PALAVRAS E LÁGRIMAS

 

 

"Há palavras que choram

e lágrimas que falam."

Cowley

 

Capítulo 55

Dana guarda a última pasta que tem às mãos, dentro do arquivo de aço.

Sente-se cansada, cada dia mais.

A essas alturas, no final do expediente e após um dia atribulado de afazeres e problemas, deseja por fim, chegar ao seu apartamento e sentir a paz que dele emana e lhe faz bem.

O colega de trabalho vai saindo.

Dana conclui a última arrumação em seus relatórios.

Suspira. Olha à volta do ambiente.

Tudo ainda lembra Mulder.

Como ainda lhe chega à lembrança o caminhar dele em passadas largas, decididas, jogando os pés, no seu modo muito especial de andar...!

Como ainda lhe chega à lembrança o toque de suas mãos de dedos longos e macios, em princípio titubeantes, porém mais tarde tão ardorosos e audaciosos...!

Como ainda lhe chega à lembrança o seu olhar, incrivelmente esquadrinhador, que parecia desejar penetrar no mais íntimo dos seus pensamentos ...!

Como ainda lhe chega à lembrança a sua voz, inconfundível, lenta, suave, porém excessivamente sedutora, apesar das palavras quase inaudíveis ...!

Embora as pessoas até comentem que ela está muito bem, que acostumou-se facilmente à parceria no seu trabalho com o Agente Dogget e que também já se pode ver novas feições em seu semblante antes tão abatido e sofrido... isso tudo não significa alegria no coração e sim a convicção pura e simples de que nem tudo está perdido.

Ela tem seu filho. Já o pode sentir até.

Lentamente senta-se numa cadeira para uma breve meditação. Fecha os olhos.

Começa a falar baixinho, colocando as duas mãos sobre seu ventre, onde sente um leve pulsar. O coração de seu bebê.

Dana abre os olhos.

O ambiente à sua volta somente lhe traz as recordações do homem amado.

Tudo continua do mesmo jeito no lugar. A única diferença mais terrível é a ausência dele.

E Dana, rapidamente, como se querendo exigir da sua mente uma limpeza completa nos pensamentos, dirige-se à porta para sair.

Caminha a passos rápidos, subindo os degraus que levam aos corredores para tomar o elevador.

Na porta principal do prédio, pára um pouco.

Percebe que diminutas gotas de chuva lhe tocam o rosto.

Novamente ouve alguém a chamá-la.

Pára e volta-se para olhar.

- Dana! Não é possível! É você mesma!? - a mulher aproxima-se, sorridente.

Abraçam-se, calorosamente.

Ambas riem.

Saem caminhando juntas.

A amiga sorri para olhá-la.

Dana não a responde.

Entram no carro de Barbara.

Colocam os cintos de segurança.

Scully continua em sua mudez.

E Barbara discorre, sem parar, sobre toda a sua vida, sua carreira, seus ideais.

* * *

Chegando até onde haviam planejado, a amiga de Dana estaciona o carro.

Scully limita-se a um leve sorriso para a amiga.

Entram no restaurante para jantar.

O garçom aproxima-se.

Resolvem as duas amigas a pedir o prato de sua preferência.

Barbara olha a amiga mais calada do que nunca diante de si, fitando o cardápio que está sobre a mesa, mas com um claro vazio no entristecido olhar.

Há muito tempo Scully não tinha ao seu lado alguém amigo que lhe falasse tão carinhosamente e interessada no seu real sofrer.

As lágrimas surgem-lhe nos olhos azuis, rapidamente inundando-os.

Ela fixa a amiga Barbara com o semblante triste e pesaroso, por muitos minutos e mais ainda continua fixando detidamente o olhar sobre a outra diante de si, tentando engolir com dificuldade o pranto, e como se naquele seu olhar estivesse a pedir um amparo.

A cada segundo mais e mais lágrimas toldam-lhe o olhar angustiado. Logo elas passam a deslizar lentamente sobre sua face.

Scully nada consegue explicar. Nem uma só palavra consegue pronunciar.

Como poderia? Com a garganta completamente fechada, sufocando-a, pela tristeza do que está passando? Com o coração tão amargurado, pesado dentro do seu peito?

Permanece calada, enquanto a amiga, desistindo de fazer as insistentes perguntas, toma entre as suas as mãos de Scully.

Scully sacode a cabeça, afirmando entender.

Aceita o aperto das mãos da amiga como um consolo para o seu coração.

Neste momento, ela meneia a cabeça, negativamente.

Scully, por mais alguns minutos, continua a fitar a amiga que lhe fala, limitando-se apenas a fazer sinal com a cabeça de que ela não se está se sentindo incomodada com suas palavras.

Aquele choro para ela é mais que um desabafo.

Mesmo sem palavras.

Vai fazer o possível para deixar passar aquele emocionante momento de desalento diante de Barbara, sua amiga de há muito tempo, para então, diante dela desfiar seu rosário de lagrimas e palavras.

"Amigo é aquele que nos ajuda a tomar

uma pílula amarga, envolvendo-a em açúcar."

Sophie Loeb