OLHOS FECHADOS

“Os olhos são os lábios do espírito”

Pascal

 

Capítulo 395

Mulder passa a mão na cabeça; volta o olhar para o teto; suspira com ansiedade.

Dana senta, amparando a cabeça com as mãos. Olhos fechados.

—O que podemos fazer...? — ela pergunta.

—Simples... — ele faz um bico com os lábios.

—Por que agora você me responde assim...? Há pouco estava tão nervoso...!

—Sim... porque não fiz o cérebro trabalhar, pensando melhor.

Neste instante um ruído de porta abrindo os faz se voltarem para a entrada do ambiente.

—Oi! —William entra.

—Oi filho! —fala Dana, olhando para Mulder.

O rapazinho entra e se joga no sofá, que está num canto da parede.

Mulder o fita, ao mesmo tempo com carinho e preocupação.

William tem nas mãos uns papéis.

O pai se aproxima:

—E então, filho, tudo bem?

—É... vai se indo devagar... —murmura, logo mostrando os pequenos papéis na mão. Quero ver isso aqui.

Mulder olha os papéis na mão do filho.

—Isso é o quê...?

—Ingressos para ir num evento.

—Ótimo! Aproveite e se divirta.

William ri, joga a cabeça para trás, fitando o pai:

—Eu lhe faço um convite. —diz sorrindo.

O pai o abraça, também sorrindo. Em seu pensamento, sente paz por notar que o filho esquecera a situação

anterior que o incomodava tanto. Resolve perguntar:

—E quando acontece o evento?

—Hoje mesmo.

Mulder levanta as sobrancelhas e logo faz um gesto afirmativo com a cabeça:

—Tudo bem. Vou com você.

William se levanta e ao mesmo tempo ergue os braços:

—Ótimo,  pai!

***

Entram William e Mulder no local do evento.

Muita gente se encontra no local.

—Veja isso. — fala o rapazinho — Eles expõem várias imagens...

—... sei; são símbolos.

—E olha que interessante! Em ordem alfabética!

—Já reparei; cada sala serve para uma letra.

Pai e filho se concentram em observar os painéis com variadas imagens nas paredes.

Abetarda — mostra William;

—Pássaro que é símbolo da poligamia, na África. —diz Mulder, lendo no painel.

—Veja isto, pai: Abóbora —observa com atenção para ler —Em razão de suas inúmeras sementes é um símbolo

de fecundidade, como a romã. Interessante...!

William caminha, à procura de outro painel:

—Veja: Abelha...

—Maldito inseto! —murmura o pai.

O filho se surpreende com essa reação:

—Que é isso, pai? A abelha produz a geléia real, que tem muitas proteínas e também a própolis que é uma

substância muito importante e serve também para os seres humanos.

Mulder aperta os lábios. Em sua mente lhe vem  lembrança da ocasião em que um beijo que daria na sua amada

Scully havia sido impedido por uma abelha.

—Pai, você está com uma cara de quem está num espaço de tempo...!

Mulder ri, batendo no ombro do filho.

Entendi, filho, mas é que a abelha me causou um fato muito desagradável... e, naturalmente para sua mãe também.

—Verdade...? O que aconteceu?

—Ah, deixa pra lá; só posso dizer que não gosto de relembrar a ocasião. —explicou, mordendo os lábios.

—Olha ali adiante tem Acúleo, Adão, Aerólito...

—Ágata, que é uma pedra...

—Alfa... interessante mesmo.

Caminham para a sala seguinte.

—Olha aqui esse Burgo... como moradia fortificada, símbolo da proteção e segurança. Na Bíblia é simbolismo cristão...

—Sim, bem importante saber.

—Vamos para a outra sala. Há muita coisa a ser vista ainda.

—Ok. —concorda o filho.

—Veja a descrição de Cabelos: Em muitas culturas, eles são vistos como o real portador ou o símbolo a força...

blá, blá, blá... — ele resolve parar de ler.

—Enorme o significado, pai!

— E aqui veja só nesse painel o que Câncer significa: Caranguejo e ponto final.

E já os dois estão mais adiante:

— Veja aqui Girassol.

Leia, filho.

— Girassol devido à forma radiada das pétalas de suas flores, a sua cor amarelo-ouro e a sua particularidade de

virar-se sempre para o sol, é em diferentes culturas um símbolo solar da grandeza. No Cristianismo é

símbolo do amor divino, da alma  e dos pensamentos e sentimentos dirigidos incessantemente a Deus; nesse caso,

simboliza também a prece.

—Muito bom saber disso. E muito gostosas também...

—... as sementes... ah! ah! ah! — ri demais o filho.

***

Dana vê chegando o carro, trazendo seus amados marido e filho.

Os dois entram em casa.

— E  aí...?Divertiram-se bem?

—E como! — responde o filho.

—Foi uma tarde gostosa. — fala o pai — Vou agora tomar banho.

Dana olha para os dois com muito carinho:

— Depois que vocês tomarem banho,  eu vou tomar também.

— Ok. — Mulder fala, saindo do ambiente.

William se afasta também e se encaminha para o quarto.

Dana chega à janela, observa as plantas lá fora, sob o sol agora fraco, pois a tardinha está chegando.

Ela suspira, sentindo o aroma das flores que enfeitam as árvores.

Pronto, Scully; cheguei! — fala Mulder, puxando com as mãos a cintura da calça que está vestindo.

— Não!! — exclama Dana, com os olhos abertos demais, olhando para ele — Não acredito!

Ele fica surpreso, sem entender o que está acontecendo.

— O que você está vendo Scully?

— Estou vendo você. — levanta as sobrancelhas e franze os lábios.

— O que há de errado comigo...?

Ahn... você finge que não sabe...

— ... não  sabe o quê...? Me fala!

— Essa camisa, Mulder. Essa camisa!

Ele volta o olhar para ficar a camisa no peito:

— Ah... entendí... — sorri, olhando cheio de amor para ela.

 

 

“O amor não tem idade, está

sempre nascendo.”

Sêneca

CONTINUA...