PURO ROMANCE

 

"O amor é o mais agradável

episódio do romance da vida."

Sophie Arnould

Capítulo 54

E continuaram ali, os dois, Mulder e Scully, abraçados, esquecidos do que os cercava... do seu trabalho, das complicações da vida, do mundo, enfim.

A chuva forte, benfazeja para o chão continuava a encharcar cada vez mais suas roupas.

E eles continuavam assim, tratando de deixar permanecer na sua mente somente os fatos interessantes e diferentes, como os daquele momento que estavam a usufruir do que a natureza pródiga lhes queria oferecer.

Dana sorri, e encosta mais nele, suspendendo bem as pontas dos pés para poder assim, colocar o queixo no seu ombro.

Dana agarrou-se ao pescoço de Mulder e deixou-se levar.

Na torrencial chuva.

A água da chuva fazia escorrer pelo rosto de Dana os fios do seu cabelo despenteado.

Dez minutos de caminhada, já faziam Dana achar suficiente o tempo para Mulder carregá-la.

Ele fingiu não ouvi-la.

Ele fitou bem o rosto da amada, conformado, e a colocou no solo.

Apressaram o passo para chegar logo até onde se encontrava o carro.

De mãos dadas. Sob a chuva. Molhados. Cabelos e roupas encharcados.

Alcançaram o carro. Mulder abriu a porta.

Ele olhou a roupa molhada, grudada em seu corpo.

Dana restringiu-se a menear a cabeça, desgostosa.

Num ímpeto, Mulder arrancou do corpo a camisa que vestia. A calça também.

Ficaram os dois ali, sob a chuva torrencial, deixando-se lavar pela límpida água que as nuvens despejavam lá do alto.

Que lhes importava a chuva? A roupa molhada? O frio querendo enregelar-lhe o corpo, se no seu interior a chama do amor os aquecia?

Que lhes importava, enfim, o mundo inteiro? Tinham um ao outro. Era somente com isso que se importavam.

Continuou abraçado a ela, ardoroso. Como sempre.

Ela fêz um ar de derrota, deixando os braços arriarem ao longo do corpo.

Mulder ajudou-a a entrar.

Em seguida vestiu a calça e a camisa mesmo ali fora sob a chuva e em seguida entrou no carro, também.

* * *

A cidade de modesto casario parecia um tanto acolhedora.

Na vitrine simples várias roupas expostas, mostrava haver confecções para homens e mulheres.

Os olhos de Scully detiveram-se sobre um simples, mas simpático vestido de flores pequenas e suavemente coloridas.

Dirigiu-se à moça postada no balcão.

A vendedora trouxe-lhe o número pedido do modelo que havia escolhido.

Após isso, Dana pediu-lhe calcinha e soutien a fim de escolher umas peças.

Ele fez um sinal positivo com a mão, enquanto estava sendo atendido na outra parte do balcão por um rapaz.

Sairam ambos da loja com seus respectivos embrulhos.

Dirigiram-se para o local onde haviam visto uma placa, indicando ser um hotel.

O entardecer já havia chegado.

A chuva torrencial havia cessado. Apenas uma teimosa garoa insistia em cair sobre a pequena cidade.

Ainda com suas vestes ensopadas, dirigiram-se à entrada do hotel, no qual o recepcionista fora de extrema gentileza.

Uma mulher empregada do hotel, levou-os a ocuparem um dos inúmeros quartos que formavam a hospedaria.

Mulder sorri.

Ambos correm para o banheiro.

Precisavam tomar um bom banho e vestir as roupas novas e secas.

* * *

Mulder já havia deixado o banheiro, enquanto Dana ainda nele se arrumava.

Ele colocou-se diante do espelho do antigo guarda-roupa junto à parede.

Dana, no seu vestido um pouco longo e decote profundo, no tecido de lindo florido, parecia-lhe uma figura das que via em ilustrações de contos românticos.

Ele parou para observá-la mais atentamente. Tomou-a nos braços.

Permaneceram abraçados.

Ele a embalava, docemente, dentro dos seus braços. Aspirava o perfume que emanava dos cabelos dela.

Sentia-se feliz por estar ali, naquele lugar diferente e simples com a sua Scully.

Ela afastou o rosto do peito dele para fitá-lo:

Ele fê-la voltar a colocar o rosto contra seu peito.

Apoiou o queixo sobre seus cabelos; continuava embalando-a, com imensa ternura.

Dana beijava-lhe o pescoço de pele quente e veias pulsantes.

Ficaram assim, entregues às sensações singelas de um puro e infinito amor.

Entregues aos devaneios de inspirados pensamentos de amor que os levava a serem os protagonistas do mais puro romance.

Ainda abraçados, chegaram até a janela de poucas dimensões existente no aposento.

Olharam para fora. O céu escurecido não tinha estrelas, indicando que a chuva ainda atrapalharia bastante naquela noite.

Ambos permaneciam calados, fitando a paisagem ante seus olhos.

Para que falar? Por que quebrar a doçura e o encantamento daquele momento?

Mulder alisava agora os cabelos de Scully e, de vez em quando, pousava neles os lábios.

Scully, pequena, alcançava com os lábios apenas seu pescoço e queixo, no qual dava pequenas mordidinhas, fazendo graça em seus carinhos.

Ela concordou.

Sairam do pequeno hotel.

O chão de pedras irregulares havia secado um pouco da chuva que havia desabado horas antes.

Em todas as árvores as folhas brilhavam, molhadas pelas gotas da chuva que havia caído.

O som de um pássaro noturno fez-se ouvir naquele instante.

O casal caminhava, de mãos dadas, inteiramente entregue à delicia de se sentir, se tocar, apenas com as mãos, mas como se nelas estivesse o seu próprio coração.

"A linguagem do coração é universal;

só é preciso sensibilidade para entende-la."

Duclos