PAZ E AMORES

 

 

"Só se conhecem as doçuras da paz depois

de haver provado os amargores da guerra."

Vilante do Ceo

Capítulo 82

Entre os fofos e macios cobertores Mulder e Scully encontram, além da paz, o conforto para seus corpos.

A noite gelada lhes propicia o desejo de aquecerem-se, aconchegados.

Ela sorri e agarra-o, apertando-se contra ele.

Dana somente ri, jogando-se na cama, sobre os cobertores, divertida.

Ele a agarra com ímpeto:

Dana toma entre suas mãos o rosto de Mulder, coloca os lábios ternamente em sua testa, bem entre os olhos, num beijo suave, macio, gentil, como já o fizera tempos atrás.

Mulder recebe, de olhos fechados, esse carinho singelo, quietamente.

De súbito, prende-a em seus braços.

Dana bate na própria testa.

Dana aperta-se contra ele.

Dana ergue para ele a boca, inundando-o com seu olhar azul.

As bocas se unem, num beijo sôfrego, quase desesperado pelo desejo de ambos. Sentem que há um certo sofrimento por haverem esperado tanto tempo para manter um relacionamento amoroso.

As mãos de ambos procuram reciprocamente os caminhos mais íntimos de seus corpos. O ritmo acelerado de seus corações pulsa igualmente com o latejar de suas carnes túmidas e desejosas.

Amam-se. Deleitam-se com a recíproca demonstração de seu amor.

No quarto a paz sempre tão almejada pelo casal carente de felicidade os deixa agora repletos de satisfação no prazer de seus corpos.

* * *

O leve chorinho do bebê é ouvido.

Dana olha o relógio antes de dirigir-se até o berço.

O bebê agita os bracinhos. Chora mais.

Dana diz isso e logo vai apanhando uma fralda para trocar na criança.

Ela faz a troca da fralda, agasalhando o bebê muito bem. Com a fralda molhada na mão dirige-se ao banheiro, a fim de joga-la na lixeira.

O choro do bebê aumenta de intensidade.

Mulder não resiste a ir até o berço. Toma a criancinha nos braços.

Dana reaparece no quarto.

Dana pára, por segundos, absorta na cena que está assistindo.

Mulder, aflito por ver o seu filhinho chorando, tenta niná-lo em seus grandes, porém ternos braços de pai.

Dana sente-se emocionar com este quadro: está diante dos seus dois amores, nessa paz benfazeja, que a enche de júbilo no coração.

Mulder coloca o bebê nos braços da mãe.

Dana ri e logo vai ajeitando um modo confortável para alimentar o seu filhinho.

Enquanto Dana permite o bebê ir mamando, Mulder fica deitado na cama fitando a enternecedora cena.

Cena terna. De paz. E muito amor.

Seu filho precisa disso. Eles dois também.

Observa Dana, suave em seu papel de mãe amorosa, afagando os tenros cabelinhos do seu filho, enquanto ele lhe suga o seio.

Mulder relembra aquela noite de Ano Novo, em que, timidamente beijou Scully nos lábios, dizendo após:

"- Viu? E o mundo não acabou..."

E naquela noite já podiam prever que o novo milênio poderia lhes trazer muitas coisas boas. Tem, portanto, que deixar as lembranças desagradáveis para trás.

A sua morte estúpida e cruel. O sofrimento de Scully em sua ausência. O nascimento tumultuado de seu filho...

Mulder sabe que agora precisa relaxar. Nem tudo está perdido. No mundo ainda existe a alegria, a paz, o amor, a quase felicidade.

"Sem a alegria, a humanidade não

compreenderia a simpatia e o amor."

Ramalho Ortigão