A VERDADE ESTÁ... NO CORAÇÃO

 

Capítulo 61

"Não é dificil encontrar a verdade; o difícil é,

uma vez encontrada, não fugir dela."

Etienne Gilson

 

 

FBI

Dana Katherine Scully

Agente Especial

Ela lê, examinando o crachá em sua mão.

Sente no coração um peso, o que a faz tornar-se ansiosa, talvez até um pouco pesarosa.

"- Não! Nada disso! - pensa - Tenho que sentir-me inteira e completamente feliz!"

Sim, é isso. Sabe e percebe exatamente que não tem razão de ser a sua tristeza por encontrar-se afastada de seu trabalho no Bureau., pois agora Dana vai realizar o seu maior sonho: ser mãe. Ter em seus braços o fruto do seu quase impossível amor com Mulder.

Num relance sua mente retorna ao desespero daquela noite de horror.

Lá no alto do escuro céu, a nave alienígena carregando a esperança de vida de Mulder, o retorno dele à este mundo... mas os gritos de Dana ecoaram na amplidão da escuridão.

Ela nem sentia o ardor da aspereza da terrra sob seus joelhos dobrados no chão.

Só sentia o terror, o horror, o desespero da dor por perder daquele modo a oportunidade de salvar o seu amado.

E o seu clamor continuava ressoando na pretidão da noite.

E Dana Scully, de joelhos, deixou o corpo alquebrado vergar-se ao peso de sua dor. E de seu pranto.

Como num filme as cenas continuam a passar por sua mente.

Depois o corpo, a morte, o fim.

O corpo de Mulder sendo levado ao túmulo.

Seu alento, seu último suspiro fôra ali junto àquele esquife.

E suas lágrimas silenciosas eram a demonstração do sofrimento sem par que lhe dilacerava a alma.

Depois, meses de agonia maior que os anteriores, porque a desesperança, a certeza da morte agora era o sentimento que tomara conta do seu coração tão despedaçado!

Dana Katheryne Scully, a forte e destemida agente do FBI então era apenas um ser frágil, quebradiço. Só queria viver por um só motivo que lhe dava forças: seu filho.

Mas agora... agora ambos estão felizes e em paz.

Ela e Fox Mulder.

Mulder. O seu amado, a sua vida, a sua alma gêmea, que lhe inspira um amor que transcende até a mais profunda das verdades.

Dana coloca o distintivo sobre um móvel e dirige-se para o quarto.

Mulder ainda muito enfraquecido, não tem encontrado motivação nem mesmo para jogar nos ouvidos de Dana as frases irônicas que lhe saem habitualmente da boca.

Ele está na cama, deitado de lado, olhos fechados, tez empalidecida.

Dana aproxima-se. Senta-se à beira da cama. Alisa suavemente os cabelos dele.

O seu Mulder querido está de volta.

À vida. Ao mundo. Ao seu coração. Aos seus braços ansiosos.

E com ele veio a verdade. A verdade que nunca deveria ter sido encoberta, por mais complicada e inverossímil que fosse.

A verdade que esteve sempre dentro de seus corações. A verdade do real sentimento que ambos tentaram esconder ou desprezar por longo tempo, na sua jornada juntos pela vida agitada e perigosa da qual sempre compatilhavam.

E essa verdade veio à tona. No momento certo, com seu filho; o fruto do seu verdadeiro sentimento.

E embora pudesse essa verdade causar certos embaraços em suas vidas, levando-se em conta que são solteiros, e mais a vida extravagantemente fora dos conceitos de um lar que ambos têm.

Mas essa é a verdade de suas vidas... a verdade de seus corações.

Mulder, sentindo o afago em seus cabelos, abre os olhos.

Num jeito triste. Cansado. Sofrido.

Dana achega-se a ele, abraçando-o ternamente.

Mulder abre os braços para receber os dela com carinho e especial atenção.

Enlaça o corpo amado, agora disforme pelo volume do ventre grávido.

Não há palavras.

Nas últimas horas somente há a alegria que se manifesta interiormente dentro de seus corações, por se terem reencontrado e sentido renascer a felicidade de estarem juntos, embora o sofrimento ainda persista em compartilhar de seus momentos.

Dana deitada sobre Mulder, fazendo o possivel para não jogar o peso de seu corpo sobre o peito enfraquecido dele, deixa-se levar pelo enlevo de tê-lo ali ao seu alcance.

Sente que o corpo dela está altamente sensivel, enquanto seu coração está completamente carente de compreensão e carinho.

E o carinho que os aconchega é imenso.

Dana demora para responder à pergunta de Mulder. Enquanto mantém-se jogada sobre o tórax dele, permite que os soluços baixinhos saiam de seu peito abalado pelo sofrimento.

Mulder, ternamente, a envolve com mais calor e preocupação.

Novamente ficam por vários minutos imóveis, agarrados um ao outro, sentindo o pulsar de seus corações em uníssono, sedentos de proximidade e carinho.

