COM A NATUREZA

 

"O estudo, a contemplação da natureza, é o

alimento natural da inteligência e do coração."

Cicero

Capítulo 53

As folhas secas no chão estalavam e desmanchavam-se sob seus pés, enquanto caminhavam.

Vagarosamente em seus passos no mesmo ritmo, deixavam seus corpos expostos ao sol cálido e brilhante daquela tarde.

No arvoredo em todo o longo da estrada de areia o canto mavioso e diverso dos pássaros extasiavam-lhes os ouvidos. Intensamente melodioso.

De mãos dadas, olhar admirado de prazer diante da deslumbrante natureza, desfrutavam o momento de poderem estar ali, juntos e felizes.

Uma revoada de pombos brancos e cauda em leque movimentou-se no ar, para logo despencar inteiro o bando no chão arenoso, a catar pequenos alimentos que podiam achar.

Essa última palavra pronunciada, já fora em vão. Mulder já havia corrido, agitado, tentando alcançar uma das ligeiras aves.

Não queria incentívá-lo àquela louca empreitada.

E ele prosseguia no seu intento.

Num certo momento desequilibrara-se e caira estatelado no chão.

Dana correra em sua direção, vendo-o caído, rosto apoiado no braço dobrado, imóvel e calado.

Ela gritou, aproximando-se dele.

Agachou-se para tocá-lo, já um tanto apreensiva.

Ela deu-lhe um tapinha na nádega.

Ela sentou-se ao seu lado.

espaço... esta tranquilidade... repare! Lá distante não é um lago?

Ambos pararam e tentaram ouvir o rumor das águas lá ao longe.

Os dois deram gargalhadas.

Mulder começou a tirar de uma embalagem que havia guardado em seu bolso, migalhas de biscoitos, atirando-as ao chão.

Uma pequena quantidade de pombos passeava em seus pesinhos rápidos no chão arenoso.

A alguma distância dali cinco pombais feitos a capricho, podiam-se ver.

O bando de alvos pombinhos continuava, com seu célere caminhar e movimento de rápidas cabecinhas, a procurar no chão as migalhas de biscoito que Mulder havia jogado.

Num movimento mais brusco dele, os pombos haviam alçado vôo em revoada, atingindo em poucos segundos grande altura no céu azul.

Ela, imediatamente aproximou-se para dar a mão a ele e assim ficarem a observar lá, ao longe, os pombais.

Abraçam-se, sorridentes.

Uma leve brisa soprava no lugar.

Não se apercebiam, no seu abraço terno, que o bando dos alvos pombinhos, retornando dos pombais, volteavam por sobre eles, em círculos.

De súbito encontraram-se cercados novamente das aves, que arrulhavam a seus pés.

Mulder dava gargalhadas por vê-la assim, parecendo uma estátua de praça, quando visitada pelas aves do local.

E Dana voltava o corpo para todos os lados, agitadamente, enxotando-os.

Mas ela teve que render-se às boas gargalhadas ao olhar para ele.

Mulder, de pé, corpo ereto tal qual uma estátua, mãos à cintura, somente com o olhar acompanhava o movimento das animadas aves que haviam resolvido fazer avenidas nos passeios pelos seus braços e ombros.

Scully já havia conseguido livrar-se das incômodas aves.

Com um impetuoso e forte gesto, Mulder afastou para longe de si o bando de pombinhos.

Logo em seguida avistaram um homem que corria em sua direção.

Dana olhou-o com um sorriso de censura.

Repentinamente seus olhos distinguiram algo que a havia espantado.

Uma escorrida e feia mancha havia colado-se em sua roupa, sobre a camisa, do lado esquerdo.

Mulder ia preparando os dedos para passar na mancha.

Dana juntou os lábios e olhou de soslaio para Mulder, tentando não achar engraçado ver que teriam que caminhar até aquela longa distância.

Resolveram seguir o homem que os convidara a ir até sua casa.

O homem falava sem parar, caminhando à frente do casal.

Mulder e Scully, de mãos dadas, seguiam-no, somente ouvindo o que ele tinha tanto a contar sobre a região na qual habitava.

Mulder levantou a mão.

E saiu, em desabalada carreira, pela campina afora.

Dana voltou a face em direção do céu. As nuvens brancas e transparentes haviam desaparecido, dando lugar a outras pesadas e escuras.

Neste exato momento um consistente e pesado pingo de chuva caiu-lhe exatamente na ponta do nariz.

- Mas será...? - ele voltou o rosto para cima.

Dana encontrou, mais uma vez, um bom motivo para rir à vontade.

Ela aproximou-se para agarrá-lo e apertá-lo junto a si.

Porem ele não a largava e começaram a rir, beijando-se, descontraidos e felizes.

Grossos pingos de chuva, agora, começavam a despencar do alto, pegando-os de surpresa.

Ela grudou seu corpo ao dele.

Continuavam abraçados ali, grudados, recebendo em seus corpos as pesadas gotas de chuva que já caiam com vontade.

"Só falta o tempo a quem

não sabe aproveitá-lo."

Jovellamos