DIZ ISSO EM SEUS PENSAMENTOS
“Como o pensamento é grande
pela sua natureza! Como ele é
vil pelos seus defeitos.”
Pascal
A
janela mostra o céu num límpido azul com esparsas nuvens brancas, mostrando que
o tempo está agradável.
O
rapazinho olha a bela paisagem que encanta com as verdes montanhas além.
Ele
suspira.
Mas
num repente se ergue da cama. Olha o relógio na parede. Sua vista se volta para
a tela da TV ao fundo.
Pensamentos
o fazem franzir as sobrancelhas. Aperta com as mãos crispadas o travesseiro.
Deixa o corpo cair novamente, jogado no colchão.
Franze os lábios, denotando irritação. Seus
pensamentos se voltam para cenas que seus olhos detectaram e
que o deixaram perturbado.
“Preciso falar isso com meu pai! Não é possível que continuem com histórias tão imbecis como essas! Eu não admito. Não aceito!” – diz isso
em
seus pensamentos.
Com
a mão crispada dá um soco na cama. Olha novamente o relógio.
“Daqui
a pouco meus pais já estarão acordados. Preciso falar com eles.” – pensa
novamente.
Senta-se
na cama. Mais uma vez verifica a hora. Deixa-se cair no colchão.
***
Dana
está arrumando a mesa para o café da manhã.
Mulder,
já sentado à mesa, mastiga um pedaço de pão.
--
Você nem espera o café e já tá comendo pão,
Mulder...? – pergunta rindo.
--
Fome! – é o que ele responde, fazendo bico com os lábios.
Vivien entra na sala de jantar, se
espreguiçando.
--
Huum... ainda está com sono,
filha? – fala Mulder.
--
Dormi bem, pai; é só preguiça mesmo.
Mulder
ri e a coloca em seu colo.
--
Filha, William ainda está dormindo? – Dana pergunta à menina.
--
Não sei não, mãe.
--
Dormindo nada, mãe! Estou aqui irado! – é o filho que entra, com ar enfurecido.
--
O que aconteceu, filho? – Mulder tira a filha do colo e levanta da cadeira – O
que está acontecendo com você?
--
Pai, volto a comentar sobre aquela história que é
exibida na TV sobre a nossa vida.
--
E qual o motivo dessa sua raiva, filho?
--
QUAL o motivo...?! Você bem sabe o
que penso sobre a idéia desse idiota, desse tal criador de uma Série baseada na
nossa vida.
--
E você não se sente agradecido por essa homenagem, Will?
--
HOMENAGEM...?! O que você acha se o
elogiassem como um assassino, hein?
--
Ora filho, não se apoquente com isso! É ficção somente.
O
rapazinho está diante do pai com a face extremamente avermelhada e os olhos
lacrimosos.
--
Eu não agüento isso! Não aceito esse tipo de elogio maldito, como se eu fosse o pior membro desta família. –
fala isso e sai imediatamente
de perto do pai.
Para
na porta do ambiente, volta-se para trás, fitando o pai; com o punho fechado dá
um soco na parede e sai, rapidamente, dali.
***
Dana
olha surpresa para o amado:
--
Mulder, você todo arrumado assim, parece até que vai...
--
trabalhar... é o que você imagina; mas não é isso.
Resolvi que preciso esclarecer algo.
--
Mas hoje estamos de folga, Mulder!
--
Sei disso, Scully! – chega-se a ela e a abraça – Pretendo tirar essa terrível
preocupação da cabeça do nosso filho.
--
Como assim...?
--
Depois explico. – aperta-a entre seus braços e se afasta em seguida – Até logo;
já vou.
Dana
acompanha seu caminhar em direção à porta de saída. Não consegue entender o que
Mulder vai fazer, num dia em que estão em casa,
descansando da labuta diária.
***
Mulder,
na sua decisão, resolvera ir procurar saber como poder encontrar-se com o
causador daquela situação, que está trazendo muita
insatisfação à sua família.
Dirige
o carro com ansiedade.
Por
muitas horas continua ao volante do veículo.
--
Ora, até que enfim! – exclama para si mesmo – Freia o veículo; observa o local;
o enorme prédio extenso e de muitas janelas; belas
palmeiras diante dele; a enorme quantidade
de automóveis estacionados ali. Então lê o grande painel na parede do prédio:
--
Twenty Century Fox.
Mulder
vê que um homem faz a vigilância no local do estacionamento. Aproxima o carro; põe a cabeça do lado de fora
da janela.
--
Por favor! – pede Mulder – Onde posso estacionar?
Logo
o Agente se surpreende ao ver que o homem não lhe dá a menor atenção e
afasta-se neste momento.
--
Ei! Por favor! – insiste Mulder.
De
nada adianta o chamado de Mulder.
“Se
é assim, então tudo bem.” – pensa ele e vai procurando lugar para seu carro.
Lançando
o olhar adiante, logo encontra uma vaga disponível. Para o carro ali. Sai do
veículo.
Dirige-se
para a porta do prédio.
O
segurança, na porta, tem os olhos fitos nas pessoas que se aproximam.
--
Pois não! – fala o segurança.
--
Por favor, quero falar com o senhor Chris Carter. – diz o Agente.
--
Senhor segurança, quero ir à sala do senhor Morgan. – pede no mesmo instante um outro homem que havia chegado ali.
--
Pois não, senhor; a sala do senhor Morgan é no final do corredor. Ali à esquerda.
Mulder
aperta os lábios; nota que o segurança dá a entender que não se importa em
atendê-lo. Mas fala novamente:
--
Quero falar com o senhor Carter. É um assunto de urgência. – insiste.
O
segurança com o celular na mão, se limita a fitar a telinha, ali
concentrado.
Um
outro
homem se aproxima:
--
Boa tarde. Por favor, pode me dizer onde fica a sala
do senhor Bowman? Preciso entregar um documento a ele.
O
segurança ergue o olhar para a pessoa que havia se aproximado:
--
Pois não, senhor. Siga à esquerda; é a terceira porta.
Neste
momento Mulder se sente enfurecido com a atitude daquele homem que fica ali,
junto àquela entrada, somente atendendo a quem
bem
entende.
O
Agente, então, com os lábios cerrados pelo ódio, se aproxima:
--
Prefere não me atender, certo? Pois vou entrar de qualquer maneira, ok? – fala enraivecido.
O
segurança olha adiante para alguém que lhe acenava. Levanta a mão, acena também
e novamente se concentra na tela do celular.
E
Mulder entra e caminha
com passos rápidos pelo imenso corredor.
CONTINUA...
“Nada
há mais humano do que o ódio.”
Paolo
Mantegazza