A MINHA CIENTISTA ESPERTA
“Aquele
que ama a ciência
nunca dela se farta.”
Capítulo 375
Dana entra na saleta.
Mulder está com os olhos fixos na tela
do notebook.
—
Você quer um chá, Mulder?
Ele
não responde e continua fixando a tela à sua frente.
Ela
põe as mãos na cintura; bate, levemente a ponta do pé
no chão.
—
Mulder, está me ouvindo?
—
Ahn...? — responde, sem olhar.
—
Estou perguntando a você se quer tomar um chá.
Ele
apenas faz um gesto com a mão, movimentando os dedos em sua direção:
—
Vem aqui, Scully! Vem ver uma coisa!
Ela
se aproxima:
—
Olha só, Scully, encontraram o corpo de uma mulher coberto de um negócio
verde-acinzentado.
Ela
acompanha o olhar dele na tela:
—
Qual é o problema, Mulder?
—
Por que você fala isso? Não está vendo isso aí, Scully? Não é normal!
Ela
se afasta:
—
Nossa! Como você anda esquecendo rápido as coisas! Não lembra
do que lhe expliquei naquela ocasião?
—
Do que você está falando?
—
Daquele corpo de mulher encontrado... a Maria... —
tenta lembrar e não consegue.
—
Dorantes.
—
É isso! Já esqueceu do que foi explicado na ocasião,
Mulder?
—
Mas esse corpo mostrado aqui está estranho, Scully!
Ela
novamente se aproxima da tela:
—
Claro, Mulder! Isso é normal; é um mofo que está em
toda parte — em adubos e folhas mortas, em paredes e na poeira caseira.
É
o Aspergillus.
—
O Asp... o quê?!
—
Aspergillus. E se você liga um ar-condicionado no
verão, milhares de germes do Aspergillus saem pelos
ventiladores.
—
Que coisa, Scully! — ele se afasta do notebook — E que fantástica mulher é esta
minha amada! — a acaricia com ternura.
Dana
o beija no pescoço.
—
Descobrem cada coisa terrível que acontece em nossa vida! Gosto de saber disso.
E você sabe como foi que descobriram esse tal
de
Asp... o quê...?
—
Aspergillus, Mulder! Em 1969, na Inglaterra, houve
uma epidemia de morte de perús. As aves estavam
morrendo de montão...
— ...
e ninguém conseguia descobrir a causa?
—
Certo. Não descobriam o motivo da morte das aves, até que chegaram
à conclusão que nas fornadas de amendoins no chão, estavam
repletas de aflatoxin e os coitados dos perús morriam como moscas.
Mulder
segura Dana, para fazê-la sentar com ele num sofá.
—
Agora a minha cientista esperta vai me falar mais
sobre essas coisas...
—
Está a fim de escutar mais sobre ciência?
—
Sim, estou. — estica o corpo sobre o
sofá, deitando e colocando a cabeça sobre o colo dela — Fala mais, lindinha.
Ela
o acaricia nos cabelos:
—
E olha só, se não fossem as folhas dos salgueiros tropicais, não haveria a
aspirina; sem a floresta tropical australiana, não haveria
árvores de cortiça; daí nada de escopolamina para
evitar náuseas, enjoos. E sem a árvore do quinino, não haveria a cura da
malária.
—
Então nas florestas está a cura para muitas doenças?
—
E não só as doenças, mas também não haveria o chocolate, café, sorvete. Metade
das drogas medicinais do mundo é originária de plantas
selvagens. Por outro lado, os fungos e vírus estão por toda parte. Como seres
humanos, gostamos de pensar que somos donos de nossos
corpos. Mas nossas entranhas são divididas por esses bilhões de bactérias: em
nossas bocas, orelhas, nariz, estômago e pele.
— ela está
falando tudo isso de olhos fechados e acariciando os cabelos do amado — Você
deve estar lembrado do homem que tinha bolhas no corpo
e
o pus que saía delas transmitiam a doença do F.emasculata...
Dana
está ainda fazendo
sua narrativa, quando direciona o olhar para Mulder e o vê dormindo, tranquilo,
enquanto ela narrava
seu
conhecimento sobre ciência.
Com
carinho, acaricia-o na testa, sorrindo, e pende a cabeça no encosto do sofá,
fechando os olhos, resolvendo também descansar por alguns
momentos.
“Os
homens são como os vinhos:
a idade azeda os maus e apura os bons.”
Cícero