ELE  SE  SENTE  IRRITADO

CAPÍTULO 394

“Irar-se é vingar as faltas

alheias em nós mesmos.”

Alexander Pope

Após passar por várias portas, vê numa delas escrito:

CHRIS CARTER

Mulder dá uma batida na porta.

Ninguém atende.

Novamente ele bate. E nada acontece.

Mulder franze a testa, novamente aborrecido. Sente-se irritado pelo mal atendimento em tudo, ali naqueles Estúdios.

Com a mão crispada pela irritação, gira a maçaneta da porta.

Vê o homem que ele procura, sentado à uma mesa repleta de papéis.

Boa tarde, senhor Carter.

Carter, desfolhando umas páginas de script, fala:

Ah, boa tarde! mas nem sequer olha para o recém-chegado.

— Por favor, me desculpe por entrar assim, mas é que...

— Não tem problema! Tudo bem. — fala Carter com certa impaciência no tom de voz.

 

Vendo que tem cadeiras vazias junto à mesa, Mulder senta.

— Ok; obrigado. — fala o Agente e continua — Vim aqui para lhe falar algo que está acontecendo na minha família e isso me deixa...

—Mas então me conta logo, cara! Preciso saber de tudo! — fala Carter, mas até esse momento nem sequer levantou o olhar para

Mulder, continuando a remexer na papelada exposta na mesa.

— É o seguinte, senhor Carter. — o Agente reinicia.

— Mas não está vendo que estou ocupado? — reclama Carter, sem olhar para Mulder.

O Agente levanta bastante irritado:

— O senhor falou que podia me atender!

— Olha cara, vê se dá pra deixar isso pra depois. Não é possível agora!

Já de pé, o Agente em segundos se dirige para a entrada da sala e sai, batendo a porta com toda força.

Caminha pelos corredores e logo vê dois homens conversando. Um deles está bastante enraivecido:

— Pois é. Tentei resolver aquele caso tão sério com o Carter e ele disse que não pode me falar sobre o assunto .

— Quando você falou com ele?

— Agora mesmo!

 

Ouvindo esse diálogo, logo Mulder entende. Põe a mão na boca, olhando para o alto. Surpreso; admirado; e entendendo

perfeitamente o que havia acontecido.

“Ele não me via, ali, diante dele, claro! Sou apenas um personagem na imaginação dele. Lógico! Óbvio! — diz, nos seus

pensamentos — Enquanto eu estava ali, diante dele, o que estava funcionando era o microfone no ouvido dele,

ora! Por que não prestei atenção nisso...? — permanece parado no lugar, enquanto vê as pessoas passando para lá e

para cá — Não sei o que vou explicar ao meu filho.” — conclui os pensamentos, franzindo os lábios, preocupado.

                                                  ***

—Oi pai!

Vivian corre para abraçar o pai.

— Oi filha! — ele a pega no colo — Linda do pai!

Vivian mostra um doce sorriso:

— Trouxe coisa gostosa pra mim...?

Huuum... filha, esqueci.

Ela desce dos braços dele.

— Então eu quero passear com você e aí você compra coisa gostosa pra mim, ?

— Com certeza! — ele confirma, beijando-a na testa.

Dana surge no ambiente, carregando vasos com plantas.

— Vai cuidar do jardim, Scully? — pergunta, retirando o paletó.

— É... não vendo...? Adoro minhas plantinhas. — ela o fita com atenção — Mulder...

— ... o quê...?

— ... você me parecendo preocupado; algo está acontecendo na sua mente.

Ele dá uma volta no ambiente e se vira para ela:

querendo aprender minha sabedoria em psicologia, é...? — diz sorrindo.

Dana se aproxima mais. Vira para um lado e coloca os vasos com plantas sobre um móvel. Volta-se para ele e chega

bem perto, com a cabeça erguida, visto que, estando em casa, sem usar saltos, sua altura junto à dele a deixa muito baixinha.

Mulder senta numa cadeira e encosta os cotovelos na mesa, as mãos segurando o queixo.

Ela senta noutra cadeira ali, junto à mesa:

— Por que não quer me falar o que está acontecendo?

Ele desce as mãos fechadas sobre a mesa:

— Scully, nosso filho anda muito irritado por ver na TV uma Série que foi inspirada em nossa vida.

— Sim, eu sei Mulder! Já falamos sobre isso há algum tempo, não lembra...?

— Sim, eu sei disso. Nosso filho ficou muito bravo com o que vimos.

— Pois é isso. Mas não fique preocupado com isso, Mulder. E você, como psicólogo, deve ajudar nosso filho.

Ele, aparentando nervoso, bate com uma das mãos na mesa:

— Scully, você não vai acreditar no que vou dizer: eu fui falar com o homem que criou essa Série, que dizem ser já,

além de antiga, tão famosa.

— Verdade...? — ela ri.

— Sim. Tentei somente.

— Ah, não conseguiu...!

Agora ele a fita com o semblante um tanto transtornado:

— Ouça o que vou lhe dizer: fui até os Estúdios, onde o cara  cria a tal Série...

— ... falou com ele... e aí...?

— ... me escuta, Scully! Deixa eu continuar! — ele pede.

Ela apenas faz um sinal positivo.

— Cheguei até aos Estúdios, procurei falar com os seguranças...

— ... ahn... e...?

Ele faz um aceno com a mão, para que ela o escute com atenção.

— Tentei e tentei muito falar com os homens que ali estavam e... nada! Não me ouviam!

— Não...?!

Ele anui negativamente com a cabeça.

— Mas por quê...? — ela insiste nas perguntas.

— Resolvi entrar na marra mesmo! E nem assim eles ligaram para minha presença ali. Finalmente resolvi entrar

no enorme corredor e logo encontrei a sala do homem.

— O criador dessa tal Série?

— Sim. Mas continuando... falei com ele, que me respondia, sem nem me olhar.

Dana põe as mãos no rosto, admirada com essa narrativa.

Mulder levanta. Está completamente sem calma. Então, continua contando detalhadamente sobre o final do caso.

Dana se apavora com tal situação:

— Meu Deus! Que horror, Mulder! Como é possível isso...?!

CONTINUA...

 

“Um rosto formoso é um traidor que se

torna temível e se olha com prazer.”

Plutarco