repetir o ano,
enviando dentro de um envelope azul. Hoje em dia mudou tudo para papel
reciclado
acinzentado, porém a expressão
"bilhete azul" se conservou.
Dana estica o corpo, colocando os braços
sob a cabeça:
— Mulder, você gosta dessa cor ou faz
parte daqueles que a dispensam?
Ele se debruça sobre ela, beijando-a no pescoço:
— É... gosto dessa cor, sim; é a cor da
paz. Sabe que a expressão "sangue azul" com referência à nobreza, é
internacionalmente usada e o termo vem
do espanhol?
— Mas por que usavam esse termo, se o
sangue nada tem de azul? — ela ri.
— Foi assim: os nobres da Espanha tinham
a pele muito mais clara do que os plebeus. — passa os dedos no braço dela -
Assim como você.
Novamente ela dá uma risadinha.
— E então se protegiam do sol para não
prejudicar a pele. Então a pele muito clara realça as veias azuladas. Daí os
camponeses,
com suas peles escurecidas pelo sol,
acreditavam que pelas veias dos nobres corria sangue azul.
— Oh, meu Deus! Fantástico aprender
isso, Mulder!
— Mas espera aí! Deixa eu te falar outra
coisa: na China, na Ópera de Pequim, o rosto pintado de azul era caracterização
tradicional de personagem malvado e
selvagem. Lá o azul não é apreciado.
— Não me diga!
— Verdade, Scully. Mas agora quero
descrever o que significa a tonalidade azul dessa sua roupa; essa cor
representa o que
ela significa: simpatia, harmonia, mas
pra mim tem um simples significado...
— ... qual?
— Desejo.
— Huum... já
entendi. — ela puxa a camisa dele — Você veste a cor marrom dessa camisa e
então significa o quê?
— É a cor do aconchego, mas também... —
ele para.
— E o que mais quer dizer?
— É a cor da burrice.
— Nãaaaao! E
então...?
— Então... pra mim nada significa se eu
não fizer agora o que tenho vontade.
— Ah, sei!
— As crianças já estão dormindo?
— Com certeza.
Ela se levanta rápido para fechar a
porta.
"Se
querem mal a uma mulher,
deixem-na
fazer todas as vontades."
Young