O barulho dos motores dos automóveis nas ruas está impedindo Mulder de ouvir com clareza as palavras da insinuante mulher à sua frente.
- Como disse? – pergunta a ela.
- Eu falei, Agente Mulder, que se você fosse um cavalheiro, me convidaria agora para jantar.
Mulder sorri.
Voltam-se os dois ao ouvirem o chamado.
Aproxima-se o colega do Bureau.
- Agente Mulder, preciso lhe falar! - avisa o recém-chegado, aproximando-se.
Mulder faz uma aceno com a cabeça, compreendendo o desejo do outro.
Apresenta ao rapaz a sua acompanhante.
- Agente Davis, esta é a Detetive Angela White.
- Como está? – diz o outro, cumprimentando-a
- Agente Davis, – Mulder volta a falar - se é um cavalheiro, convide a Detetive White para jantar.
- Ora, como não?! Será um prazer! – diz o outro, sorridente, e logo dá um recado - Agente Mulder, o Diretor Skinner pediu que você ligue para ele antes de ir embora.
- Ok, obrigado Davis. – fala Mulder.
A boquiaberta e atarantada Angela White queda-se a observar sua quase presa afastar-se no seu caminhar peculiar.
E enquanto caminha, Mulder toma o celular para fazer a ligação para o Diretor Assistente, que, segundo seu colega, está aguardando sua chamada.
Desnorteada, Angela lança um sorriso para o simpático Agente Davis ao seu lado.
- Agente Davis, vai deixá-lo ir assim?
- Como? - ele não entende.
- Eu perguntei se vai permitir o Agente Mulder ir embora assim!
- Bem... você sabe... é final de expediente...
- ... final de expediente?! Como um agente especial do FBI pensa ter esses privilégios? O Agente Mulder tem casos a resolver comigo!
- Ah, é? E por que não o chama?
- Porque você, Agente Davis, sendo um cavalheiro, não vai deixar que uma senhora fique se esgoelando na rua, para chamar uma pessoa!
O agente arregala os olhos, admoestando-se a si mesmo por ser tão mal-educado com uma dama.
- Tem razão, Detetive White, tem razão. - brada a seguir - Agente Mulder!!
Mulder pára e olha para trás.
- Agente Mulder! – chama ainda o outro.
O casal aproxima-se de Mulder em passos apressados.
- O que houve? – Mulder quer saber, desligando o telefone em sua mão.
- É somente um lembrete, Agente Mulder... – inicia Angela - ... sobre a investigação de amanhã.
- Lembrete?
- Sim; nós devemos ainda hoje iniciar os relatórios concernentes ao início da investigação...
- Mas temos que aguardar o resultado da autópsia da vítima!
Angela segura-o firme pelo braço:
- Aah, Agente Mulder, você está brincando! – volta-se para o outro – Ele não é engraçado, Agente Davis?
- Ahn? Bem... é...
- E então? – continua segurando o braço do agente – Não vai concordar com a sua colega aqui?
- Não, Detetive White; sinto muito.
- Mas afinal, - irrita-se - O que está havendo?
- É que prometi à Scully...
- Prometeu o que... a quem...?
- Scully... Dana Scully.
- Aaah... – dá uma divertida risada - ... Dana Scully!! Eu me lembro! Como está ela?
- Bem, bem! - apressa-se a dizer.
- Eu me recordo dela, Agente Mulder. Você ainda a vê?
- É... eu... ela.. . nós... – titubeia.
- Bem, Detetive White... Agente Mulder... peço-lhes licença; eu estou indo.
E Davis logo afasta-se do local, apressadamente.
Angela dá alguns passos.
- Bem Agente Mulder, acredito que não vá agora deixar-me a falar sozinha aqui no meio da rua.
- Claro que não! Coloco-a num taxi.
- E por que não me dá uma carona? – ela pergunta, insinuante.
Mulder nada responde. Recomeça a caminhar.
- Bem... assim é melhor. - diz Angela seguindo os passos dele.
Chegam até próximo ao carro.
Mulder abre a porta para entrar; senta-se ao volante. Joga sobre o painel do carro o telefone celular.
Angela aguarda do lado de fora, que ele destranque a porta do lado do carona, segurando a maçaneta. Mulder destrava o trinco da porta.
Angela abre-a e entra.
- Oh, obrigada, Agente Mulder! Você é um distinto cavalheiro!
Mulder permanece calado. Liga a chave de ignição do motor.
- Por acaso você recorda que ficou me devendo algo na última vez que nos vimos?
- Tem boa memória, Detetive White.
- Esteja certo disso, Agente Mulder! E... então?
- Vou deixa-la em seu hotel.
Angela o observa por alguns instantes.
- Alguma coisa mudou nesses últimos anos, agente Mulder!?
- É uma afirmação ou uma pergunta?
- Deixo a seu critério.
Mulder cala-se. Em seus pensamentos maldiz-se por estar dando atenção à mulher, mas sente que é somente por uma questão de cortesia que está atendendo a seus apelos. Começa a dar a marcha a ré no carro, para deixar o estacionamento.
Com a atenção voltada para a parte traseira do veículo, não percebe os olhares mais que cobiçosos de Angela White sobre si.
Ele a olha de revés.
- Estou no Bringhton Hotel. Sabe onde é? Não muito longe daqui.
- Ótimo.
- Aaah...! - geme alto - Tenho certeza de que vai subir comigo e iniciaremos nossos trabalhos hoje mesmo.
- Não aposte nisso. – retruca Mulder.
- Nossa!! O nosso antigo e conquistador Agente está tão diferente agora!
- Conquistador...?! - sorri.
- Ah, Mulder! Claro que conquistador! Quem naquele dia abraçou-me daquele jeito? Por acaso existe outro Fox Mulder? - faz uma pausa para olha-lo - Tenho certeza que não! Você é absolutamente único!
Mulder sorri, lisonjeado.
- Muito bem, Detetive White, o que deseja, afinal? Que a leve até o hotel?
- Tem alguma outra sugestão?
O sinal luminoso vermelho faz com que todos os veículos tenham que parar.
Angela coloca o braço sobre os ombros de Mulder.
- Aah, Mulder... Fox... – faz um tom de voz suave ... sabe que desde aquele dia você
jamais saiu do meu pensamento?
- E daí você consultou um psicanalista. – diz sarcástico.
Ela continua envolvendo-o com o braço às suas costas.
- Ah, Mulder, não é possível que você...
Um tranco pelo reinicio da partida do veículo faz Angela dar um pinote para a frente.
- Francamente, Muilder! Se não fosse estar presa no cinto...! - reclama.
- Desculpe, Detetive White.
- Tão formal...! Pode tratar-me por...
- ...Angela. - ele completa.
- Han, han! - ela sorri - Olha Mulder... eu gostaria de completar o que aquela sua colega interrompeu.
- Sabe que agora não há nenhum alinhamento astral neste período, não é?
- Para esse caso não precisa a interferência dos astros. – sussurra.
Mulder não responde. Essa mulher bonita, insinuante e coquete o tenta de todos os modos. Mas o seu coração está voltado para casa. Para a sua Scully. A dona de seus pensamentos.No entanto deve proferir uma palavra, a qual se torne uma atitude decisiva para essa mulher que está ao seu lado agora.
"Uma palavra dita a tempo vale mais
do que um longo discurso tardio."
Denis