NOSSA VIDA COM PRAZER

 

"Muitos poucos são os que vivem o presente;

a maioria se preocupa em viver mais tarde."

Jonathan Swift

 

Capítulo 380

 

Mulder sente preocupação vendo o semblante de Dana:

 — Não me diga que ainda está chateada com o acontecimento de ontem.

Ela não responde, mas ele nota os molhados olhos azuis de sua amada, que com as mãos ocupadas com frutas sobre a pia, tenta sorrir.

Mulder se aproxima mais; abraça-a pelas costas, com suavidade e doçura.

— Você está tão inspirado hoje...! — ela fala, suspirando de prazer.

Ele a beija no pescoço.

Ela sorri; solta-se dos braços dele e o agarra pela frente, prendendo-se ao corpo dele.

— Então Scully, vamos continuar nossa vida com prazer. Aliás, nosso amado filho está aqui conosco; não temos mais que pensar naquele

passado tão triste.

— Eu sei, Mulder; não tenho como ficar triste. Concordo que nosso filho teria mesmo que saber tudo o que ele e nós passamos naquele

tempo. Eu sei!

— Mas o que vai fazer agora? — ele pergunta, ao vê-la pegar carne na geladeira.

— Vou fazer bifes pra nós, tá? — com a faca vai cortando a carne em fatias.

— Um, dois, três, quatro...

— O que você está contando, Mulder?

— Cada gota que a torneira está deixando cair. Já tentei resolver isso e nada consegui.

— Deixa que vou mandar dar um jeito nisso.

Novamente ele a abraça pelas costas, agarrando-a pela cintura, onde prende as mãos.

— Nossa! — ela dá risadas.

Olham para a janela.

— Parece que vai chover... aliás já está chuviscando!

— Estou vendo, Scully; com esse frio que já está, a temperatura vai descer rápido.

— Exato.

Ele dá mais uma bicota no pescoço dela e se afasta:

— Vou tomar um banho enquanto você prepara as guloseimas. —- sai do ambiente.

Dana continua, calmamente, preparando o almoço.

 

***

— Mulder, vem! Já está tudo pronto. Vamos almoçar? — ela chama em voz alta.

— Oi! — ele aparece na sala de jantar.

Ela o fita com um sorriso:

— Você está um gato hoje, Mulder!

Miaaaau! — ele faz com graça e logo diz — Scully, fica aí que já venho, tá?

— Ah, mas não demora. Não quero ficar aqui sozinha na mesa.

— Não se preocupe. É questão de segundos.

Dana apoia os cotovelos na mesa e com as mãos amparando o queixo, deixa o pensamento voar, lembrando ainda do dia anterior,

quando o sofrimento sobre a realidade do que seu filho passara, a havia deixado como uma derrotada. Mas o seu amado lhe dera

força com o amor que lhe dedica.

E logo ela se surpreende, vendo Mulder trazendo uma bandeja na mão:

— O que é isso, Mulder?! Deixa que eu faço isso!

— Mas isso aqui você não fez.

— Não...? É o que, então? — sorri, juntando as mãos.

— Comprei algo  pra nossa sobremesa.

Quando ele coloca o prato na mesa ela vê que um apetitoso crepe Romeu e Julieta ali está diante de si, lhe provocando gulodice.

— Ai, que gostosura!

Os dois fazem a refeição com todo gosto.

Ele levanta do lugar:

— Scully, espera que ajudo você a levar as coisas para a cozinha.

Alegres, carregam toda a louça e demais utensílios, tirando-os da mesa.

Mulder chega até a janela; olha o tímido sol surgindo entre nuvens.

— Scully, olha só; o tempo está normal.

— Que bom, Mulder! — fala, enquanto arruma a louça no armário.

— Já acabou aí? — ele quer saber, falando de junto da porta.

— Já estou indo, Mulder!

Logo ela ouve as notas musicais se espalhando pela sala. Sai da cozinha, se dirigindo para lá.

— Que bom, Mulder! Você está dançando!

— Vem cá! — ele a puxa pelo braço e a agarra pela cintura.

Nos passos da dança, deslizam pelo ambiente.

— Sabe Mulder — sussurra — isso me faz lembrar aquela ocasião em que tivemos à nossa frente aquele homem todo deformado, que

todos o olhavam como um monstro.

— Lembro bem.

Ele a aperta mais contra si:

— E isso nos faz bem... assim... como naquele tempo... — beija-a nos lábios.

E ela retribui com suavidade.

Dão mais passos da dança.

Após algum tempo...

— Scully cansei.

— Eu também! — sorri, respirando fundo — Não estamos mais acostumados.

— Olha, já não chove mais. Vem cá. — puxa-a pela mão e a encaminha para o jardim.

Abraçando-a, ele a leva a sentar-se num banco.

— Espera aí! Não acredito!Não me diga que esqueceu esse violão

aqui, Mulder!

— Por que o susto?

— E se a chuva o estragasse ou algum pássaro "cuspisse" — ela faz sinal de aspas com os dedos, enquanto dá uma risada — sobre esse

instrumento que você acha tão importante?

— Ah, pois é, eu agora estou com mania de tocar violão.

— E eu bem sei o porquê.

— É exatamente o que você está pensando. Aqueles atores que trabalham na TV fazendo nossa vida naquela Série, agora vivem cantando

 nos palcos.

— Não! Somente ele canta; ela apenas o acompanhou num show.

— E você acha que ele canta bem?

— Não, Mulder. Ele apenas murmura em notas musicais. Só isso.

— Ah!Ah!Ah! Você me diverte, minha amada! — ajeita o violão, movendo as cordas com as notas musicais se espalhando pelo ar, onde as

folhas do jardim, movendo-se à brisa que sopra, parecem acompanhar os acordes .

— Eu não sei cantar! Só se você quiser ouvir: Do Re Mi Fa Sol...

— La Si Doooo! — ele conclui.

— Viu só? Sabemos cantar! — ela dá uma risada.

Ele sai do banco e agora senta no chão.

Ela, no banco de madeira, mexe com as cordas do violão, fingindo cantar:

— Jeremias era um sapo boi...

— Ah, essa você cantava para o nosso William! — ele faz semblante saudoso.

O vento espalha folhas que caem girando na direção do chão.

Ele se levanta para beija-la no pescoço.

Dana para; olha para o alto:

— Mulder, nem adianta achar que não vai mais chover; dá uma espiada lá.

Ele acompanha o olhar dela na direção das nuvens:

— Tem razão, Scully; vem chuva aí.

— Ai! Senti um pingo aqui no meu braço! — fala gritando.

 

"Às vezes um grito é melhor que uma tese.

Ralph Waldo Emerson

 

Continua...