COMO A NOITE
"Só a noite ensinou-me que
há luz na minha lâmpada."
Capítulo 48
Dana, envolta por uma nuvem de dúvidas, que teima em rodéa-la sem cessar, queda-se pensativa.
Em seu apartamento está agora. Só. Sem nenhuma perspectiva de ter Mulder ali, junto dela.
Está desolada.
Sua vida agora assemelha-se à escuridão da noite.
A escuridão amedrontante de uma noite fechada e lúgubre.
A intensidade da dor e da saudade antecipam-se a qualquer outro sentimento que possa vir ao seu coração.
Sofre. Muito. E sente saudade.
Apenas um fio de luz na imensidão da escuridão do desgosto brilha em seu interior: a sua criança, o seu bebê. O seu filho.
O filho de Mulder. O fruto de um amor quase impossível de ser vivido, experimentado.
Com a ausência de Mulder, sente-se desolada. Perdida, até.
Dana reflete sobre a busca naquele deserto onde esteve.
Lembra-se gritando, aflitivamente, o nome amado naquele deserto causticante. Seus gritos ecoando vazios no espaço infindo.
Ainda sente seus passos batendo no chão duro e seco.
Mas seu sexto sentido lhe fazia sentir Mulder ali, naquele local. Ela sentira essa sensação.
As horas passadas naquele lugar a haviam fatigado demais; provavelmente ali terão ela e os colegas do FBI que retornar, pois é lá que deve estar o seu Mulder.
Por que ter que passar tudo isso agora? Por que fôra retirado Mulder do seu lado? Por que? Qual o significado de tudo isso acontecendo?
Uma coisa, porem, é certa em sua mente.
Nada acontece por acaso - como lhe havia dito Colleen.
Dana medita um pouco mais, concentradamente.
Deita-se de costas na cama. Pousa a mão levemente sobre seu ventre. Acaricia-o
"Mãe! Vou ser mãe! Deus é muito bondoso comigo; e eu pensei que jamais pudesse ter essa alegria. Meu bebê... um pedacinho de mim... meu filho... Mulder!"
Este último pensamento é liberado de sua mente em forma de palavra pronunciada por seus lábios neste momento em que está entristecida.
Dana fecha os olhos.
Seus pensamentos vagueiam.
Recorda, então:
* * *
Estavam sentados no sofá do apartamento de Mulder, bebendo refrigerantes e comendo pipoca.
Lembra-se que havia perguntado a ele:
Após algum tempo, ela o havia olhado com ar brejeiro, porque Mulder lhe dissera ter feito três pedidos à gênia que haviam conhecido: Jenn.
Dana jogou-se nos braços dele, feliz.
E ele prosseguira:
Ele enfiou os dedos das duas mãos entre os cabelos dela.
Experimentou-lhe os lábios, como se fosse a mais doce iguaria, uma, duas, três, quatro vezes.
Scully gemeu baixinho, com a espera daquele beijo iminente.
Esperou com os lábios entreabertos que ele invadisse a intimidade de sua boca.
Porem o inesperado aconteceu naquele momento. A campainha da porta havia sido tocada.
Dana cobriu-lhe a boca com a ponta dos dedos, sorrindo, impedindo-o de falar impropérios.
Mulder dirigiu-se à porta. Abriu-a
Dana ouvira o cumprimento.
Era Skinner chegando, sobraçando uma pasta repleta de papéis.
O recém-chegado logo a viu sentada no sofá, junto ao aquário.
Skinner deu uma volta curta pela sala e segundos depois encarou-a, ajeitando os óculos:
Dana juntou os lábios e levantou uma sobrancelha, cruzando os braços e olhando para os peixinhos do aquário. Achara bem divertida a mentirosa explicação de Mulder.
Novamente Skinner ajeitou os óculos:
Mulder jogou-se numa cadeira, lançando de relance um olhar para Scully.
Ela traduziu o significado daquele olhar como um pedido de socorro.
Skinner voltou-se par Dana, que mantinha-se parada em seu lugar.
Mulder levantara-se e caminhava agilmente pela sala, no seu jeito característico, balançando levemente o corpo.
* * *
Dana levantou-se de onde estava.
Seus lábios distendem-se num sorriso ao lembrar-se da cena.
Na verdade haviam usado Skinner para engabelá-lo com uma farsa e haviam se divertido com aquilo.
Ai deles, pensa, se um dia o seu superior desconfiasse da brincadeira de seus agentes!
* * *
O Diretor Assistente havia conversado e dito o que pretendia naquela noite, referente aos papéis que levara e, após uma hora, estava saindo.
Dana abrira a boca para responder.
Após a porta ser fechada com a saída do Diretor, Mulder agarrara Scully fortemente, rodopiando-a em seus braços, pela sala.
De dentro de seu peito plena gargalhada lhes sai livremente.
Abraçam-se com calor.
Embora a audácia de seu gesto lhes desse remorsos, sentiam-se gratificados por poderem desfrutar de tão grande amor.
"Com a audácia se
encobre grandes medos."
Lucano