ENTRE DOIS AMORES

 

"A ausência aviva o amor;

a presença o fortalece."

Thomas Fuller

Capítulo 43

Deitada ao lado de Mulder, na cama do hotel, Dana reflete por alguns minutos sobre o que está se passando.

Não sabe o que anda sentindo, na realidade, se é proveniente de um extremo estado de estresse ou uma prolongada ansiedade por tantas coisas que deseja ver resolvidas.

Está aqui, segura, ao lado do homem que ama, amparada, ajudada por ele, como em todos os momentos em que dele precisa.

Mulder continua falando-lhe ao ouvido, docemente. Há um timbre de preocupação e sobretudo dor em sua voz. Ele não quer que ela lhe acompanhe nessa nova e estranha investigação para a qual Billy Miles os havia atraido, mas como poderia ela ficar somente vendo as coisas desenrolarem-se e delas não participar diretamente em companhia de Mulder?

Embora seu estado de saúde apresente-se frágil, ela não quer demonstrar fraqueza. Tem que ajudá-lo em mais essa missão, sim!

Por momentos deve esquecer o seu estado de saúde abalado.

Logo que for resolvida mais essa missão, irá cuidar-se, sim, sem dúvida.

Dana pega a mão de Mulder que lhe acaricia, e coloca-a sob sua face. Quer sentir-lhe a mão quente, desejosa.

Mulder sente as lágrimas dela molharem sua mão.

Ela assente e tenta sorrir.

Ele lhe mostra um tímido sorriso.

Mulder aperta-a com mais força.

Aprofundam o olhar um no outro.

- Ahn, ahn... quero. - confirma, murmurante.

Ele procura-lhe a boca, ávido de paixão.

Dana sente a respiração ofegante dele junto a seus ouvidos. Sua carne arrepia-se de prazer.

Suas bocas unem-se, num beijo ardente, onde se sentem. No gosto da saliva. No gosto do amor.

Ele busca, com lábios sequiosos, o busto dela, procurando-lhe, avidamente, os botões de carne.

Frêmitos de prazer inundam-lhe os corpos vibrantes e estonteantes na ânsia do amor.

Afastam de si o cobertor de lã. Para que possam tocarem-se. Sentirem-se. Amarem-se, enfim.

* * *

A madrugada está bem fria.

Mulder abre os olhos.

Scully dorme tranquila, ao seu lado.

Ele a olha com carinho. Não sabe o que seria de sua vida sem essa mulher, que passara a preencher o vazio de sua existência.

Na sua figura pequena há a grandiosidade da uma alma intrépida e de muita determinação.

* * * * * *

Pranto, ansiedade, dor, emoção, sofrimento, desespero, tristeza, horror... não poderia haver mais sentimentos para descrever sobre o que se passara.

Esse fôra um dia de terrível e absoluta dor.

Para Scully, a absurda e quase inacreditável notícia que lhe chegara sobre o desaparecimento de Mulder, além de a ter deixado em estado de desespero, a pusera num torpor angustiado, a lentidão intelectual e o quase bloqueio da consciência.

Como se a tivessem dopado. Pela dor aguda. Pelo sofrimento de um fato tão cruel.

Agora, no leito do hospital, Dana reflete sobre todos os acontecimentos ocorridos.

Quanto sofrimento!

Mas por que fôra acontecer-lhes aquilo?

E ela carrega em seu ventre o que mais desejara em toda a sua vida. Uma criança! Um filho! De Mulder! O seu amor!

"Deus, nada pode separar-nos agora, se nossas vidas estão unidas por esse laço inssolúvel de um filho gerado pelo nosso amor! Mulder! O fruto do nosso amor está aqui e nós dois precisamos de você, Mulder! Volta!!" - os pensamentos bailam em sua mente atormentada.

E as lágrimas rolam, livremente, em sua face no pranto silencioso.

* * *

A mente recordando o semblante espantado e incrédulo de Skinner ao ouvir a sua revelação de que está grávida. Nem ela própria pudera acreditar de pronto. A maior e mais maravilhosa surpresa recebida no momento mais cruciante de sua vida.

"Skinner continuava por um pouco mais a sorrir e quase chorando emoção ao mesmo tempo.

Aproximou-se mais dela:

Ela soluçava e levou as mãos ao rosto.

Na verdade não sabia se, exatamente, era só o sofrimento pelo qual estava passando, ou a vergonha de ter revelado ao seu superior aquela situação tão melindrosa.

A partir de então ele ficara sabendo do amor existente entre os seus dois principais Agentes.

Skinner estava sentindo junto com Dana aquele sentimento de perda.

Ele balançou a cabeça, afirmativamente.

Essa cena passara pela mente de Dana, relembrando com tristeza o que lhe acontecera horas atrás.

Uma enfermeira entra, solícita:

Antes de sair faz-lhe um afago, compartilhando sua tristeza.

Scully lhe sorri entre as lágrimas.

Não fôra atoa aqueles pesadelos dos últimos dias.

E Mulder não tivera conhecimento do que estava acontecendo! Que está grávida!

Sairia do hospital no dia seguinte.

Como seria agora sua vida sem Mulder?

Empregaria até a última gota de suas energias para procurá-lo... até encontrá-lo, decerto.

Sua mente retorna, agora, há um dia atrás, quando Mulder lhe dissera, emocionado:

"- eu não quero me arriscar a perder você!"

Ela relembra o abraço apertado. O corpo morno e vibrante dele colado ao seu.

