"A amizade entre um homem e
uma mulher não passa de um
ponto de apoio que os conduz
ao amor."
Capítulo 6
Mulder e Scully suspiram profundamente olhando a grande quantidade de carros e policiais ao lado das ferragens retorcidas dos veículos após a colisão.
Ambos estão cansados, extenuados mesmo, pelo imenso trabalho de auxílio no resgate de vidas das pessoas acidentadas na estrada.
Da enorme carreta com seu motorista e os dois ajudantes, todos encontram-se em estado grave.
No carro de passeio em que viajava uma família composta dos pais e dois filhos, somente estes foram feridos no acidente.
A mãe aflita pedia aos médicos e enfermeiros que salvassem sua filha, a que estava em estado grave.
Mulder tenta acalmar a mulher, enquanto Dana, abaixada junto à moça ensangüentada, tenta mantê-la acordada, examinando junto com o médico o profundo ferimento.
Afastam-se agora dali, deixando por conta da equipe de resgate e salvamento a vida dos acidentados na estrada.
A vista que descortina-se durante sua passagem pela região é deslumbrante.
Na vasta planície um verde pasto repleto de uma grande manada, cujos animais lentos e pesados no andar arrancam com a boca os tufos da fresca vegetação que cobre o chão.
Lá adiante coqueiros altíssimos e um extenso milharal.
Mulder, com os braços cruzados à nuca, mantém os olhos fechados no banco arriado do carro, fazendo do assento um leito.
- Mulder...?
Silêncio.
Mais longos minutos transcorrem sem que eles conversem.
Ele ergue o banco do carro para conferir.
X x x x x x x x x X
Tudo muito calmo na paisagem bucólica do lugar.
Pouca gente transitando, uma praçinha que parece ser o principal local da pequena cidade.
Algumas charretes ainda circulam, como se tivessem saído de uma outra era do tempo.
No hotel modesto, mas de confortáveis instalações, o homem da recepção anota os nomes dos hóspedes.
Acompanha Dana, que já subia as escadas para o andar superior:
A chuva torrencial que caíra desde algumas horas atrás os surpreendera grandemente, devido a ter havido mudança brusca do brilho ofuscante do sol para as nuvens acinzentadas que haviam trazido a chuva.
O frio viera com força total nesta tardinha.
Dana ocupara seu aposento.
Já desfizera um pouco a mala com os pertences que necessitaria usar.
Tomara um banho e sente-se ainda bastante cansada por muitos quilômetros da cansativa viagem. Prepara-se confortávelmente para ficar no seu quarto, até o anoitecer, quando então descerão para o jantar.
Deixa-se ficar, relaxadamente, jogada na cama, deixando os pensamentos fluírem em abundância na sua mente.
Fecha os olhos, enfia os dedos entre os cabelos, massageando lentamente o couro cabeludo.
Um choque de algo frio e pesado toca-lhe o peito neste instante.
Senta-se assustada:
Instintivamente seu olhar dirige-se ao teto:
Levanta-se e pega o telefone numa mesa.
Solicita um outro quarto o qual lhe é negado por serem os últimos vagos os que ela e Mulder ocupam agora.
A apatia da voz do outro lado da linha a irrita. Dana bate o telefone no gancho, esbravejando de raiva.
Põe-se a observar a posição da cama, que deveria ser colocada em uma posição estratégica, para não ser alvo da incômoda goteira.
Dana olha à sua volta: um imenso e inútil armário ladeando-a, um sofá minúsculo, mesas, rack com aparelhagem e outras coisas. Tudo isso não lhe permitiria mover um centímetro a cama do lugar. Em suma, em nenhum ângulo poderia ser arrastada a cama do local onde estava instalada .
Havia ligado novamente para alguém na recepção que lhe prometera dar uma solução para seu caso.
X x x x x x x x x x X
Quarenta minutos já se haviam passado e Dana, aborrecida, resolve pedir a Mulder um auxílio no que necessita.
Veste um quimono e dirige-se para o quarto no final do corredor.
Dá na porta as pancadinhas habituais. A porta abre-se.
Ele a faz entrar no quarto.
Não teve tempo de começar sua explicação.
Mulder toma-lhe uma das mãos para coloca-la em sua própria testa, mostrando que está com o corpo em alta temperatura.
Mulder joga-se na cama, enquanto ela sai.
Seus olhos ardem. A cabeça dói-lhe. O coração acelera.
Logo ele ouve os passos de Dana no corredor e a vê de volta.
Fá-lo tomar o analgésico, enquanto o agasalha, como faria a uma criança.
Dana senta-se na cama junto a ele, abotoando-lhe o agasalho no qual está vestido. Coloca sobre ele um cobertor leve até a cintura.
Chega-se bem próximo e envolve-o com os braços, como a protegê-lo com seu carinho.
Mulder fica ali, entre os braços de Dana, aninhado no calor de seu peito, sentindo-lhe a maciez dos seus seios, naquele corpo frágil , mas de tanta garra e força para viver.
Dana sente o tremor involuntário que vem de dentro do corpo dele.
Afaga-lhe os cabelos e os beija mansamente, nina-o como a um criança, balançando suavemente o corpo, para que ele possa sentir o leve e doce embalo.
