- Scully, tem certeza de que ainda está firme para enfrentar um passeio por aí?
- Mas não é por aí , Mulder! É somente ir a um shopping! - arregala os olhos, surpresa.
Ele observa-a, tranquilo, assim surpreendida:
- Scully, vai ter que andar, subir escadas...
- ... rolantes, Mulder! Além do mais, caminhar faz muito bem pra mulher que está esperando bebê!
Mulder, subitamente, segura-a em seus braços.
- Parece mentira...
- O que? - ela lhe lança um sorriso feliz e jovial.
- Você...
- ... esperando um bebê! - completa, apertando-se contra o peito dele.
Mulder acarinha-a, com toda ternura, afagando-lhe os cabelos e beijando-lhe suavemente os lábios rosados.
- A minha mulher... o meu filho! Scully... - ele coloca o rosto dela contra seu peito - ... Scully eu, na maior parte da minha vida, não tive grandes realizações... mas agora Scully... você é tudo o que eu mais precisava...!
- Aaah, ah! - exclama, afogueada.
- Que foi, Scully? - afasta-a de si para olhá-la.
- Nada, nada! Apenas o bebê deu um pontapé com mais força... e... - suspira fundo, apertando um dos lados corpo.
Mulder, solícito, quer saber:
- Está com dor aí?
- É... incomoda bastante... é o pezinho dele contra a minha costela... - responde, ainda afogueada, dando um suspiro.
Mulder a aperta contra si, sorrindo, prazeroso. Deseja compartilhar daquelas sensações com os movimentos da criança.
Scully, subitamente, mostra-se séria.
- Mulder... você...
- O que? - ele está distraido, examinando-lhe as linhas do ventre, contornando com a mão espalmada seu grande volume.
- ... você achou que eu...
- Fala! - ele incita-a a falar, ainda acariciando-lhe o abaulado ventre.
- ...ahn... achou que esse bebê...
Ele a fita, então e nota a seriedade do seu semblante e os olhos azuis úmidos em sua direção.
- Eu o que, Scully? Que foi?
- ... achou que esta criança não era seu filho. - termina a frase rapidamente.
- Ah, lindinha! - aperta-a contra si - O que é isso? Eu ainda devia estar com a mente enterrada lá naquele maldito túmulo e não notava!
Dana esquiva-se de suas mãos ansiosas por agarrá-la.
- Não vejo como nosso filho possa ser motivo para piadas!
Ele aperta-a agora contra si, preocupado.
- Esqueça essas palavras injustas, Scully. Me perdoa.
Ela mantém-se séria por uns segundos.
Ele não sabe o que fazer para demonstrar o seu desgosto por ter pronunciado palavras tão impensadas naquele dia. Ouve, dentro do próprio coração, as palavras ingratas que havia falado naquele instante: " Não sei onde posso me encaixar nisso, Scully!"
- Perdão, Scully! Eu não quero, jamais, voltar a te magoar!
Dana o afasta de si. Olha para o chão. Sente-se frustrada e triste.
Mulder deixa os braços cairem ao longo do corpo e observa-a à sua frente.
Ela o olha agora por instantes. Nota a ansiedade dele em receber seu perdão. Atira-se nos braços dele, com calor.
Enlaçados ficam, por alguns momentos, num quente abraço.
Mulder resolve perguntar:
- Quer ir mesmo passear?
- Tenho necessidade disso, Mulder. Houve um longo período em que fiquei somente limitada ao trabalho e aos meus anseios na espera de seu retorno pra mim.
- Sei, lindinha, eu sei. - arrebata-a do chão e a leva para o quarto - Pois trate logo de se arrumar. Já!!
* * *
Os passos um pouco cansados de Dana, acompanhados pelos pesados de Mulder, dirigem-se à uma grande e feéricamente iluminada vitrine de artigos para bebês.
Os olhos de Dana percorrem, cobiçosos, todo o esplendor da decoração ali preparada. Detém-se, vendo as inúmeras roupinhas suavemente coloridas ali expostas.
