QUASE EM LÁGRIMAS

"Uma lágrima diz mais

que qualquer palavra."

Alfred de Musset

Capítulo 76

Mulder encosta as pontas dos dedos levemente na pele do rosto de Dana.

Recostada em uma pilha de travesseiros, está adormecida. Abre os olhos e logo vê Mulder à sua frente, sentado na beira da cama a contemplá-la com amor.

Ele toma-lhe as mãos.

Ela as retira de entre as dele.

- Por favor, Mulder! Estou exausta! - queixa-se.

Ele aproxima-se mais dela:

Mulder faz um gesto de abraça-la.

Dana, com gesto rápido, apesar do corpo pesado, volteia na cama e levanta-se.

Mulder levanta-se da cama, também.

Dana fecha os olhos e mantém-se em pé, junto à janela do quarto. Respira fundo.

Mulder sente, neste instante, que algo há no ar, impedindo-os de se entenderem.

Prefere afastar-se e não insistir conversar com Dana.

Ela deve estar furiosa, percebe.

Mulder vai até a copa.

Toma um copo de água gelada. Que lhe congela, quase, os gorgomilos. Sente-se tenso. Aperta, com gesto nervoso, o copo entre suas mãos.

"Angela White! - pensa - É por causa dela que Scully está cismada. Mas eu não tenho culpa e necessito comprovar isso a ela."

Volta ao quarto, então.

Scully continua de pé, ao lado da janela.

Mulder nota que ela está ofegante.

Ele a vê colocar a mão sobre o ventre e apertar os lábios.

Ela somente com um meneio, responde negativamente.

Dana o olha, agora. Seu olhar azul está brilhante de dúvida que transparece vindo lá do fundo de sua alma.

Mulder aproxima-se para colocar u'a mão sobre seu ombro.

Ela continua a fixar nele os olhos grandes e expressivos, sem, no entanto, responder ao que ele pergunta.

Dana espalma as mãos, a fim de fazê-lo entender que está encerrado o desagradável assunto.

Caminha pelo quarto. Traz no semblante um ar cansado e aturdido.

Mulder cessa de falar. Não deseja incomodar Dana. Certamente ela não se sentirá bem se houver uma discussão entre os dois.

Entra no banheiro, carregando as roupas que vai trocar.

Dana veste sua camisola, calmamente. Está com os nervos em frangalhos. Sente com isso que seu bebê encontra-se bem irrequieto. Parece compartilhar de seu mal-estar. Ela ajeita os lençois da cama. Recosta-se na cabeceira. Entre os inúmeros travesseiros.

Permanece com os olhos fechados. Tem medo. Um medo perverso de perder o homem que ama e que já quase perdera para sempre. Suspira profundamente. A garganta aperta-se-lhe, sufocando-a Sente desejo de chorar.

Está quase em lágrimas, quando...

Mulder aproxima-se.

Somente a luz difusa do abajur ilumina o ambiente.

O berço, num dos cantos do quarto, ali vazio, continua parecer estar pedindo para logo abrigar o pequeno ser que se encontra guardado dentro daquela mulher lutadora, forte, que jamais deixara-se levar pelos amargores de sua vida atribulada.

Ela, ainda de olhos fechados, pode sentir os dedos leves de Mulder sobre seus cabelos.

Dana discretamente movimenta os olhos fechados ainda, tentando concentrar-se nas palavras pronunciadas por Mulder.

Dana abre os olhos, mostrando um semblante estupefato. Porém nada diz. Aguarda as palavras restantes.

Mulder continua:

Dana continua fitando-o muda, para ouvi-lo falar mais.

Está atenta às palavras dele e seu olhar brilhante está quase inundado de lágrimas pela emoção. Ela faz menção de abrir a boca, para falar algo.

Mulder cobre-lhe os lábios, rapidamente com os dedos:

Quase em lágrimas Dana permite que Mulder lhe afague as mãos trêmulas e ansiosas.

Quase em lágrimas percebe a sinceridade e o respeito com o qual Mulder lhe está falando. E quase em lágrimas sabe, está ciente de que sua própria vida sem ele não tem razão de ser, pois sempre fôra esse o motivo que a havia levado a existir até o presente momento. Esse amor grande, imenso, que a arrebatara e sempre a fizera sonhar com esse dia em que ambos haveriam de compartilhar, entendendo que não podem, enfim, viver um sem o outro.

"Quem só vive para si,

não é digno de viver."

Boissy

Nota: Desejo agradecer à minha amiga Sanmya pelas palavras inspiradas para a elaboração deste Devaneio.

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