APENAS AMIGOS...

"Para que tantos amigos? Basta

um só quando nos estima."

Florian

Capítulo 80

Abraçam-se, com o olhar fixo no bebê.

A criancinha estremece, mais uma vez, os pequenos punhos fechados sob os olhares enternecidos dos pais.

Mulder toma uma das diminutas mãozinhas do bebê, abaixa-se para toca-la com os lábios. Em seguida ergue-se e volta-se para Dana, segurando-a por um braço.

Ela o acompanha em seu passos.

Mulder senta-se relaxadamente, com tanta impetuosidade, que chega a jogar os pés para o alto. Refestela-se, comodamente.

Dana senta-se voltada para ele.

Mulder toma-lhe as duas pernas e coloca-as sobre as suas próprias, para ajuda-la a descansar e relaxar os músculos.

Ele fecha os olhos, concentrado.

Dana leva as mãos ao rosto, afogueada e sorridente:

Ele rindo também, joga a cabeça para trás:

Ele acariciava-lhes os pés, massageando-os.

* * *

Dana permanecera atenta na vigília ali, dentro do carro, em seu íntimo torcendo para que logo chegasse a hora de sair daquele lugar, aguardando movimentos do assassino que comia fígados.

Após mil acontecimentos no seu dia tumultuado, havia voltado para casa, cansada.

O ruído do telefone celular a tocar a perturbou naquele momento.

E ela, ao apanhar o aparelho, logo ouviu:

As palavras irreverentes do colega a espantaram. Nem respondeu.

Mulder desligou o telefone.

* * *

Após essa narrativa de Dana, Mulder começa:

Naquele momento, Scully, senti-me o mais isolado e desprezado dos homens e daí...

* * *

Como sempre, ele sentiu-se muito só. Como se isolado do mundo. Sua vida só tinha graça agora quando estava trabalhando... junto a sua fiel e linda parceira.

Ficou parado junto a janela. Olhos fixos no céu escuro.

O pensamento foi, como sempre, para sua irmã , desaparecida nas mãos de quem sabe quem? Onde? Lá tão no alto do espaço?

Mas como costumava a acontecer nos últimos tempos, a todo momento seus pensamentos iam e vinham somente numa direção: Dana Katheryne Scully.

E no céu escuro, com milhares de estrelas, sua vista e mente confundiam os rostos de Samantha e Dana.

* * *

Dana esboça um leve sorriso, diante da narrativa de Mulder.

* * *

Dana chegara em casa.

Colocou as chaves na mesa. Tirou o casaco, pensativa.

Imaginou o porquê da sua firme decisão em não deixar a sua parceria com o Agente Mulder, nos seus trabalhos de investigação. Sabia que não podia e nem deveria faze-lo.

Ele era, embora às vezes indelicado, impertinente e até mesmo antipático, uma pessoa que lhe causara certa pena, um homem extremamente carente.

Notara isso desde quando haviam conversado nos seus primeiros dias de trabalho.

Ele não se sentia feliz com os pais, que por sinal eram separados; vivia para estar sempre em busca de sua irmã que ele dizia ter sido abduzida por seres extra-terrestres aos oito anos de idade. Isso o tornara obsecado pela idéia de resgata-la das mãos de alguém. De qualquer pessoa que a tivesse raptado, eliminando, é claro, as suas idéias malucas de abdução por alienígenas.

Esse homem, que tinha a mente voltada para coisas fantásticas, era, além de tudo, um ser carente de apoio, de carinho e compreensão.

Dana fechou os olhos, absorvida em seus pensamentos e pensou no namorado, no qual havia dado um fora. Terminara com ele, assim, sem mais nem menos.

Mas não se sentia triste. Sentia-se bem. Feliz até. Esse antigo relacionamento que cessara não lhe fazia nenhum falta. Tinha agora o seu sempre tão desejado trabalho e tinha... Fox Mulder

* * *

Mulder sorri, lisonjeado.

* * *

Mulder, antes de ir para seu apartamento, havia passado numa casa de ração para animais. Comida para seus peixinhos era o que necessitava comprar.

Fez a compra, pagou e voltou-se para sair.

O azul do fundo decorado de um aquário imediatamente fez-lhe lembrar os olhos de sua parceira de trabalho.

"Dana Scully. - pensou - É... acho que fiquei impressionado com o olhar daquela garota!"

* * *

Um choro fraco como um pequeno gemido faz com que o casal saia depressa do sofá e corra até o quarto.

Ambos apoiam as mãos sobre as grades do berço do bebê.

Ele passa o braço sobre os ombros dela.

Dana dá uma risada.

Encaminham-se para a copa.

Enquanto coloca a louça e talheres na mesa, Dana sorri, com o pensamento voltado ao passado.

Ele está retirando copos e utensílios do armário na parede.

- Era assim, Mulder, que você pensava sobre mim? Sempre...? A todo instante?

"Coisa trabalhosa é sempre

começar uma vida."

Seneca