POR ALGUNS MINUTOS FICAM CALADOS

 

"Não sabe falar quem não sabe calar."

Pitágoras

 

Capítulo 383

 

Por alguns minutos ficam calados.

— Psicologia... comunicação psicossomática... — Dana comenta.

— Posso até lhe falar sobre algo que estou vendo agora. — ele diz.

Ela levanta a cabeça que estava apoiada no peito dele.

— Está vendo o quê...?

— Sua camisola azul.

— Minha... camisola...?

— Sim; é azul. Sabe o que significa essa cor?

Ela dá uma risadinha; dá uma pequena mordida na pele dele.

— O azul é a preferida entre as cores.

— Ah, isso eu sei.

— Ela tem efeito calmante.

— Também sei disso.

— Mas não sabe que o azul é a cor mais fria. Pense: nossa pele fica azul no frio e até nossos lábios ficam azuis. A neve tem

 uma cintilação azulada. E olha só, o jeans foi criado em 1970. Todo material começou a ser tingido de forma tão durável

nunca visto antes. Disso veio a moda mundial. Então o jeans passou a ser usado por todas as idades, no mundo inteiro.

— Interessante tudo isso. Fala mais.

— O azul é a cor da simpatia, da harmonia, da amizade e da confiança.

— Sim, Mulder. Aprendi que mesmo se a gente escolher o vermelho ou o preto ou qualquer outra como sua cor favorita, o azul é a cor certa.

— Vou explicar uma coisa; por exemplo: se você estivesse vestida usando as cores vermelha, laranja, roxa e amarelo, sabe o que aconteceria?

— O quê...? — ela sorri.

— Ficaria por demais excitante; daí já sabe como eu ficaria.

Huuuum... vou procurar algo assim. — se remexe na cama.

Ele a abraça, com calor:

— Você é que pensa; só essa cor pura aí já está me deixando...

— ... excitado!

— Louco!

Ela se volta para seu lugar, saindo de cima do peito dele:

— E se eu quiser que você fique tranquilo?

— Tranquilo...?  — coça a cabeça — É... deixa eu lembrar... você teria que usar uma roupa com mais cor verde, azul e pouquíssimas

cores do branco e marrom.

— Sabe... acho que tenho algo assim.

— Não me interessa esse. — fala em tom determinado.

Ela dá uma risada, sacudindo a vasta cabeleira.

— E saiba também uma coisa, Scully: em 1533 a Rainha da Inglaterra gostava de lançar modas em maquiagem; mandava

desenharem veias azuis em sua fronte empoada.

— Nossa! E pra que isso?

— Só pra dar a impressão de uma pele mais translúcida e jovem.

— Ai... ai! Que tolice! — fala, se espreguiçando; logo abre mais os olhos, levantando as sobrancelhas — Mulder, lembrei de uma coisa.

— O que, Scully?

— Você usava um negócio que me causou um certo transtorno naquele tempo, pois era uma época em que nós nos amávamos mas...

— ... sei que tempo era esse. E nem gosto de relembrar.

— Mas deixa eu falar. Você usava uma camisa...

— ... O quê...?! Uma camisa...? O que você quer dizer?

— Eu nem sei explicar Mulder. Só posso dizer que você a usava e isso causava uma... uma...

— Termina, Scully! Uma o quê?

— Sei lá, Mulder! A questão é que causava um certo tipo de atração nas mulheres que eu via olhando pra você, umas pessoas conhecidas, sabe?

— Mas, afinal de contas, o que tinha essa camisa?

— Sei lá! Talvez por causa da cor.

— E qual era?

— Cinza.

Agora ele senta na cama, dando risadas, erguendo o pescoço. Em seguida joga-se na cama novamente.

— Não tem graça não, Mulder.

— É pra rir mesmo, Scully. Escuta só: o cinza é a cor do tédio, do antiquado e da crueldade!

Ahn...?

— Pois é. O cinza é uma cor sem força. No cinza o nobre branco está sujo e o poderoso preto está enfraquecido. É velho, não

tem nenhum embelezamento.

Dana o olha profundamente.

— Não gostou do que expliquei? — ele pergunta, vendo-a sem ação.

Ela continua calada.

Agora Mulder é que a fita, sem nada falar.

Passam-se alguns segundos.

Logo, ela reage e resolve dizer:

— É que eu estava me concentrando numa coisa. Modelo da camisa? Nada disso. Cor cinza ou outra qualquer que fosse? Nada disso.

— E então...?

— A tentação que causava agitação nas mulheres que eu via, encantadas, olhares ávidos, era exatamente você!

— Ah!Ah!Ah! — ele se diverte com as palavras dela — Mas saiba, amada minha, que os únicos olhos que faço questão que

me contemplem sem parar, são esses seus, nessa cor que produz a ilusão do espaço infinito...

— ... chega, amor! Só quero agora é o seu aconchego.

O carinho que sai dele a faz se sentir verdadeiramente flutuando em pleno espaço.

 

"A alma tem ilusões como o pássaro

 tem asas; isto é que a sustenta."

Victor Hugo