GRATIDÃO E RECONHECIMENTO

 

"O reconhecimento é a

memória do coração."

Massieu

Capítulo 63

As noites para Dana haviam sido longas, solitárias e frias.

A voz do seu coração não tinha como se expandir.

Os seus anseios mais ínfimos não conseguiam ser satisfeitos.

Ela, neste momento, nos braços aconchegantes e quentes de Mulder, medita sobre a situação pela qual havia passado meses atrás, e que agora, no entanto, só tem que agradecer a Deus tanta alegria e felicidade.

Rememora há duas horas atrás.

Ela escutara a chave girando na fechadura da porta. Seu coração batera forte . E sentira-se feliz porque já estava achando-se bastante cansada e solitária àquela hora da noite. Foram muito longos e sofridos os meses sem o seu amado.

Ouvira a voz querida de Mulder a chamá-la.

Escutara o tilintar das chaves dele ao serem jogadas sobre a mesa.

Dana o vira entrando no quarto.

Ele colocara o pequeno embrulho nas mãos dela.

Com dedos frenéticos ela desfizera o pacote em suas mãos.

Dana observara o objeto delicado em suas mãos.

Dois corações entrelaçados, esculpidos em jade e pousados sobre uma base brilhante e escura também em pedra.

- É muito lindo, Mulder! Esses são os nossos corações unidos pelo nosso grande amor.

Dana o abraçara, carinhosa.

Ela agarrara-se ao pescoço dele.

Colara a face à dele, as bocas muito próximas, os cílios se roçando...

Ele beijara-a nos olhos, ternamente.

* * *

A TV exibe imagens que não estão atraindo a atenção do casal.

Mulder com o laptop à mão, usa-o, enquanto faz anotações num papel, sentado à mesa.

Dana, no sofá, pés esticados sobre o assento, deixa-se relaxar, enquanto tenta olhar para a tela luminosa da TV, o que somente lhe causa muito sono e, aos cochilos, tenta manter-se acordada.

Em dado momento, Mulder manuseando os papeís, sente que sua vista embaralha-se-lhe à frente. Sente-se cansado e sonolento. Olha para onde está Dana, no sofá.

Ela adormecera e um leve ressonar a faz movimentar o peito.

Mulder sai de onde está.

Aproxima-se de Dana. Observa-a

Dobra os joelhos no chão, para ficar mais próximo e contemplá-la.

Ali está Dana Katherine Scully, a sua parceira, sua amiga, o sua paixão, a sua mulher.

E em seu ventre carrega o fruto de seu amor .

Aquele atormentado e quase impossivel amor quase irrealizado.

O ventre de Dana, bem pronunciado, faz mostrar os movimentos do bebê.

Dana nem pode sentir, pois dorme tranquilamente. Está aproveitando os momentos em que pode faze-lo, pois, na realidade, é rara a chance do bebê permitir-lhe esse prazer.

Mulder continua a contemplá-la, como se estivesse examinando algo muito precioso.

A sua Dana querida. Amada criatura que sempre fôra o seu alento para viver sua atormentada vida de sofrimento, dor e solidão.

Todas as vicissitudes pelas quais havia passado, não fizeram-no, porem, esquecer esse seu grande amor por Dana. A gratidão que sente por ela sempre tê-lo compreendido e aceito seu modo de ser e ter para com ele paciência e abnegação.

Mulder, ainda ajoelhado junto a ela, retira, cuidadosamente uns fios de cabelo que caem-lhe sobre a testa. Cobre-lhe a pele branca deixada à mostra pela camisa larga que havia levantado, expondo Dana à temperatura fria da noite.

Passeia o olhar sobre toda a extensão daquele corpo pequeno, lépido e frágil, que nesta temporada está pesado demais.

A sua Dana, que sempre o entendera em suas atitudes às vezes impensadas, imediatas, como é de seu temperamento, é digana de seu reconhecimento.

Fica imagiando o sofrimento quase absurdo dessa mulher que está ali diante de seu olhar, terno, amoroso. Quanta dor e solidão deve ter sofrido em sua ausência involuntária.

O bebê continua seus movimentos de protesto pela posição de sua mãe, que, vencida pelo sono e o cansaço, deixa-se levar para os braços de Morfeu, sob o olhar apaixonado, respeitoso e, além de tudo, grato de seu amado Mulder.

Ele ajuda-a a levantar-se.

Ela pousa a mão sobre a barriga abaulada.

- Ah, meu Deus! Eu queria tanto uma coisa!

Ele abraça-a sorrindo e tomando-a no colo.

Mulder, ainda com Dana em seu colo, roça-lhe o nariz com a ponta do seu.

Ela enlaça-o pelo pescoço, sussurrando.

Já no quarto, coloca-a cuidadosamente na cama e queda-se, olhando-a com adoração.

Ajoelha-se aos pés da cama; coloca a mão no ventre de Dana.

"A vida consiste na

conquista do pão e do amor."

Anatole France