COMENDO AS PIPOCAS

 

"Diz-me o que comes,

dir-te-ei o que és."

Savarin

 

Capítulo 381

 

Mulder, sentado no sofá com o pescoço voltado para baixo, mas olhando a TV à sua frente, aguarda Dana sentar ao seu lado.

— Quando você vem? Estou esperando! — fala e deita no sofá.

Ao lado um abajur é a luz que ilumina o ambiente.

Logo ela aparece.

— Até que enfim! Você estava fazendo as pipocas num fogão a lenha?

— Para, Mulder! — ela ri — Antes de por no micro-ondas, fui guardar umas roupas que as crianças haviam deixado jogadas

pelo quarto. — coloca copos com suco sobre a mesinha ali perto.

Ele volta a ficar sentado.

Ela senta ao lado dele. Deita a cabeça sobre seu ombro e as pernas sobre o sofá.

Ele põe somente uma perna sobre o sofá. E enquanto assistem a TV vão comendo as pipocas.

— Está vendo, Scully? Agora, ao anoitecer o tempo está bom.

— Sim; estou vendo, Mulder. — suspira — Ai... adoro ver a lua...!

— Romantismo.

— Claro! Por que não? Sou romântica, sim.

— Sério?

— Por que duvida?

— Porque... — chega os lábios aos dela — ... porque você nunca...

— ... nunca...?! — aguarda com os lábios entreabertos.

— ... me beija.

Um quase sorriso se esboça nos lábios de Dana, que agora já tem a boca totalmente tomada pelos lábios do amado.

Logo separam os lábios e Dana, metendo um dedo na boca, fala para ele:

— Olha só. — e mostra um grão de milho inteiro.

— Nossa! Estava isso aí? — cai na risada.

— Não quero mais pipoca. — ela  apanha um copo com suco, que está sobre a mesinha.

Algum tempo se passa, enquanto estão na sala vendo a TV.

Mulder se levanta.

Dana o vê sair dali e  permanece quieta.

Ele vai ao banheiro.

Em frente ao espelho vai passando o creme para ajudar no corte da barba por fazer.

Dana ainda o espera voltar à sala, quando então nota que quinze minutos já se haviam passado.

Desliga a TV. Guarda os objetos ali na sala.

Sai do ambiente e vê que Mulder está no banheiro.

— Oi?

Ele a vê refletida no espelho.

— Oi, Scully. Vem cá.

— Estou aqui.

— Aqui, junto de mim, Scully. Vem!

Ela chega para bem junto dele, que  logo lhe entrega o barbeador.

— Faz a barba pra mim, amor!

Huuum... será que dá certo, Mulder? Nesses anos todos nunca você me pediu isso!

Ele, com a toalha na mão e o rosto coberto de branca espuma, estica o pescoço.

E Dana, na ponta dos pés, se esforça para alcançar bem os pelos da barba dele.

— Espera aí. — ele a faz parar — Vou sentar aqui, tá? — senta-se num banquinho que faz parte do ambiente.

 

***

A chuva cai fina, mas persistente.

Do vidro da janela Scully olha os pingos batendo no piso, lá fora.

Mulder se aproxima; abraça-a ternamente e, junto a ela, observa também a chuva lá fora.

— Espero que nossas crianças estejam aproveitando bem o passeio com o tio.

— Verdade, Scully. Tenho certeza de que lá não está chovendo.

Dirigem-se para a cama.

Mulder deitado, com os braços sob a cabeça, olhos fechados, relaxa.

Dana vai para junto dele.

— Ai... estou cansada, sabia?

— Só quero saber por qual motivo.

— Tenho que rir! Ah!Ah!Ah! O motivo é porque tive que tomar conta de você o dia todo!

— Engraçadinha...! —  ele a aperta contra seu peito.

— Bem quentinho você...!

— Só porque você está perto de mim. Esquento logo!

Ela retira uma perna de sob o edredon e a joga sobre o corpo dele.

Huuum... acho que você está querendo alguma coisa...

— Será que você adivinhou...? Quero mesmo.

O abraço entre os dois é não somente de ternura, mas de muito desejo.

 

"Ironia e humor são as duas

feições intelectuais do riso."

Afrânio Peixoto