Ela esboça um vago sorriso.

O bebê parece estar desejando virar cambalhotas onde se encontra.

Dana assente, sorrindo entre as lágrimas.

Senta-se, endireitando o corpo, a fim de não mais incomodar a criança.

Em alguns segundos o bebê tranquiliza-se.

Dana segura a mão de Mulder em direção de sua barriga.

Mulder acaricia-a, levemente.

No mesmo instante forma-se como um pequeno volume móvel sob a pele de Dana.

Mulder senta-se.

Une seu corpo ao de Dana.

Permanecem assim, parados, apenas sentindo os protestos de seu filhinho, que lhes declara, com seus incessantes movimentos, estar visivelmente incomodado por sentir-se apertado entre os dois.

Ambos riem, agora, percebendo as reações do bebê.

Silêncio. Permanecem somente sentindo em sua pele os movimentos lentos de seu filho.

Vez em quando uma espécie de pulinho vem do interior da pele bem distendida do ventre de Dana.

A risada cristalina de Dana ressoa pelo ambiente.

Mulder afasta-se para segura-la pelos ombros:

Ela balança a cabeça, concordando. Faz menção de recostar-se.

Mulder ajuda-a, cheio de ternura, a buscar amparo para ela na cabeceira da cama. Reune travesseiros sob as suas costas.

Mulder afaga-lhe os ruivos cabelos:

No mesmo instante um rápido e bem definido gesto faz Dana desenhar em sua face uma expressão entre dor e felicidade.

Dana coloca os dois braços sobraçando o pescoço de Mulder.

Ele meneia a cabeça, entendendo.

Ele aperta-a contra si.

Pensa comsigo mesmo. E os seus próprios dias de angústia, desespero, dor e saudade? Por quanta desgraça havia passado! Até chegar à própria morte! - recorda ele.

Mas havia recebido o dom do retorno à vida. Para os braços de sua amada Scully, Para o seu filho.

Sente-se agora completamente livre de pensamentos negativos, de antigas idéias atormentadoras.

Até pode pensar num futuro com sua Scully e o bebê... seu filho.

Mulder recosta-se à cabeceira da cama, junto a Dana.

Envolve-a com os braços, apoia a cabeça em sua avolumada barriga.

Com o ouvido encostado na pele dela, tenta ouvir qualquer som que possa vir de dentro do ventre de Scully, como as batidas do coração da criança.

Dana afaga-lhe os cabelos revoltos, beija-o suavemente na face. E deixa-o entregue à sua conversa com o filho.

Dana ri, prazerosa:

Mulder ergue o corpo, um tanto assustado.

Mulder sentado, tem seriedade no semblante, enquanto mantém o olhar fixo no ventre de Dana.

Enquanto Mulder vai falando, Scully acompanha o discorrer das idéias dele, meneando a cabeça, sorridente.

Mulder levanta rápido a cabeça, olhando-a, franzindo as sobrancelhas, apertando os lábios.

Mulder toma entre as mãos o rosto de Dana, com ternura e beija-a nos lábios, com um leve sorriso.

Rapidamente ajeita-se em seu lugar e retorna à posição anterior: cabeça apoiada sobre a barriga de Dana, acariciando-lhe a pele clara e morna, sob a fina camisola.

Mulder... eu esperava noites sem fim poder sentir novamente esse calor do seu corpo

contra o meu, seus braços que me enlaçam e protegem com essa ternura... - e ela,

enquanto fala, enchem-se-lhe os olhos d' água - ... quantas vezes, Mulder, eu sentia

exatamente isso que estou sentindo agora... essa emoção quase incontida... - as

lágrimas descem silenciosas pelo seu rosto - ... e era tudo tão real... - suspira fundo e

engole o choro - ... que eu sentia você, sua respiração, Mulder... seu hálito... como se

estivesse aqui... do meu lado!

Um soluço cheio de dor escapa do peito de Scully, enquanto o sente junto ao corpo de Mulder., que também tem em sua face lágrimas de emoção a correr.

E Dana sabe que o seu corpo pede a proximidade do dele.

E ele a aperta com carinho, ternura e muito amor.

Neste momento Mulder encosta novamente a cabeça no ventre de Scully e em seguida, afasta-a; um grande volume está se formando, demonstrando que o bebê está desejando movimentar braços e pernas.

Dana emite um gemido de dor.

Ela está arfante, ansiosa e seu semblante denota um certo desconforto.

Mulder levanta-se rápido, preocupado.

Ele, solícito e apressado, dirige-se à cozinha.

Em poucos segundos está de volta.

Mulder segura com mão trêmula o copo com água.

Ele obedece.

Ela segura-lhe a mão para coloca-la sobre sua barriga.

Ele ágil, corre a buscar o que ela lhe pede.

Traz em seguida até ela a folhinha.

 

 

"A vida é um constante processo, uma contínua

transformação, um nascer, morrer e renascer."

Keyserling