ELE DIZ RINDO
“O riso é o
melhor tônico do mundo.”
Lady Maud Warrender
Capítulo 387
Mulder, refestelado numa
cadeira espreguiçadeira, olha para a lua, cuja luz aparece lá no alto.
O som de um pássaro
noturno passando a voar através das árvores ali próximas,
ecoa pela paisagem escura.
O Agente se concentra no
visual que lhe aparece entre as nuvens, misturadas entre os espaços formados
através dos galhos.
Os passos que ouve no
momento o faz voltar-se para trás.
— Mulder, não está
sentindo frio?
— Sim.
— Por que não vai pra dentro de casa?
Ele a puxa pela mão:
— Vem pra cá, Dana.
— Huuuum... adoro quando você me chama assim...!
— Você sempre me fala
isso. — diz rindo.
Dana senta numa cadeira
junto a dele.
— Os poetas são como os
pássaros; a menor coisa os faz cantar.
Nossa! Lindo esse
pensamento, Mulder! Você criou isso agora mesmo?
Ele joga a cabeça no
encosto de lona da cadeira:
— Chateaubriand, Scully!
— Ora, pensei que fosse criação sua.
Ele coloca os braços
atrás do pescoço:
— Sabe Scully, o
primeiro poema foi escrito por volta de duzentos e quinze anos Antes de Cristo.
— Daí foi se espalhando
pelo mundo...?
— Sim; é isso.
Atravessou fronteiras e culturas e aí foi emergindo nas sociedades indiana,
chinesa e grega.
— Bem interessante. A
poesia é uma forma de arte literária que usa as palavras e seus sons para
transmitir significado.
— Exatamente, minha
lindinha sabida. — ele passa os dedos, acarinhando a face da amada — Aristóteles, o filósofo e cientista grego fez essa:
“A poesia é mais bela e
filosófica do que a história.”
— E ele tinha razão, com
esse pensamento — ela para de falar um instante e acha graça, vendo Mulder
coçando o pescoço sem parar —
Mas que coceira é essa,
Mulder?
— Sei lá! Não dá pra
agüentar.
— Mas você acaba ferindo
seu pescoço! — ela chega mais perto para ver melhor e coça com cuidado o
pescoço dele. — dá uma risada.
— Do que você está
rindo, Scully?
— É que essa
proeminência da laringe e suas cartilagens...
— ... cartilagens...?
— Sim; a caixa de voz.
Tem o nome de Pomo de Adão porque diz a lenda de que a maçã que Eva deu a Adão
ficou parada na sua garganta.
Os dois caem na risada.
Após isso ficam calados,
somente apreciando a paisagem banhada pela luz da lua.
Mulder se volta para a
amada e fica apreciando os detalhes de seu rosto.
— O que houve? O que
está vendo, Mulder?
— Estou vendo um belo
rosto diante dos meus olhos.
— Ah, pára! Não inventa
coisas agora. Vamos falar de coisa séria.
— Mais séria do que isso
que estou dizendo?
— Você tá inventando coisas pra me distrair.
— Scully, eu não uso e
jamais usarei a hipocrisia na minha vida; jamais usarei de fingimento ou
simulação para enganar alguém... muito menos você.
— Eu sei,
Mulder... eu sei. Me desculpe.
— O rosto docemente
expressivo é o espelho de um coração igualmente bom. O contrário é como uma
traição que ninguém perdoa.
— Hum...
legal! E essa agora é criação sua?
— Não. O autor desse
pensamento chamava-se Berville.
— Lindo!
— Mas tem um que você
não vai gostar.
— Pois fala, então.
— É prudente não confiar
na expressão do rosto das pessoas, muito mais se forem das mulheres.
— Epa!
Esse aí não gostei mesmo! Vai me dizer que não é
criação sua.
— Não é, Scully. O nome
do autor desse pensamento é Julio Diniz.
— Então ele tinha algo
contra as mulheres. Só pode ser isso.
Ele se ergue para
ajudá-la a levantar-se da cadeira:
— Vamos lá pra dentro,
Scully. Não quero a lua sendo testemunha do que vamos fazer.
“Os homens
nunca aprendem coisa
alguma sobre as mulheres, mas se
divertem um bocado tentando aprender.”
Olin Miller