ANTES DA DOR

 

 

 

 

"Correndo em busca do prazer,

tropeça-se com a dor."

Montesquieu

Capítulo 42

Ela ainda ouve chamar baixinho, junto ao seu ouvido.

Sim! A voz de Mulder! Sabe ela agora que está indo para onde ele se encontra.

Navegarão pelo espaço. Seus espíritos encontrar-se-ão no infinito.

É a voz amada. Abrirá os olhos. Talvez para ver o espaço sem fim. Seu corpo etéreo atravessará as nuvens. À sua frente está o rosto adorado de quem ela tanto ama. Falando-lhe com amor. Carinho. Meiguice. Ternura.

Suas pálpebras pesadamente se movem. Abre os olhos, por fim.

Subitamente Dana percebe que está no mundo real. Aqui na Terra. E Mulder, o seu amado, ao seu lado, olhando-a, preocupado.

Dana olha à sua volta. O ambiente confortável e pequeno do camarote. As paredes de madeira frisada. O leito. As poltronas. A vigia aberta.

Senta-se, sentindo-se em pânico.

Ela está atordoada demais para responder. Não consegue, ainda, distinguir o sonho mau da amena realidade. Olha-o, extasiada. As mãos espalmadas indicam ansiedade e surpresa.

Ela não mais consegue pronunciar palavras. A voz está embargada pelo choro que lhe quer sair do peito. Calada, permanece abraçada a ele.

Por minutos ela somente chora mansinho, abraçada a Mulder.

Ele deita-a suavemente sobre a cama e acomoda-se junto a ela, aconchegando-a a seu corpo.

Durante alguns instantes ele se cala.

Scully aguarda com o rosto colado ao peito dele. Espera. Mas não se contém com a demora da resposta.

Levanta a cabeça para olhá-lo diretamente nos olhos, pedindo a confirmação.

Permanecem calados, então.

Com um meneio, ela responde afirmativamente.

O ruido do ar puxado por Scully pra dentro do peito, foi forte demais, surpresa com o que Mulder lhe conta neste momento.

Ela o envolve pelo pescoço com seus braços ansiosos.

Dana ri, achando engraçada a frase dele, cheia de desejo.

Dana ri. Segura a mão dele. Faz com que, com as pontas dos dedos, ele possa livrar as carnes de seu busto túmido, da peça rendada.

Ele vai beijando-lhe o corpo, respirando afogueado e desejoso.

Scully o faz livrar-se de suas roupas também.

Em gestos rápidos, ele retira tudo o que veste.

A boca úmida de Mulder, desvendando cada centimetro do corpo de Dana o deixa agitado.

Suave e gentilmente, porem, vai levando a mulher amada ao êxtase desse ato de amor.

Ama-a demais! Com verdadeira paixão. Mas não o sentimento excessivo, capaz de perturbar o juizo e a conduta, não uma paixão superficial ou maligna, que possa até causar-lhe algum dano moral ou psicológico, mas uma paixão sadia. Um amor ardente. Puro. O mais puro e arraigado sentimento.

E ela, frágil corpo feminino, entregue às carícias do homem que ama, delira de prazer.

Entregara o seu corpo e sua alma a esse homem que a está dominando neste momento.

Nas contrações que lhe advém pelos seus músculos nos momentos deste ato de amor, libera, enfim, toda aquela tensão emocional que sofrera há algumas horas atrás.

Mas não! Aquele pesadelo a permitira até ver que a realidade está aqui, agora, cheia de prazeres, do amor sem fim no encontro dos corpos dela e de seu amado Mulder!

Colados. Molhados. Túmidos. Afogueados.

Ele é o seu amor.

Que lhe dá esse prazer total.

Que a enche da mais completa paixão.

Um longo, profundo mas discreto gemido, saido lá de bem do âmago do seu ser, a domina agora.

Todo o seu ser vibra. E o desfalecimento vem, por fim.

A cabeça do homem amado desaba sobre seu peito frágil de mulher forte. Tambem ele perdera as forças e deixara-se jogar, cansado, extenuado mesmo, sobre o leito.

Dana acaricia-lhe os cabelos escuros.

Afinal, verdadeiramente, a mulher, considerada o sexo frágil, é, sem dúvida, a parte mais forte do ser humano.

E ela sente-se assim, pois ali está o seu amado aninhado em seus braços, como um menino desprotegido, ansiando por carinho, pequeno e fraquinho, entregue à sua fortaleza protetora de mulher.

Ali está o seu Mulder, o seu querido Mulder, amando-a e fazendo-a amá-lo demais.

Ela continua acariciando-o, ainda por minutos.

Mulder, agora, sai de sobre o corpo dela e deita-se, relaxadamente, puxando-a para que coloque a cabeça em seu peito forte.

É assim, dessa maneira, que ele adora sentí-la, até chegar a dormência do sono a lhes embalar a mente e os sentidos.

Estão quietos, calados.

Os pensamentos de Mulder, instantaneamente fogem, em busca das ansiedades que o perseguem nos últimos tempos.

Sente, novamente, aquela dor, profunda, lá dentro do seu coração. Penetrante. Aguda. Torturante.

E essa dor traz consigo a saudade.

Saudade?! De que? Por que?

De Scully, percebe. Saudade do amor que vai deixar.

Sabe, sente que essa dor o atormentará. E atormentará Scully também.

Ela destruirá, estraçalhará o seu ânimo de homem que quer e teima em ser amado.

Que deseja continuar correndo atrás dos seus sonhos de felicidade.

Imperceptivelmente, para não chamar a atenção de Scully apoiada em seu peito, ele balança a cabeça, passa a mão na testa. Quer arrancar de dentro da mente essa desesperança.

Quer distrair-se. Esquecer.

Lembra-se de que está com sua amada. Sentindo-a ... ainda.

Antes da dor da saudade.

Coloca a mão suavemente sobre o corpo dela, afagando-a

Ela ouve o som da voz dele vindo do fundo do seu peito.

Dana solta um longo suspiro, entediada com o assunto.

Dana assim respondera.

Porem dentro do seu íntimo, parece perceber um modo diferente de Mulder abraça-la, como ... uma despedida!

"Ah, não! Outra vez a dúvida, não!"

Grita o seu ser em pensamento. Não querendo lembrar dessas coisas, novamente.

A noite está uma noite de temperatura amena.

A brisa que penetra pela vigia aberta, faz balançarem levemente as pontas da toalha da pequena mesa ali dentro. O marulhar das ondas parece querer acalenta-los, dando-lhes uma sensação de paz.

Puxam os lençois para cobrirem-se.

Ambos sentem que o sono já está tomando conta de suas mentes.

"O sono e a morte são gêmeos."

Schiller.