MALICIOSOS SORRISOS

"Há sorrisos que ferem como punhais."

E. Blasco

Capítulo 75

Mulder resolve falar. Tenta usar um tom brando na voz.

Imediatamente ela cobre-lhe com a mão os lábios:

A mulher atira-se, jogando as costas, contra o banco do carro.

É interrompida pelo telefone que está tocando sobre o painel do carro. Mulder pega o aparelho.

Angela observa atenta as palavras de Mulder.

"Por que não interromper esse diálogo?" - imagina em sua mente corrupta.

Repentinamente Angela segura fortemente a mão de Mulder para tomar-lhe o telefone.

Este, por sua vez, tomado de surpresa, diminui a pressão dos dedos e larga seu celular nas mãos de Angela.

Ela dirige-lhe um cativante sorriso e levando o telefone ao ouvido, agradece:

Dana perde a noção, por alguns momentos do que deveria responder.

Dana não responde em seguida. Mil pensamentos sobrevoam sua mente atordoada.

"Angela White! Como poderia esquecer essa mulher? Há alguns anos atrás teve um caso com Mulder. Foi rápido, mas ele deixou-se envolver pelos encantos dela. Ah... como tenho desprezo por essa mulher!"

Dana pronunciar a frase com sarcasmo, antipatia e, ao mesmo tempo, seu coração teme o que poderá acontecer por saber de Mulder junto àquela detestável criatura.

Dana desliga o telefone após essa frase.

Angela White sorri, maliciosamente prazerosa, fitando o semblante chateado de Mulder.

Enquanto mantém em seu ouvido o telefone desligado por Dana e vendo o semblante de um prazer maligno no rosto de Angela, Mulder dá uma guinada rápida, a fim de livrar-se de uma batida num automóvel que ia passando junto ao seu.

Um xingamento furioso do motorista do outro veículo é o que o faz despertar e perceber que está deixando-se levar pelas emoções do momento.

* * * * *

Dana fecha os olhos, tonta e enraivecida.

"Mas que desplante essa mulher falar comigo ao telefone! Talvez seja essa sua forma de vingança por eu ser-lhe antipática. Ela tem raiva de mim desde aquele tempo em que encontrei ela e Mulder na cama. Aquele cena deixou-me louca de ciúmes! Mas... meu Deus! Agora ela está lá... com ele! Mulder! E como reagirá ele a essa investida? Ele resistirá? E será que o amor que me tem é suficiente para enfrentar o assédio de uma mulher como aquela?" Dana sente seu bebê inquieto.

Coloca a mão na barriga, como para protege-lo dos seus problemas emocionais.

Repentinamente uma grande náusea toma conta do seu estômago. Leva a mão à boca e anda rápido até o banheiro.

Mas, como por encanto, o enjôo logo passa. Fôra uma simples insinuação de um súbito mal-estar, proveniente do momento de tensão pelo qual passa no momento.

Dana sente-se triste, acabrunhada. Parece-lhe ter voltado àqueles dias trágicos de meses atrás, quando sofrera infinita solidão. Tristeza, angústia e abandono.

Estas são as sensações que se manifestam em seu ser nesta hora.

* * * * *

Mulder, sem mais conversar, dirige atento às sinuosidades da pista sob a pouca iluminação.

Ele diminui a velocidade. Estaciona o carro diante da fachada do hotel.

Mulder fita-a, com um enigmático sorriso.

Abre a porta do carro e sai. Dá a volta ao veículo, abre a porta do carona e, com um gesto de mão, convida-a a sair.

Diante da atitude decidida dele, Angela hesita em deixar o veículo. Logo sai, então.

Sai em disparada do local, cantando pneus, deixando Angela na calçada, olhos fixos nos reflexos das luzes que batem no veículo se distanciando.

Enquanto está com as mãos tensas presas ao volante, os pensamentos de Mulder vagueiam, procurando entender o motivo pelo qual a insinuante Inspetora Angela White o havia escolhido para uma de suas conquistas.

Essa situação o faz sentir pesar pelo que pode acontecer com Dana Scully, caso ela imagine que ele estava fazendo companhia à Angela por sua própria escolha.

"O amor consola de tudo,

mesmo do pesar que causa."

P. Rochépedre