AS PEQUENAS COISAS DA VIDA
"Com a pressa de viver, esquecem-se
muito a miúde as razões da vida mesmo."
porque
"As pequenas coisas ocupam
grande lugar em nossa vida."
Hanotaux - Anatole France
Capítulo 51
Descem do carro.
Dana tomou em sua mão o pequeno estojo de veludo dos brincos, que até então havia estado sobre o painel do carro.
Segurou-o fortemente dentro da mão até entrar no apartamento. Aquela pequena caixinha havia causado-lhes certa tristeza momentos antes.
Com um suspiro, colocou o objeto sobre a mesa.
Retirou o pesado casaco.
Foi até o banheiro, lavou as mãos, olhou-se no espelho.
Sorriu, então. Havia notado que seu batom estava um tanto manchado, não em grandes proporções de modo a ser notado por alguém, mas ali, juntinho ao espelho, dava para perceber.
Ela balançou a cabeça, sorrindo.
Levantou com as duas mãos os cabelos, prendendo-os acima da nuca.
Com toda aquela neve lá fora, o calor que exalava de seu corpo era muito forte.
Era de pura emoção. A emoção do amor que sentia por ele... o seu Mulder.
Sua mente começara a trabalhar em negatividade naquele momento.
"O que seria de mim se o perdesse para sempre? Afinal temos uma vida profissional tão arriscada...!
Como suportaria eu sua ausência, a falta de seu carinho, a suavidade de suas palavras, o acariciar de suas mãos? Em tanto tempo de convivência aprendi a estar com esse homem, que agora significa tudo pra mim..."
Estava assim, pensativa, quando o ruido da porta de entrada a fez voltar à realidade.
Ela olhou-o com ar de censura e zombaria:
Esta frase havia caido nele como um balde de água fria em suas costas.
Ele colocou diante dos olhos dela a caixa de sorvete.
Ela respondeu apenas atirando-se em seus braços.
Pequena e frágil, fazia-lhe bem a qualquer instante sentir-se protegida e querida entre aqueles braços grandes e fortes.
No resfolegar de suas respirações,
na ansiedade de seus corações,
na amplitude de seus desejos e paixões,
no poder hipnótico e imantado de seus corpos cheios de sensações...
o amor vencia cada vez mais as barreiras
pedindo a cada momento amarem-se às carreiras
experimentarem a doçura de suas vidas inteiras
que esperaram, ansiosas, pela vinda desse dia sem fronteiras...
E amaram-se, entregaram-se,
sorrindo, se sentindo
desfrutando do prazer e cada vez mais declarando-se
apaixonados, entregues, se unindo, se possuindo...
num amor total,
radiante, feliz, sem igual;
de infindos prazeres querendo
e em longos beijos permanecendo.
* * *
Mulder espreguiçava-se, inteiro, na cama. Esta parecia até pequena para abrigar o seu longo corpo.
Dana ouvira do banheiro o chamado.
Ela apareceu, novamente levantando os cabelos curtos e prendendo-os acima da nuca.
Ele, ainda deitado, estendeu-lhe os braços.
Dana ajoelhou-se na cama e assim, dessa forma, chegou até Mulder.
Jogou-se sobre o corpo dele, de forma total.
Ela forçou a saida dos braços dele.
Ele soltou-a, enfim, rapidamente demais.
Ela assustara-se com o seu ímpeto:
Mulder já alcançara a porta do quarto.
Foram as últimas palavras que ouvira antes de vê-lo voar até a sala.
Dana acompanhou-o, já prevendo a cena que ia assistir.
Mulder, desanimado, com a caixa aberta nas mãos, olhava tristemente o seu conteúdo em massa disforme, quase líquida.
Mulder suspirou, desesperançado.
Dana sentiu pena do seu amor.
Mas o que poderia fazer?
O seu imprevisível Mulder era sempre tão impetuoso quando estava a fim de amá-la...! Não via tempo nem circunstâncias.
Ela volteou pelo ambiente.
Chegou próximo da mesa.
Tomou o seu celular e colocou-o junto ao de Mulder no móvel próximo dali.
O seu olhar dirigiu-se, em seguida, para o estojo azul do brinco que perdera.
Suspirou profundamente, olhando-o e tomou-o em suas mãos. Abriu a tampa do estojo.
Seus olhos não acreditaram no que estava vendo naquele instante.
Ele aproximou-se.
Dana dirigiu a Mulder o seu mais doce olhar de ternura e censura ao mesmo tempo.
Ele aproximou-se para ver o que ela lhe escondia com as mãos em concha.
Entregou a ele a caixinha de veludo.
Dentro dela o lindo e precioso par de brincos de ouro e pérola, reluzia sob a luz do lustre.
Os olhos de Mulder esforçaram-se para abrir o máximo possível.
Ele lhe havia falado, quase como um autômato.
E Mulder ia como que saboreando nela com o olhar fascinado, toda a sua face, a boca, olhos, cabelos, orelhas...
"Já é uma boa ação
o tentar fazê-la."
Stern
Continua...