Os dedos de Dana apertam os de Mulder.
- É tudo muito lindo, não, Mulder?
- Hum, hum. - confirma, sem muito entender.
* * *
Os dedos ágeis e ansiosos de Dana manuseiam as peças de roupa, uma a uma.
- De qual cor vai levar, senhora? Azul ou...
- Não, não! - ela interrompe a jovem vendedora - Eu vou levar de qualquer cor. Não quero escolher.b
- Ah, ainda não sabe se é menino ou menina...?
- Exatamente. Não sei.
* * *
Mulder caminha com três sacolas entulhadas de pacotes entre seus braços, enquanto Dana, com somente uma delas, segura a mão desocupada dele.
- Vamos até ali, Mulder!
- Outra loja?
- Claro! Por acaso viemos aqui pra fazer o que?
- Ah, Scully, eu posso dar agora a minha opção?
- Tá, Mulder, tá. - fale o que quer fazer.
- Quero ir lá, naquela sorveteria.
- Aquela lá? - aponta, direcionando o queixo para a loja de guloseimas.
- Justamente. Vem! - ele a arrasta pela mão.
Entram na sorveteria e sentam em uma das mesas ali expostas.
Mulder pede os sorvetes ao garçom.
Na porta um rapaz com lindos balões coloridos seguros em linhas, deixa-os subirem até quase o teto do local, inflados que estão com o gás em seu interior.
- Scully, eu acho que você está querendo um balão de gás.
- Ah, está brincando, Mulder! Imagine! Eu não sou criança!
- Sei que não é você... mas o que está dentro de você. E não vai demorar muito, não poderemos escapar de certos apelos.
- Nosso filho?
- É, Scully. Quando ele estiver aqui junto de nós, nada escapará de seus olhinhos curiosos de criança.
Dana toma as mãos de Mulder entre as suas.
Fitam-se numa ternura intensa, tanto o que se delineia na campina verde brilhante dos olhos dele, quanto no límpido mar azul transparente dos olhos dela.
Seus desejos, seus sonhos, suas esperanças no porvir, todos esses sentimentos estão transparecendo no olhar extasiado e feliz de ambos.
O garçom traz os sorvetes pedidos.
- Ainda falta algum tempo pra me restabelecer da surpresa...
- ... surpresa do que, Mulder?
- Desse milagre que aconteceu com você... de poder conceber uma criança.
- Verdadeiramente, até pra mim não deixa de ser uma maravilhosa surpresa. - ela dá uma risada, enquanto enfia a pazinha de madeira no sorvete - Eu vou morrer de rir, Mulder...
- De que?
- Quando você tiver amamentando o bebê!
- Eu?! Scully... - ele desliza as duas mãos sobre o peito - ... dá pra notar que isso é função só sua?
- Ah, Mulder, falo sério! Estou falando sobre mamadeiras... quando você estiver dando uma pro bebê!
Ele leva a mão em direção ao busto de Dana.
- Aliás, as suas estão aumentadas em dose dupla. - fala em voz quase inaudível.
Dana dá uma rápida batidinha nos dedos dele.
- Pára, Mulder! Não vê onde estamos?
- Tá bom, tá bom! - ele ri e continua a saborear seu sorvete; pára, repentinamente e segura a mão de Dana, impedindo-a de comer o doce gelado para fita-lo - Scully... neste momento eu quero te prometer que, de agora em diante, a minha vida será dedicada, inteira e completamente a vocês dois: minha mulher e meu filho. A vocês entrego toda a minha existência e vou procurar ser o melhor marido e o melhor pai que puder.
Dana o olha, amorosamente, e, aos poucos, seus olhos enchem-se d'água.
- Obrigada, Mulder. E quanto a mim, dedicarei o melhor de mim a vocês. Só o fato de vê-los felizes é que me trará satisfação e alegria dentro do coração. Serão sempre o meu amor.
"O segredo da vida alegre e contente é estar
em paz com Deus e com a natureza."
Pascal