Mulder começara a trocar-se para sair.
Scully já havia preparado o desjejum e aguarda, de braços cruzados à frente dele, a sua resolução para o momento de tomar o café da manhã.
Sentado, Mulder calça as meias; num dado momento olha para Dana:
- Scully, você costuma recordar o passado?
- Eu...?
- Sim... você... não gosta de fazer isso?
- Bem, confesso que...
- Tenho certeza de que ele vem sempre à sua memória, Scully. - já havia calçado as meias - É muito importante pra nós.
Dana descruza os braços. Sorri.
- É verdade, Mulder. Eu costumo sempre recordar a minha angústia no tempo em que você havia sumido... e... quando aquele velho indígena ... o Albert Hosteen ... o curou...
Mulder dá uma risada, levantando a cabeça:
- ... e Deus permitiu que eu voltasse! Já morri duas vezes, Scully. Acho até que sou um imortal!
- Não brinca, Mulder! Isso é sério!
- Por que sério? É mais que engraçado!
Dana aproxima-se rápida, tapando-lhe a boca:
- Pára com isso, Mulder! Pode ser engraçado pra você; não pra mim, que fiquei aqui penando...!
Mulder abraça-a, falando sério:
- É a minha forma de fugir da tristeza disso tudo, Scully! Preciso usar esses fatos
sempre como uma piada. Bem... mas deixa a morte pra lá. Eu gosto mesmo é de
recordar as minhas investidas sem sucesso.
- Que investidas sem sucesso são essas?
- Você sabe, Scully, mais do que ninguém! Eu jogava meu charme pra você e você nem aparava, nem nada! Me deixava sempre a ver navios!
Mulder desprende Dana de seus braços.
- Era uma espécie de defesa, Mulder... eu tentava desviar minha atenção de você!
- Mas por que? Medo do que?
- Não era bem medo, Mulder! Eu guardava o meu coração para não sofrer paixões. Eu evitava a paixão que dentro de mim já se insinuava por você!
- Entendo... - abotoa o último botão da camisa - ... mas eu sempre quis você, Scully.
- Ah, Mulder... eu não estou aqui agora com você? Por que ficar relembrando os momentos negativos?
- Pra que você sinta como, realmente, eu te quero, Scully. E eu nunca fiz nada para evitar essa paixão doida que sinto por você! Desde a primeira vez que a vi!
- Desde quando entrei naquela sala e você voltou-se para olhar quem estava chegando e nem teve o cavalheirismo de levantar-se para me cumprimentar? - tem um ar zombeteiro.
- É... acho que desde aquela ocasião mesmo! - ele levanta-se, enfiando a camisa dentro da calça - Esses seus olhos, Scully !
- Persuasivos? - fita-o, amorosa.
- Mais do que isso! Tremendamente carregados de paixão, de indagação, de...
- Chega, Mulder! - implora, sussurrando em voz espremida.
Ele a agarra fortemente, cheio de terna ansiedade.
- Scully... Scully... como me segurei durante tanto tempo pra não agarrar você assim, como faço agora!
Ela somente ri, prazerosa.
Mulder afasta-se dela e rapidamente veste o restante da camisa, abotoa a calça. Dá um tapinha na nádega de Dana.
- Vamos, Scully tomar logo esse café! Você precisa alimentar esse bebezinho aí e eu tenho que ir. Há até um visitante hoje no FBI.
- Quem?
- Eu não soube de quem se trata. Mas vamos logo! - arrasta-a para a copa.
* * * * *
A mulher observa os três homens com olhos indagadores, provocantemente sentada, com as bem torneadas pernas cruzadas diante deles.
- Mas senhor Skinner, o senhor está com um quadro de Agentes muito...
- ... muito...? - indaga o Diretor.
- ... tentador! - ela conclui, com ênfase.
Os três homens deixam que suas risadas inundam o ambiente austero do gabinete.
- É verdade!! E sei que a competência está de braços dados com a imponência dos seus Agentes.
- Imponência?! - quer saber Doggett.
- Não sei se a palavra certa é essa, Agente Doggett. Eu sou uma mulher que observa os mínimos detalhes de tudo, inclusive dos homens.
Mulder sorri e olha-a, somente.
Recorda-se de que tempos atrás havia sofrido um certo constrangimento por causa das atitudes impensadas da mulher que está à sua frente agora. E o ciúme que ela havia causado à Scully naquela época.
- Você deve permanecer durante quanto tempo aqui no FBI? - pergunta o Diretor.
- O tempo que o Bureau necessitar dos meus préstimos, senhor Skinner.
A mulher levanta-se, tendo seu gesto acompanhado pelos três homens.
O Diretor Assistente adianta-se:
- Posso ajuda-la a ir até o hotel?
- Não... não é necessário... bem... ah, Agente Mulder, eu gostaria de conversar mais um pouco com você. Pode ser?
- Claro! Esteja à vontade! Estou às ordens!
Ela levanta a mão espalmada de bem tratadas unhas pintadas com esmalte resplandecente.
- Mas não aqui, se não se importa. - pede, com gestos de coqueteria.
- Não me importo. - é só o que diz Mulder.
E, acompanhado pela mulher, Mulder retira-se da sala do Diretor.
"A coquete é uma mulher frívola e fria que
fala do coração como os cegos das cores."
Mme. Deluzy