UMA ACUSAÇÃO

 

"Não te esqueças de que cada vez que apontas

o indicador acusando alguém, três outros dedos

estão voltados contra ti mesmo."

Capítulo 68

Grande azáfama está fazendo todos os funcionários agitarem-se, caminhando pelos corredores, entrando e saindo nas salas.

Os aparelhos telefônicos tilintam incessantemente. Vozes alteradas misturam-se ao ruído intermitente dos aparelhos de ar condicionado e das máquinas dos elevadores.

Mulder caminha a passos largos através do longo corredor, de cabeça erguida, embora seus pensamentos estejam distantes do que sua visão pode vislumbrar.

Só consegue recordar as torturas horríveis pelas quais passara por tantos meses, num lugar totalmente estranho não só para ele, mas para qualquer ser humano.

E sua vida nada significara para aqueles seus algozes que o prejudicaram e o fizeram perder a vida.

Antes de entrar na sala para onde fôra chamado, ele coloca a mão no bolso onde está o celular. Toma o aparelho em suas mãos. Digita o número de sua casa.

Antes que Dana diga algo, logo ele fala:

Scully, em sua casa, dá um prolongado suspiro, apreensiva. Sente temor pelo que possa suceder a Mulder, com sua reputação irrepreensível dentro do Bureau, após tantos anos de dedicação ao seu árduo trabalho.

Mulder, por sua vez, sente também uma certa apreensão pelo que possa advir após o interrogatório programado pelos seus superiores. Está convicto, porém, que nunca, jamais se deixará dobrar por qualquer que sejam seus resultados.

Aproxima-se agora da porta do gabinete do Diretor Kersh. Entra. Cumprimenta a secretária e penetra na sala de reuniões.

Toda a Diretoria sentada à volta da mesa, aguarda a sua chegada.

Os pensamentos de Mulder fluem, enquanto encara os seus superiores.

"Deste momento em diante serei alvo para os dardos peçonhentos das perguntas capciosas que serão lançadas contra mim."

Mulder os cumprimenta.

A seguir, Mulder, ereto em sua cadeira, em atitude atenciosa, permanece por muitos minutos calado, aceitando a explanação que está sendo dada pelo seu superior.

* * *

Dana, colocando um alimento no forno de micro-ondas, repentinamente fica pensativa.

Embora tente permanecer tranqüila, percebe que em seu interior nada demonstra ter sossego; desde a mais frágil artéria até os mais importantes nervos e músculos de seu corpo estão tensos e sensíveis.

Ela não consegue desvencilhar-se dos pensamentos a respeito do que estão fazendo neste exato instante com Mulder, no Bureau.

"Estou ciente de que é o desejo dele deixar o seu trabalho no FBI algum dia, mas jamais pensará em sair sem pôr a limpo as idéias absurdas de alguém que o deseja condenar como um ousado e espertalhão agente criador de fantasias sobre homenzinhos verdes; e... ah, meu Deus, quanto eu o poderia defender neste momento! Mas é pouco viável essa hipótese, sendo ele agora o pai de meu filho. Jamais o FBI aceitaria a minha participação para defendê-lo."

Os pensamentos continuam martelando dentro do cérebro de Scully.

* * *

Mulder abaixa a cabeça, passa as mãos pelos cabelos.

Um rumor baixo das vozes dos homens ali reunidos, em comentários, pode-se ouvir.

O Diretor Kersh, com sua fisionomia austera, indaga mais uma vez:

* * *

Dana sente palpitações. Seu coração apaixonado não se cansa de ficar ansioso à espera de notícias.

O seu bebê, em conseqüência disso, também agita-se e a deixa perturbada.

Vai até a janela por diversas vezes, esperando ver o carro de Mulder chegando.

Recorda-se que, durante sua estada no FBI, procurava manter a conduta de sempre: séria, ponderada e discreta; jamais havia se deixado levar pelas emoções diante de seus superiores.

A não ser na presença de Skinner, que sempre demonstrou ser seu amigo. E isso a enche de grande emoção ao pensar o quanto sente por ele amizade.

* * *

Muitas perguntas ainda vão sendo feitas, enquanto Mulder, as vai respondendo, na medida do que poderia ter conhecimento.

O Diretor Kersh o observa com olhos críticos.

Mulder movimenta-se na cadeira. Passa os dedos acima da boca, como lhe é peculiar. Sente o sangue afluir-lhe à cabeça. Está cansado de tanto ouvir perguntas sem nexo.

 

"Não atires lama; talvez não alcances o teu alvo,

mas ficarás com as próprias mãos sujas."