TEMPO DE RECORDAÇÕES

 

 

"O tempo não é senão o espaço

entre nossas recordações."

Amiel

 

Capítulo 52

 

E Mulder acariciava com a boca todo o rosto de Dana.

O encontro de suas bocas tornou-se num impetuoso e ardente ato de amor.

Sentiam-se na acidez de suas salivas. Sentiam a delícia do prazer do roçar de suas linguas que se uniam, grudavam-se, sugavam-se no ardor do desejo de se deliciarem cada vez mais.

Separaram as bocas e seus corpos já pediam o prosseguimento daquele ato de amor.

E entregaram-se à carícia total que os levava ao êxtase alucinante.

***

A essas recordações Scully sente que, de dentro de seu ser uma onda de angústia e dor a abala, vindo à tona em forma de pranto.

Logo tenta recompor-se. Levanta-se subitamente e busca um copo com água, engolindo-a, ansiosamente.

Coloca a mão em seu ventre e parece sentir um pequeno pulsar em seu interior.

Os sutís movimentos de seu filho.

Não pode e não deve deixar-se atormentar muito pelas emoções.

Tem que poupar sua criança de tanta emotividade.

Respira profundamente e passa o dorso da mão sob os olhos para secar da pele as lágrimas que a molharam.

Um suspiro sai aos pedaços, liberando-se doloridamente de dentro de seu peito.

Quantas lembranças vêm-lhe à mente!

Até quando poderá viver só da lembrança do seu amor?

Mas tem que ter a esperança permanecendo dentro do seu coração. Jamais permitir ficar somente a desesperança, a derrota.

Tem que pensar nos momentos de felicidade pelos quais passou, para abrir-lhe a mente e permitir vir a esperança de que tudo vai mudar.

Mulder voltará! Mulder se recuperará, esteja onde estiver!

São tantos os boatos... são tantas as notícias infundadas...! Mas a esperança sempre continuará.

Nunca nada a iria fazer desistir de esperá-lo.

Nada! Nunca!

"O meu bebê! A minha criança! O meu filho! Meu e de Mulder! Meu e de Mulder!"

Surpreende-se, repetindo com palavras esses pensamentos em voz audível.

Poderiam até considera-la louca, se quisessem. Não se importaria.

Só quer poder ter livremente liberdade de pensar em Mulder, recordar tudo dele. E que isso lhe enche de esperança e quase a certeza de tê-lo de volta.

Já a noite descera.

Sozinha, no seu quarto, Dana contempla a janela, vendo a luz da lua prateada varando a fina cortina.

Sob o macio tecido da camisola abraça com suavidade a sua barriga, sentada no meio da cama, pernas cruzadas. Cabeça pendida sobre o peito. Fica assim por minutos.

O silêncio total a faz relaxar e deixar fluir livremente seus devaneios.

"Senhor Deus, por que tem que acontecer isso comigo? Por que o Senhor, na Sua infinita misericóridia não acode essa Sua pobre filha sofrida e infeliz?"

E com esse pensamento voltado para o Criador, deixa-se cair no leito, vagarosamente.

Olhos abertos na escuridão do quarto, levemente sente suas pálpebras imperceptivelmente pesarem-se-lhe sobre os olhos.

A voz querida de Mulder chamando-a

A voz doce, terna, de timbre suave e sedutor.

Ele aproxima-se, senta-se mansamente na beira da cama.

"Na verdade, - pensa - nem parece o meu Mulder. Ele é sempre tão impulsivo!"

Ele continua a fita-la com aquela expressão de suave ternura, mas incontida sensualidade e paixão.

Ali, deitada, à mercê do seu carinho e ele... bem próximo dela, distante talvez nada mais que meio metro, não quer atendê-la.

Dana quer sentar-se para jogar-se entre aqueles braços amados.

Não consegue. Suas forças esvaem-se.

Mesmo na escuridão do quarto, ela percebe que ele chora, aflito.

Porem ele não faz sequer um movimento para atende-la.

Ele a fita. Há ainda o olhar de ternura e sedução, flutuando nas lágrimas.

Ele levanta-se, leve e lento, como que um ser etéreo.

Ela vê que ele está sem peso. Nem deixa a marca do seu corpo nos lençóis onde esteve sentado.

Mas ela não desiste. Continua com os braços estendidos.

Senta-se na cama, repentinamente.

Nada a seu lado. Somente a penumbra. O quarto vazio. A lua lá fora, no céu pontilhado de estrelas.

Dana junta as mãos, cobrindo o rosto. Estivera dormindo.

Um sonho, quase um pesadelo, a atormentara outra vez.

Levanta-se, vai até a janela.

A lua prateada parece observá-la no seu único olho, desafiadoramente curiosa.

Scully passeia o olhar pelo escuro do céu, vasculhando com a visão os inúmeros pontos brilhantes que tremeluzem no espaço.

Algo no seu coração lhe diz que o seu amado está lá, num daqueles pontos, entre as estrelas.

Ela junta as pontas dos dedos e, lentamente, leva-os à boca com os lábios franzidos, num simbólico beijo para o seu amor lá distante... tão distante...!

Quem sabe ele a está vendo neste momento?

Envia o beijo nas pontas dos dedos, para que ele receba o seu carinho voando pelo espaço...

 

"O beijo é o

vulcão do coração."

Mademoiselle Leclerc

 

Continua...