ACONTECIMENTO
“O
medo de um acontecimento é
sempre mais insuportável que o
próprio acontecimento.”
Stefan Zweig
Capítulo 373
Dana observa com atenção o quadro que
simboliza um Triângulo; ela olha Mulder de revés:
—
O que você quer dizer com isso?
—
Até parece que você não sabe dos acontecimentos que passei no Triângulo das
Bermudas.
—
Ah, isso! — ela o fita com seu ar cético.
—
Foi inesquecível tudo que passei ali, Scully! E no final de tudo foi pior
ainda!
—
Pior...?! Mesmo? O que aconteceu, que eu não sei,
Mulder?
Ele
para de dar passos para fitá-la:
—
Sabe e sabia muito bem e fingia não entender.
—
Nossa! Do que está falando? Não entendi.
Ele
a fita mais ardentemente:
—
Você bem que sabe, Scully. Tente lembrar o que você
fez comigo.
Os
olhos dela se enchem de lágrimas. A emoção toma conta de seu coração. Chega
mais perto dele, colocando as
mãos
no seu peito:
—
Me fala, amor... o que fiz de
mal a você?
—
Eu estava num leito do hospital, despertando do problema imenso que havia
acontecido comigo, que quase deixei
este
mundo naquele mar.
—
No hospital...?
—
Sim, claro! E você lembra, sim, das minhas palavras finais.
—
Ah, meu Deus, eu não lembro... espera! — ainda o
fitando intensamente — Haan... você
estava mal e eu tentava
com
carinho lhe fazer sentir-se bem... superar tudo... ter forças...
— ...
não! Me senti muito mal! —
interrompe.
Os
olhos azuis de Dana deixam correr lágrimas que descem lentamente por sua face.
—
Não acredito no que você está falando, Mulder... não
fiz nada contra você!
—
Fez, sim! — ele a aperta contra o peito.
—
Mulder... — a voz emocionada dela não a permite terminar a frase.
—
Scully, minha amada... — ele a beija suavemente nos lábios —
...o mal que você me fez foi não entender eu dizer
que
a amava... que a amo... que
sempre a amarei!
—
Mulder... — ela o fita, querendo entender — ... eu...?!
—
Sim. Quando você ia saindo eu falei: eu
te amo, mas você só
fez me dar as
costas e sair rápido dali.
— Oh, meu Deus! —
agora ela novamente aperta o rosto contra o peito dele — Eu sempre, sempre te
amei, Mulder!
Se
agi assim, acho que foi por
temor de que você descobrisse que eu já estava completamente apaixonada por
você!
Não podia ficar sem
você! Andei desesperada, procurando-o, porque não podia perdê-lo!
Ele sorri,
afagando-a.
Neste exato momento
é que despertam de seu momento íntimo e correm a vista ao redor.
— Nossa! Felizmente
aqui nesta sala não tem ninguém!
— E o que tem isso,
Scully? Se alguém tivesse que assistir nós dois assim,
neste amor incomparável, só iria sentir inveja.
Ela tenta sorrir.
— Vamos lindinha,
vamos continuar a ver esses quadros expostos aqui.
— Sim, Mulder —
suspira — puxa vida! Fiquei tão perturbada...!
Olham-se e
recomeçam a caminhar, examinando a parede.
— Vamos então, ver
o significado do Triângulo — ele a puxa pela mão — Veja só o que vou explicar:
na antiguidade
o triângulo era visto como símbolo da luz. No
Cristianismo ele é um símbolo da Trindade, relacionado diretamente
com a mão, a cabeça e o olho ou o nome hebraico de Deus.
Para os maçons isso símbolo de força, beleza, da sabedoria de Deus.
— Interessante, Mulder.
— Olha esse aqui,
Scully.
— Um Berço! —
entreolham-se com emoção, lembrando de seu filho
William, e de tudo que tinham passado no tempo de
sua perda, mas prosseguem normalmente.
— Bem, esse símbolo
significa o seio materno e da segurança da primeira infância.
— Olha esse aqui da
Chuva, Mulder. E aí?
— Esse aí é o
símbolo das influências celestes recebidas pela terra; símbolo da fertilidade.
Gotas de chuva equivalem ao
esperma dos deuses
de certos povos.
—
Scully, estou agora um tanto...
— O quê, Mulder?
—
... ansioso!
— Por quê? — está
admirada, sem entender.
— Doido pra voltar
pra casa.
— Ora, mas se ainda
temos tanta coisa pra ver aqui, Mulder!
— Mas a ansiedade
de te agarrar, beijar, está me matando!
Dana dá risadas.
— Calma, menino! Já que você me trouxe aqui, agora vamos até o
fim, depois tudo se poderá resolver com calma... e
muito carinho!
“Matamos
o tempo;
o tempo nos enterra.”
Machado de
Assis