Dana sorri ternamente.
Adora-o Não o deixaria de maneira alguma naquele estado.
E continua embalando-o docemente, encostando-o entre seus seios, numa doçura sem fim.
Nada é dito por minutos e minutos.
X x x x x x x x x X
Mulder abre os olhos neste momento e quase nem acredita no que vê e percebe estar ainda nos braços agasalhantes de Dana, a sua parceira, a sua ajudante, a sua companheira, a sua vida, o seu... - a palavra ecoa no seu pensamento.
"O meu amor!" O meu amor! Eu sei que ela ainda não aceita essa minha paixão e nem me retribui, mas eu espero, ainda..."
Ele havia aberto os olhos e conscientizara-se estar nos braços de Dana.
Ela, sentada na cama, recostada na cabeceira o fizera adormecer carinhosamente e agora ele nota que ela também havia adormecido naquele aconchego e estava com a cabeça um pouco pendente para um lado.
Mulder, com o máximo cuidado possível, tenta não mover um músculo sequer para não despertá-la daquele sono tão gostoso.
Porem, num dado momento em que ela abre os olhos, sente-o acordado e logo começa a colocar a mão em sua testa. Abre-lhe um pouco o agasalho à altura do pescoço e coloca a mão em sua pele, para sentir-lhe a temperatura.
Ela rapidamente suspende-lhe a cabeça para que ele a retire de seu colo.
Ela o retira doce e decididamente do seu colo.
Levanta-se.
Ele já se vai retirando do quarto, quando Dana o chama:
Ele leva em sua direção o habitual olhar perscrutante, um meio sorriso maroto nos lábios.
Ergue uma das mãos e fala:
Ela se surpreende com sua perspicácia:
Ele dirige-se à saída do quarto. Antes volta-se para dizer:
X x x x x x x x x X
A noite continua enregelante.
Dana já instalada com seus pertences no quarto de Mulder, assiste também um pouco da programação da TV.
Ele levanta-se inopinadamente para responder:
Neste momento foi a vez de Dana levantar-se estupefata:
E enquanto Dana dá uma verdadeira dissertação sobre o assunto, Mulder dirige-lhe um olhar de verdadeira adoração acompanhando o que ela fala, deslumbrando-se com o desempenho maravilhoso de seu total conhecimento em medicina.
Dana cala-se. Nada indaga mais.
Mulder também cala-se.
Afinal de contas prometera não tocar nos sentimentos que sente por ela.
Solta um profundo suspiro.
Dana sorri levemente, concordando e saem.
X x x x x x x x x X
O salão de refeições do hotel bem decorado, destoa com a rudeza das pessoas da pequena
cidade e com o desconforto dos quartos dos hóspedes.
Todas as mesas e cadeiras em junco, belas e transparentes cortinas guarnecendo as janelas, dão um aspecto acolhedor ao recinto.
Mulder e Scully impressionam-se com a pura beleza do ambiente.
Ele a ajuda a sentar-se e olham através da grande janela de vidro o grande terreno gramado, que se descortina até centenas de metros dali.
Já chegara a noite e o imenso prado está aqui e ali ornado com faixas prateadas pela luz da lua que parece, naquele local fora da cidade, resplandecer sua luz com maior intensidade.
Pontinhos que acendem e apagam no espaço, que vem dos vagalumes, fazem o deleite dos que estão apreciando a paisagem lá fora.
Decorre a hora do jantar quase em silêncio, pois Mulder e Scully estão somente entregues à infinita amplidão dos seus pensamentos.
Terminam a refeição e, enquanto Dana passa discretamente o guardanapo sobre os lábios, Mulder olha-a para perguntar:
Dana entende-lhe o desejo de ir lá fora desfrutar da beleza noturna do prado à sua frente.
Levanta-se, demonstrando um ar de resignação.
- Tudo bem, Mulder.
Eles saem e Mulder coloca as mãos em sua cintura, enquanto dirigem-se à porta de saída.
Um objeto, esvoaçando, cai quase aos pés de Dana, o que faz Mulder logo abaixar-se para o pegar:
Haviam notado que a foto caíra das mãos de uma das pessoas que haviam passado por eles.
Mulder toca levemente no ombro de um jovem que está acompanhado de uma mulher de meia-idade.
Mulder lhe entrega a foto que logo é pega pela senhora, que explica:
A mulher, com um largo sorriso, simpaticamente dirige-se a Dana e Mulder:
Fala isso e puxando o rapaz por um braço, afastam-se dali.
Mulder olha para Dana, que também procura o seu olhar, num momento pleno de admiração, respeito e amor.
Acariciam-se com o olhar.
Como se estivessem beijando-se.
Com os olhos aprofundados um no outro, em puro êxtase, como se, naquele instante quisessem tornar realidade as palavras da desconhecida. E isso os faz esboçarem um meigo sorriso.
Pois,
"Existe no olhar dos que se amam um doce e
profundo mistério que ninguém ousa desvendar,
para que não se quebre o encanto que os faz
sorrir, sem saber porquê..."
CONTINUA
14.04.2000