MOMENTOS DE EMOÇÃO

"Vemos o universo através de nossas emoções"

Maurice Barrés

CAPÍTULO 72

Ela acordara bem cedo. Há bastante tempo não tem grandes chances de permanecer no leito sossegadamente.

Havia se levantado com todo cuidado possível e, após haver feito sua higiene matinal, volta até o quarto para olhar Mulder.

Ele, no meio da noite, já havia deixado-se escorregar para o colchão, deitado numa posição confortável.

Dana o observa amorosamente.

"Como o amo! - pensa - Ele é tudo pra mim! Quando penso nesses oito anos de convivência diária a emoção é tão infinitamente grande, que meu coração bate descompassado! - coloca a mão sobre o peito - Ele é pra mim como se fosse um pedaço do meu próprio ser... a minha própria matéria... o meu próprio espírito...! Deus! Quanto eu quero bem a esse homem... quanto eu venero esse seu jeito de ser... a displicência ... o seu modo desajeitado... jogado... despojado de vaidade... sua forma de me tratar... amável, respeitador, sincero, autêntico, singelo, puro como uma criança, embora por vezes mordaz, porém simples, honesto... Mulder!!"

Dana vê-se, inadvertidamente tocada pela emoção e entusiasmo e o nome do amado sai-lhe pela garganta em voz audível.

Coloca a mão na boca, preocupada se o gesto poderia acordá-lo.

No entanto Mulder continua no seu sono tranquilo, comodamente jogado entre os fofos cobertores.

Dana dirige-se à cozinha. Prepara a cafeteira.

Permanece ali, estática, por alguns momentos, enquanto ouve o som rouquenho da cafeteira borbulhando e deixando no ar o aroma da saborosa bebida.

Enquanto deixa o fumegante café preparar-se na cafeteira, retorna ao quarto.

Cuidadosamente abre o armário. Retira dele uma pilha de muitas roupinhas do bebê.

Começa a separa-las, conforme o tipo de peça, espalhando-as sobre a parte da cama que Mulder não está ocupando.

Casaquinhos, babadouros, sapatinhos, meias, toucas, camisas, toalhas de banho, um sem número de peças infantis, limpas, bem passadas e perfumadas.

Dana toma nas mãos um par de sapatinhos de lã e encosta-o à face, num gesto meigo.

"Sapatinhos para o meu bebê! - pensa, com doçura - O meu bebê! Até hoje quase nem posso acreditar! É um milagre muito grande que aconteceu na minha vida! Oh, meu Deus, como o Senhor é bom pra mim! Me dar esta alegria, essa felicidade...! No trabalho, embora eu não pudesse expandir minha felicidade com essa criança, para que todo mundo pudesse ver, nas horas vagas meus pensamentos eram voltados só para... meu filho! Ah, meu Deus, que bom poder dizer: meu filho, meu filho, gerado por mim sem necessitar outra mãe para... - ela pára um pouco de manusear as peças de roupa em suas mãos - ... Emily era minha filha... que eu não pude gerar... - seus olhos brilham com as lágrimas.

Ela dirige o olhar para Mulder.

Ele continua a dormir, tranquilo, com semblante calmo, feliz.

Até estranha tratá-lo dessa forma.

Dana tem em mãos agora uma saboneteira. Tenta destampa-la. Está dificil de abrir. O esforço que faz para abrir a peça, faz com que a mesma deslize de suas mãos, caindo ao chão.

Mulder abre os olhos.

Ele apoia-se em um dos cotovelos:

Dana sorri.

Mulder a observa, com um vago sorriso.

Mulder avista à um canto do quarto uma grande caixa.

Ele senta-se com as pernas cruzadas sobre a cama. Continua observando Dana.

Ela, neste momento, tem às mãos uma maleta. Coloca-a sobre a cama. Abre-a

Dana senta-se à beira da cama.

Mulder levanta-se, puxando-a para si. Deita-a sobre suas pernas.

Ela puxa-o para si pelo pescoço, forçando-o a aproximar o rosto do seu. Encosta demoradamente o rosto sobre o peito dele, sentindo o pulsar do seu coração.

Mulder ri.

"Toda criança vem com a mensagem

de que Deus ainda não está

desanimado com o homem."

Tagore