À ESPERA DO FILHO

"Uma casa sem filhos é

uma colmeia sem abelhas."

Victor Hugo

Capítulo 65

Os dois deixam a sorveteria, encaminhando-se aos extensos corredores movimentados do shopping.

Dana estanca seus passos.

Dana beija-o na ponta do queixo.

* * *

Observam, minuciosamente, através do vidro da vitrine de uma loja de móveis para quartos infantis diante de seus olhos.

O casal entra e caminha entre os lindos móveis dispostos de modo a formar pequenos e decorados quartos para crianças.

Mulder a olha, surpreso:

Dana faz um gesto de quem sente algo espremendo-lhe algum órgão dentro de sua barriga.

Fitam-se com amor.

Os olhos perscrutadores de Mulder atiram-se em raios penetrantes nos olhos azuis de Dana, desejando estuda-la, esquadrinha-la e ver lá, bem no fundo a alegria e felicidade que a acompanham neste momento.

Por fim, toma-lhe a mão.

Enquanto caminham, aproximando-se do solícito vendedor, que, respeitosamente, achega-se ao casal, Dana vai comentando:

O vendedor já está bem próximo.

* * *

O apartamento de Scully, cheirando a limpeza desde as cortinas ao mobiliário, causa uma extrema sensação de conforto.

Mulder, refestelado no sofá, com olhar absorto vendo as imagens passando na tela da TV, está com os pensamentos completamente voltados para a nova e sensacional novidade que vai acontecer em sua vida.

Ao mesmo tempo sente um arrepio de terror ao imaginar seu filho, mais tarde, quando tiver conhecimento dos horrores deste mundo, souber que seu pai morrera e após cinco meses fôra desenterrado, para novamente voltar à vida, ao mundo, às coisas terrenas, à sua mãe.

O que poderá ele imaginar?

Qual será a sua reação?

O que isso poderá trazer de negatividade à sua vida futura?

Mulder recosta-se relaxadamente, apoia o cotovelo no braço do sofá, e, após isso, sustenta o queixo, meditando.

Deixa seus pensamentos correrem soltos.

"E seu eu não tivesse retornado à vida, o que seria de Scully, a minha Scully? Teria que criar a criança sozinha. A mãe dela parece não querer estar muito em contato com sua única filha... e isso não é bom... o irmão Bill, não gostando de mim, talvez nem tenha simpatia pelo sobrinho que vai nascer... e o outro irmão simplesmente desapareceu da vida de Scully. E ela estaria só... com o bebê... nosso filhinho... - coloca a cabeça entre as mãos, um tanto angustiado - ... a minha Scully é forte... mas será que continuaria essa sua fortaleza de mulher decidida até o fim?"

Os olhos lacrimejantes de Mulder umedecem-lhe as pestanas, ele percebe.

Sente, então, a mão de Dana pousada levemente em seus cabelos.

Ele limpa os olhos com as costas das mãos. Fá-la sentar-se sobre seus joelhos.

Dana nada fala. Deixa-o livrar-se das palavras tristes que lhes saem da boca.

Ela aperta sua face contra a dele, com carinho e ternura.

Imagina que dentro do seu próprio coração, conhece toda a intrigante reviravolta do destino do seu amado. E sabe que ele sofre muito com isso.

Calar, portanto, e somente escutar as palavras que lhe fluem do coração é a melhor coisa que tem a fazer neste momento.

Discrição é tudo.

"É grande desgraça não possuir bastante espírito

para falar, nem bastante juízo para estar calado."

La Bruyère