MAS NÃO É DOCE RECORDAR
"Aquilo" que foi duro de
padecer é doce de recordar."
Sêneca
Capítulo 85
Dana abre os olhos. Dormira muito. Felizmente.
Porque nesses dois meses não o tem conseguido fazer com frequência. A criança, o seu filho lhe toma todas as horas e minutos.
Ela olha ao seu lado. Mulder. Ainda dorme.
Acha-o maravilhoso. Belo. Puro. Ingênuo. Menino.
Por vezes o temperamento de um super-herói e por outras o olhar curioso ou extasiado de uma criança.
Este é o homem que ama. Pleno em multiplicidade de atitudes.
Num repente vem à mente de Dana a ocasião em que aguardava no hospital o ressurgimento no corpo de Mulder da vida a que ele tinha direito, ainda.
Dana sente voltar à dor daquela ocasião. Coração sangrando. Olhar fatigado pela espera. Corpo alquebrado pela angústia e o peso do seu bebê ainda no ventre.
E ela ali, firme, aguardando, segurando a mão do homem amado, que jazia semi-morto no leito do hospital.
E seu coração então pulsou forte após sentir um tênue movimento nos dedos dele.
Ela relembra ter assim exclamado.
E Mulder, movendo os olhos e a boca, fitou-a
E a pergunta que quase jogou Dana por um buraco negro de dor e desesperança.
"- Quem é você?"
Terrível frase para ouvir. Só durante segundos. Os quais pareceram séculos!
Dana parece despertar de um sonho.
Dana sorri, entre as lágrimas que lhe escorrem no rosto.
Dana tenta engolir o chôro.
Mulder sorri.
A sua Scully tem toda razão. Já suportara muitas ocasiões ruins e perversas em sua vida. Vivera, na sua ainda juventude, todos os dramas que um ser humano pode passar. O corpo ainda é jovem, porém a alma envelhecera pela experiência.
Dana continua com lágrimas nos olhos.
Com o rosto colado ao peito dele, sente que não é capaz de ter um rápido esquecimento daquela cena que tanto a ferira no coração. Involuntariamente os soluços lhe martirizam.
Pode perceber também, que neste momento seus soluços que lhe rompem o peito têm dois significados: a tristeza pela lembrança do passado e a alegria por ter o amado ao seu lado.
Mulder a abraça, emocionado.
Ela levanta a cabeça e sorri. As lágrimas ainda escorrem-lhe nas faces.
- Agora, - Mulder continua - estamos aqui, numa relativa felicidade com o
nascimento do nosso filho e vamos torcer para que se prolongue o tempo dessa
nossa paz. Acho que merecemos um pouco de sossego. Vamos esquecer a dor
do que já passou!
Ela faz um meneio, concordando. Passa a mão sob os olhos, enxugando a face.
Dana olha o seu filho no berço, pensativa.
Mulder continua:
Dão-se as mãos e encaminham-se para o berço, com um sorriso nos lábios, onde sua criança dorme, placidamente.
"Um covarde é incapaz de demonstrar
amor; isso é privilégio dos fortes."
Mahatma Gandhi