QUEBRA O SILÊNCIO
"O reino do silêncio está em toda
parte, menos em nosso coração."
Vargas Vila
Capítulo
378
O céu escuro mostra as reluzentes estrelas que
piscam ininterruptamente. De vez em quando o ruído de veículos na estrada
quebra o
silêncio,
o qual, normalmente, é somente cortado
pelo som dos grilos, que ecoa pelo
espaço.
Dana,
acariciando os cabelos do amado, deixa que seus pensamentos a levem a sonhar
acordada. Momentos de paz, amor, tranquilidade
no
coração, isso tudo a faz sentir-se feliz.
— Huum...
— O
que foi, Mulder?
—
Nada; por que pergunta?
—
Você gemeu...
—
... de prazer, Scully.
Ela
ri.
—
Falo sério! Prazer de estar no seu colo, assim... como um garotinho...
—
... sendo acarinhado...!
—
Sim! O tempo passa Scully, a gente envelhece, vai perdendo a energia, claro,
mas os sentimentos que nos trazem prazer de viver e
estar
ao lado de quem se ama nos deixa sentir como se fôssemos a pessoa mais feliz do
mundo!
— É
assim que você se sente? — pergunta, enquanto o beija na testa.
—
Exatamente.
Um
ruído repentino vindo da porta do quarto lhes desperta a atenção.
—
Pai!
É
William chegando apressado.
—
Oi filho! — é a mãe quem responde.
—
Olha só, eu sei que a vida de vocês foi exibida numa Série de TV há muito
tempo...
—
Certo, é isso mesmo. — acrescenta Mulder.
—
... mas não do jeito que estão mostrando agora, mãe!
Mulder
se levanta do colo de Dana:
— O
que está acontecendo?
O
jovem se ajoelha junto ao sofá:
—
Estão mostrando na história lá, em vez da história chamada Arquivo-X, que é o
trabalho de vocês, uma outra coisa que
não tem nada
a
ver com a gente!
—
Do que se trata, filho?
—
Mostram que EU, seu filho, fui criado
por uma família diferente, pai!
Mulder
lança um olhar para Dana, que o fita, abrindo os lábios, surpresa.
—
Meu Deus! Por que isso, Mulder?
Ele
a acaricia no ombro; faz um bico com os lábios.
— E
se contam a vida de vocês no trabalho, por que me colocam na história e com uma
situação dessas? Por quê?
Dana
morde os lábios, nervosa.
—
Por que vocês não falam nada? — insiste William.
—
Bem, meu filho é que... olha, deixa esse negócio pra lá... — inicia Mulder, tentando por um fim na
conversa, desviando-a para outro
assunto.
—
Mãe! — agora ele repara — Por que você está assim, quase chorando? O que quer
dizer isso?
O
pai coloca as mãos nos ombros do garoto:
— Filho,
você sabe que sua mãe é emotiva...
—
... sim tudo a emociona, sim, disso eu sei...
—
... e ela o vendo falar assim então...
—
... então fica, sim, mais emocionada com o que eu falo — interrompe mais uma
vez — mas olhem só, já sou um adolescente,
logo
serei um adulto e quero tudo esclarecido na minha vida!
—
Ei! Do que está falando? E que voz autoritária é essa? Presta atenção William:
não queremos malcriação diante de nós; não faça
sua
mãe sofrer!
Agora
Dana é que segura o queixo do filho, ainda ajoelhado junto a eles.
—
Meu filho... — murmura.
—
Não liga pra esses repentes do nosso filho, meu amor; criança é assim mesmo!
—
Criança não! Já falei! — William rebate.
Mulder
o faz levantar-se neste instante; afasta o corpo de junto de Dana e faz o filho
sentar-se entre eles.
E então? Querem me dizer o que, na verdade,
existe sobre isso?E vou dizer uma coisa importante: noto, sei, sinto, que vocês
estão
me escondendo algo que preciso saber. — o menino conclui.
Dana
o abraça, sem nada falar.
Mulder
olha para sua amada, num olhar interrogativo, como que perguntando se poderiam
abrir o coração e contar ao filho tudo
que
acontecera, na realidade, há muito tempo atrás.
"A
verdade de nada se envergonha,
se
não de estar oculta."
Lope
da Vega