REALIDADE...?

 

"A realidade é uma filha desnaturada que

renega o sonho - seu pai. "

Lucenay

 

Capítulo 7

O sol clareava as montanhas, formava raios quase sobrenaturais por entre as nuvens, banhava as folhagens, as matas, os caminhos e ruas de solo arenoso.

A brisa movimentava os galhos dos arvoredos, suas folhas, as palmeiras altaneiras no alto da colina, parecendo estar cumprimentado a quem por elas passasse.

Dana Scully parou para respirar.

Cansada. Ofegante.

Estendeu a mão para quem lhe oferecia ajuda.

Sentiu-se grata, segura, confiante.

O passeio ali, no alto da colina fazia-lhe muito bem.

Alçou a vista para distante.

Um casario modesto aparecia. Do outro lado uma ponte sobre um rio de águas mansas. À frente um extenso prado verdejante. No espaço do límpido céu azul as aves atravessavam com rapidez, emitindo seus piados que ecoavam por entre os montes.

E Dana sorriu. Um sorriso que traduzia a paz da paisagem que se estendia a seus pés. Sentia-se grande, poderosa neste instante.

O seu companheiro da pequena jornada lhe devolvia o sorriso, entusiasmado pela grandiosidade das coisas que a natureza lhes mostrava.

Dana Scully sentia na companhia daquele homem um gratificante bem estar, uma gostosa sensação de paz, sem contar o grande e infinito amor que lhe tomava o coração.

Ele era a sua própria vida. E há quanto tempo o amava! E há quanto tempo almejava estar assim; acima de todas as coisas, de todas as pessoas, de todos os caminhos, ruas e lugares, como estava ali, naquelas alturas.

Parecia-lhe, assim, poder sobrepujar as tristezas, os desenganos, os problemas, as coisas difíceis do mundo lá em baixo.

Sentia-se feliz naquele lugar.

Estava, pelo menos simbolicamente, sobre todas as coisas terrestres, mas sob o sentimento imenso do amor.

Do amor que outrora a havia deixado melancólica, na incerteza de que um dia iria acontecer experimentar a chama viva da paixão.

Paixão vibrante que suplantava-lhe os demais sentimentos. Aquela paixão que surgira despedaçando-lhe até sua racionalidade tão arraigada no fundo do seu ser.

E lá estava ela. E então, após subir a colina, extenuada, sentiu necessidade de mitigar a sede que lhe tomava a boca e o corpo. Mas não uma simples sede pela água, o líquido incolor e inodoro, composto de hidrogênio e oxigênio, mas a sede para mitigar os desejos do corpo com as delícias do apaixonante momento ali naquele lugar, onde somente o sol, as nuvens, a brisa, os pássaros, eram testemunhas de sua presença ali, sem impedimentos de alguém ou de alguma coisa ou até um rumor... ali estavam a sós, ainda que com toda a claridade com que os banhava o sol.

A mão dele a segurava com firmeza e carinho e Dana sentia-se protegida.

Ele abraçou-a, ternamente.

À sombra de um copado arbusto sentaram sobre a relva que cobria o solo como um manto verde aveludado em toda a colina.

Abrigaram-se do sol.

Palavras. Conversa banal. Troca de opiniões. Demonstração de sentimentos. Carícias no olhar. Afagos. E enfim...

Numa aproximação mais aconchegante ele havia tomado-a entre seus braços e ela não resistira. Para que? Afinal havia sempre esperado por aquele momento!

Deixava que os lábios dele acariciassem a sua face, seus olhos...

deixava que a quentura do corpo dele atravessasse as suas carnes...

sentia o desejo tomar conta dos seus sentimentos avassaladoramente...

entregou-se à boca sedenta dele, à sua língua exploradora...

deixava que as mãos dele a tocassem e explorassem até sua mais profunda intimidade...

e deixava que os sentidos estivessem acima dos sentimentos...

e então entregou-se ao amor de maneira total.

Sem barreiras. Sem pensamentos racionais ou plausíveis de entendimento.

Tudo o que mais quisera estava sendo realizado naquele momento.

E ele a tomava para si, a dominava, a satisfazia, a amava.

E ele, sequioso, parecia desejar como que sugá-la toda, consumi-la num só ato de amor.

Dana Scully se via na ânsia daquele momento com a felicidade a deixando sorrir pela realização do seu grande sonho em segredo guardado há muito tempo: estar entregue nos braços dele, num imensurável, lindo momento de amor...

Algum sino badalava em algum lugar abaixo daquela colina onde se encontravam.

Procurou alguma torre que indicasse um templo em meio àquele casario lá embaixo, porem não conseguia ver.

Pestanejou. Abriu bem os olhos.

Mas nada conseguia ver.

Seus perfumados lençóis, o cobertor aconchegante, o colchão macio, nada disso fizera impedi-la de despertar e voltar a olhar para onde vinha o tocar dos sinos.

O pequeno relógio despertador na mesinha de cabeceira despertara-a, enfim?

Não!

O ruído continua e Dana volta o olhar agora para o telefone que vibra com o som que sai do seu interior.

Finalmente Dana enfrenta a realidade.

Acorda de vez.

Atende estremunhada e desapontadamente:

"Sonhar é a felicidade,

esperar é a vida!"

Victor Hugo

 

CONTINUA

DATA 24/ 04/ 2000