ELE CAI NA RISADA
“ Ride! Ride!
Porque o riso
é próprio do
homem.”
Rabelais
Capítulo 377
Dana acaricia o cabelo do amado:
—
Você quer tomar um chá?
—
Hum... muito bom; vai fazer
agora?
Ela
faz sinal positivo com a mão, sorrindo.
—
Tá, Scully; não precisa me xingar.
—
Ahn...? Eu falei alguma coisa?
Ele
cai na risada, jogando a cabeça para trás:
—
Se você estivesse no Brasil, seria a abreviação de um palavrão, fazendo esse
gesto, encostando a ponta dos dedos polegar
e
indicador, formando um círculo.
—
O quê...? — ela arregala os olhos.
—
No Japão significa valor financeiro, moeda, dinheiro.
—
E na França?
—
Ah, lá é algo sem valor, igual a zero. E tem mais...
— ...
fala, que estou gostando de aprender.
—
É que na Turquia indica que alguém é homossexual.
—
Ah!Ah!Ah! Cada país tem um modo de vida, de se expressar, né
Mulder? Interessante.
—
Scully, tem uma comunicação gestual que é demais! Quer saber?
—
Claro, Mulder!
—
Fazer assim com sua mão, imitando uma figa...
— ...
sim e daí?
—
Olha só, no Brasil quer dizer que se tem pela frente alguma coisa promissora,
de boa sorte. Na Croacia o oposto, algo
sem
valor ou negativo. — fala assim e começa a rir.
—
Tem mais sobre isso? Por que está rindo?
—
Tem, ah! Ah! Ah! Na Turquia e na Grecia significa
obsceno; mas tem mais...
— ...
fala, Mulder! Estou curiosa! — começa a rir também.
—
Bem, é que na Tunísia e Holanda representa o pênis.
Dana
cai na risada.
—
E você não vai acreditar noutra.
—
Fala, então. — continua rindo.
—
Olha só, se você faz assim: — movimento o dedo indicador esticado, em círculos,
na região da têmpora — então aí...
— ...
sim, Mulder, significa o quê?
—
Aqui nos nosso País e no Brasil quer dizer que alguém está fora de si,
enlouqueceu, na Argentina indica a vontade de falar
com
outra pessoa...
— ...
como é que pode? Cada lugar cria uma realidade
diferente!
—
Mas é assim o mundo, Scully. E esse mesmo gesto na Alemanha sinaliza
barbeiragem no trânsito.
—
Agora imagina só, Mulder, se, por exemplo, um guarda de trânsito da Alemanha
estivesse aqui no nosso País e ao chamar
a
atenção de um motorista, fizesse esse gesto, daí haveria confusão, já que o
homem que estivesse dirigindo, sendo americano,
iria
achar que era um xingamento, sendo chamado de louco!
Ele
a fita com carinho:
—
Dana...
—
Aaai... —
suspira — ... adoro quando
você me chama assim...!
Ele
a puxa para junto de seu corpo.
—
Huum... você está inspirado
hoje.
—
Scully, junto de você estou sempre inspirado, porque
você me demonstra o que eu preciso sempre: muito amor, companheirismo,
dedicação, compreensão.
Ele
se aperta contra o corpo dele:
—
Mulder, eu só queria entender porque a imprensa se interessa tanto em vasculhar
nosso trabalho no FBI, mas sobretudo para
falar
que estamos separados, que não vivemos juntos... o que
será que significa tudo isso?
—
Eu sei.
Ela
o fita, com ar preocupado:
—
Sabe...?
—
Sim, Scully, a inveja desorienta qualquer pessoa; porque o mundo está dominado
pela frieza, o desamor, a insensibilidade... não
há
pureza de sentimentos; só existe o oposto de tudo isso. Então o que acontece?
As pessoas lançam, inventam notícias desagradáveis
sobre
aqueles de quem eles sentem esse terrível mal, que é a inveja. Milhões de
pessoas sofrem por amor, incompreensão, daí cuidam
de
inventar histórias más sobre aqueles que, realmente, conhecem e vivem a
felicidade.
Ela
o fita, embevecida:
—
Falou e disse, amado meu!
“A história é o testemunho dos tempos.”
Cicero