TEM QUE CONTINUAR SEU SONO
"O sono
é a sombra em que a alma repousa.
É um mergulho
na eternidade."
Coelho Neto
Capítulo 382
O ruído da chuva lá fora entra nos
ouvidos de Dana. Ela abre os
olhos. Nota que, como sempre, está com a
cabeça sobre o peito do seu amado,que lhe está transmitindo a quentura
daquele peito forte, que, com o
movimento do coração, a faz sentir isso levemente.
Ela suspira; se sente feliz e relaxada.
Dormira por várias horas e agora se sente muito bem. Mas tem que continuar
seu sono até a manhã que ainda vai
demorar a chegar.
Dana tem a ideia de levantar, porém o
desejo de continuar ali, sentindo o calor aconchegante do peito de Mulder
a faz até sentir vontade desistir desse propósito.
"Mas preciso ver se as crianças
fecharam a janela do quarto."
— pensa, preocupada.
Faz um gesto para se levantar; move-se
lentamente.
Sente, subitamente a mão do amado
impedindo-a de sair da cama. Percebe que ele abrira um pouco os olhos, mas
permanecendo na mesma posição.
— Mulder...?
— Ahn?
— Eu vou levantar.
— Não.
— Preciso ir ao quarto das crianças.
Ele suspira e lhe solta o braço.
Dana agradecida, lhe dá um rápido beijo
nos lábios.
— Volto já.
Ela sai do quarto. Dirige-se até onde
estão os filhos.
Entra no quarto de Vivien.
Observa a janela. Tudo bem.
Sai dali, caminhando para o quarto de
William. Ali também está tudo no devido lugar.
Fecha a porta devagar e se dirige para
seu quarto.
Mulder continua de olhos fechados,
deitado.
Ela se ajeita para deitar; logo que faz
isso, apoiando a cabeça no travesseiro, sente a mão dele puxando-a para ficar
sobre seu peito.
— Aaah...
gostoso... — ela murmura — deitar sobre esse coração quente...!
— Só o coração?
Ela ri:
— É o modo de falar, Mulder. — faz uma
pausa, fitando-o com amor — Te amo.
Ele continua com os olhos fechados:
— Você é a minha vida, Scully.
Ela suspira profundamente:
— Passei o dia num cansaço incrível.
— É normal num dia quente.
— E o hospital estava repleto de
pacientes.
— Imagino como você trabalhou, lindinha.
— faz uma pausa — Me diga: como é, pra você, fazer uma autópsia?
É ruim demais, né?
— A gente se acostuma; não tem jeito.
— Eu sei que a palavra autópsia vem do
grego autopsia que
significa "ver com os próprios olhos."
— E olha só, os egípcios antigos
inventaram esse procedimento por volta de três mil antes de Cristo.
— E eles já preparavam os corpos para a
imortalidade, mesmo sem se preocupar qual o motivo da morte.
— Exato. Depois a coisa mudou.
— Como assim?
— Quinhentos anos depois um médico
romano estudou cientificamente os motivos da morte, usando suas observações
no interior do corpo humano.
Mulder se volta inteiramente para cima
do corpo de Dana:
— Você é de uma sabedoria fora do
normal! — diz, agarrando-a com calor.
— E eu quero saber mais sobre
psicologia, no que você é de uma sabedoria fora do normal também.
— Acha?
— Sim.
— Tem certeza de que podemos falar sobre
isso agora?
— Tenho. Você vai me falando e quando
perceber que meus olhos fecharam, então aí...
Ele a aperta com força, sorrindo.
"Os
olhos das mulheres não envelhecem nunca."
Júlio
Dantas