Scully permanece com os olhos fechados, o coração dorido, recordando aquele abraço quente de Mulder.

"- Eu não vou deixar você ir sozinho. - ela lhe dissera.

Mulder havia olhado para sua face preocupada.

"- Scully, está tudo bem." - pronunciara suavemente.

Ela o afastara de seu corpo.

"- Mulder,... - levou as mãos à nuca, desabotoando o fecho do cordão de ouro - ... quero que leve isso com você."

Retirara o cordão e a cruz e o entregara a Mulder, colocando-o ele mesmo em seu pescoço.

E haviam-se apertado um contra o outro. Parecera-lhe que Mulder, assim como também ela, quisessem que seus corpos fundissem-se, transformassem-se num somente, naquele calor abrasador, naquela necessidade carente de poder ter um ao outro sem restrições, sem mais nada que impedisse seus desejos de uma vida feliz e um futuro de paz.

Dana retorna à realidade de sua vida, agora.

Sua mente trabalha, sem cessar

"Um bebê! Vou ter um filho! Meu Deus! Vou ter uma criança! Vou senti-lo desenvolver-se dentro de mim, poder sentir-lhe os movimentos..."

Os pensamentos vão de um ponto a outro.

Mulder. O bebê.

O homem amado. O seu filho.

Os seus dois amores.

Os dois tomam todas as áreas do seu cérebro e do seu coração.

"Perdi um e vou ganhar o outro. Perdi? Não! Não o perdi! Eu tenho que achá-lo! Tê-lo de volta! Nós... - coloca a mão suavemente sobre seu ventre - ...temos que encontrá-lo. Precisamos dele! Hum? - fala baixinho, discretamente - Precisamos achar o seu papai... não podemos ficar sozinhos aqui! Me ajude, meu filhinho, a não desmoronar, a não deixar minhas forças desabarem... ajude-me a ajudar você... quero poder vêr você junto de nós dois... meu filhinho...!

Chora, ainda. As lágrimas descem aos borbotões pela face pálida e abatida.

Sorri. Os lábios entreabrem-se num sorriso singelo, mas triste.

Um sentimento não pode suplantar o outro. São iguais.

Sente-se tão só! Só sem Mulder! Sem o seu amor.

Mas sente alegria pela companhia querida de sua criança amada, tão ansiosamente desejada.

* * * * * *

Dana resolvera não ir para seu apartamento ao sair do hospital. No seu coração o desejo maior era ir para a residência de Mulder.

Ali poderia sentir mais um pouco a sua presença, embora nessa sua ausência angustiante.

Havia chegado no apartamento, destrancado a porta e entrado.

Logo ao bater a porta pelo lado de dentro, um enorme aperto no coração manifesta-se em seu peito.

Por mais que queira conter-se, não dá para reprimir o convulsivo choro que vem à tona neste momento.

Passa os olhos sobre as coisas ali dentro.

Tudo transmite a presença do seu amado.

Ela chega até o aquário iluminado. Os peixinhos, em seu movimento infinito, estão indiferentes ao drama existente ao seu redor.

As lágrimas descendo em cascata pelas faces de Dana, a fazem ter sua visão misturada às bolhas do aquário, que sobem e desmancham-se na superfície da água.

Dana afasta-se. Vai ao quarto.

Tudo transpira Mulder.

Ali estão em cima da cama, peças de roupa esquecidas.

Um par de tênis no chão, toalha de banho pendurada na maçaneta da porta.

Dana senta-se na beira da cama, olhando ao redor.

Parece vê-lo chegando neste instante, no seu jeito displicente de ser, no seu andar característico jogando os pés, com seu sorriso espontâneo de menino desenhado na face, as mãos estendidas para alcancá-la e envolver seu corpo, jogando-a ternamente sobre a cama, os olhos esquadrinhadores estudando os seus, até lá no fundo, cheios de indagações e desejos, os cabelos castanhos desalinhados, a boca sensual procurando a sua, os dedos longos, macios e exploradores buscando sua intimidade...

Dana sente-se etérea, vazia... sua mente a domina e ela percebe que tudo está como que desvanecendo-se à sua frente.

Ela chora e joga-se sobre a cama, corpo encolhido, como se estivesse a querer proteger-se de tanta angústia e tristeza. Seus dedos agarram-se aos lençois.

Uma camisa de Mulder está sobre a cama. Aperta-a contra seu corpo, notando que assim, sentindo o odor do corpo de Mulder é como tê-lo diante de si.

E deixa o corpo a sacudir-se com os soluços do pranto.

Ela leva a mão ao pescoço, como que procurando buscar ajuda de paz e esperança somente tocando a cruz de ouro que simboliza o Senhor de todas as coisas, que pode devolver-lhe tudo aquilo que agora está perdido, secar todas as lágrimas aflitas, trazer novamente ao seu rosto o sorriso de alegria, da paz, da certeza de dias melhores.

Seus dedos tateiam-lhe a pele, procurando a cruz. Não está.

Lembra-se, imediatamente, que a cruz encontra-se agora com Mulder.

Sente que o Senhor Deus estará com seu amado onde quer que ele se encontre.

Vêm-lhe à mente as palavras que lêra na Biblia certa vez, vindas do Filho de Deus, Jesus Cristo:

'Vinde a Mim, vós que estais cansados e sobrecarregados e Eu vos aliviarei..."

"A religião é a cadeia de ouro

que une a Terra ao Céu."

Young