UM MEDO ATROZ

"A imaginação é que produz o medo."

C. Diane

Capítulo 91

Empurrando o carrinho do bebê e de mãos dadas com Dana, Mulder caminha sobre a pequena praça de solo coberto por paralelepípedos.

Um vendedor passa por eles apregoando sua mercadoria.

Ela dá de ombros, indiferente.

Mulder chama o vendedor com sua mercadoria em pacotes de suave colorido presos numa grande haste, a qual ele segura em direção ao céu.

Mulder faz a compra. O homem agradece e sai.

Ela arranca com os dentes uma pequena e diáfana parte do algodão doce.

O bebê começa um choro discreto.

Examina-o entre suas roupinhas.

A brisa que soprava transforma-se num vento mais forte, o que faz Dana desanimar de trocar a fralda da criança ali mesmo, naquele local.

Dirigem-se para o lugar escolhido naquele momento.

Mulder afasta-se. Põe-se a caminhar.

Meninos brincando de bola de gude no meio da praça, chamam sua atenção. Por um momento pára os passos, a fim de apreciar a garotada feliz em seus folguedos.

Recomeça a caminhar e aproxima-se da pequena mercearia. Compra as suas sementes preferidas.

Saindo da mercearia, passa por uma banca de jornal, muito sortida até, para uma cidadezinha tão pequena.

Pára por instantes. Distrai-se, lendo as manchetes dos jornais do dia.

Notícias variadas: política, assaltos, sequestros e mais as amostras sensuais de belas mulheres em poses eróticas.

Lembra de suas fitas pornográficas que ainda existem em seu apartamento.

Passa os olhos pelos cartazes dos filmes que estão publicados num dos jornais. Erguendo a cabeça, sua vista alcança metros adiante. Vê um modesto cinema, que traz em cartaz um filme que não é atual.

Mulder esboça um leve sorriso, ao imaginar que ele e Dana, que vivem em perseguições ou são perseguidos, ali estão, nessa cidade quase desconhecida do mapa. Mas isso lhes faz bem. Sentem-se felizes. Leves. Precisam respirar um pouco num clima de paz e felicidade.

Balança um pouco a cabeça, concordando com seus próprios pensamentos.

Volta-se para retornar até onde Dana está com o bebê, do outro lado da praça.

Caminha em passos apressados e firmes até onde se encontra Dana, no armarinho em que a havia deixado.

Mas não a vê por ali, porém. Rápido olha para um lado e outro no lugar.

Aproxima-se da pessoa junto ao balcão:

Mas a fisionomia tranquila da moça, que o olha com ar indagativo, quebra sua paciência.

Em cada loja ou mercado, vai entrando, em busca de Dana e o bebê.

As pessoas só o respondem negativamente.

Mulder sente-se enlouquecido de terror. O medo, um medo atroz, começa a tomar forma em sua consciência.

O que acontecera com Scully e o bebê?

Iniciara-se na mente de Mulder uma espécie de pânico.

Os transeuntes o olham, como se fosse um ser de outro planeta. Não entendem seu pânico.

Lembra-se de pegar o telefone celular no bolso.

Abre-o, rapidamente, e vai coloca-lo junto ao ouvido, quando lembra que Dana não está carregando o dela.

Com raiva, guarda o aparelho.

Sabe e sente que já não pode ficar acomodado. Tem que fazer algo. Tomar alguma providência.

Continua, quase em furor, a procurar, loja a loja, por Scully e seu filho.

Tudo em vão.

"Como pude deixa-la por momentos, sabendo que seria um risco?" - imagina nesse instante.

O ruído de cascos de cavalo a galopar sobre o solo de paralelepípedos chama-lhe a atenção e ele olha.

Uma charrete, sendo puxada por um vistoso e bem tratado animal, passa ali.

De repente um grupo de crianças aparece a correr distante, até aproximar-se da praça. Elas correm agitadas, a fim de alcançar um balão lindamente colorido que está caindo.

Mulder, por questão de segundos, põe-se a contemplar a brincadeira, fascinado pelo divertimento dos garotos.

Ele aproxima-se de um dos adolescentes que formam a minoria do grupo.

O menino meneia a cabeça, negativamente.

Faz a mesma pergunta a outro, que, da mesma maneira que o anterior, o responde em negativa.

Mulder pragueja pela situação, enquanto que, no mesmo instante, as crianças voltam a correr desabaladas, tentando alcançar o balão, brandindo para o alto as varas que têm em mãos.

Ele sai a correr pela rua. Sente que o suor já envolve-lhe o corpo. Gotas se lhe escorrem no rosto. Continua correndo.

Duas senhoras que por ali caminham, detém os passos para observá-lo. Olha uma para a outra, sem entender o que faz aquele homem bem apessoado, ali estar a correr como um louco.

Após ter alcançado o final da longa rua beirando a praça, Mulder retorna.

Sabe que é impossível, num espaço de tempo tão curto, ela ter desaparecido. Dana tem que estar ainda nas imediações.

Um homem apregoando com música sua mercadoria comestível, aparece na praça.

O ruído intenso da melodia provinda do carrinho envidraçado, toma todo o espaço, no ar.

Mulder faz um muxoxo, chateado. Mais a música, agora, para atormentar seu ânimo já revoltado com o acontecimento!

Grita, como se desejasse assim, sobrepor-se à melodia do homem que vende suas iguarias no carrinho musical.

A algazarra das crianças querendo tascar o balão, juntando-se à música do vendedor, deixa Mulder desnorteado.

Ele passa, novamente, em frente à loja em que deixara Dana minutos atrás.

No balcão, a mesma mocinha, distraidamente continua a folhear a revista, enquanto masca um chiclete e balança o corpo, acompanhando uma melodia que sai do pequeno rádio sobre o balcão.

Mulder recomeça a caminhar, apressadamente, pelas calçadas ao redor da praça, olhando no interior de cada loja dali.

Nas lojinhas em que existem portas fechadas, ele as abre para entrar, examina o interior do ambiente e, após isso, sai do local batendo estrepitosamente cada porta.

Esse seu impulsivo gesto, além de assustar, deixa indignado o dono de uma dessas lojas que, vendo o ex-Agente sair, acompanha seus passos e fica na porta, de mãos à cintura, meneando negativamente a cabeça, em sinal de reprovação.

Mas Mulder não se preocupa com a opinião de quem quer que seja. Continua em sua busca.

Um homem idoso, com ar benevolente, aproxima-se:

Mulder o olha, quase enfezado, pela frustração da resposta.

A resposta não fôra dada ao homem. O ex-Agente já se encontra a vários metros de distância dele, nos seus largos e apressados passos.

Mulder vai até o centro da praça. Há no local um banheiro público.

"Será que, no momento em que me encaminhei para o outro lado da praça, a Scully entrou nesse banheiro? É uma hipótese viável." - pensa, quase animado.

Ele dirige-se ao banheiro feminino.

Uma mulher, manuseando um rodo com um pano, faz a limpeza do chão.

Como ocorreu anteriormente, também esta ficou sem resposta.

Mulder já está se distanciando a vários metros do local, andando quase a correr.

A turma de garotos, agora, já tendo derrubado o imenso balão colorido, diverte-se vendo a imensidão vazia e amassada do papel no chão.

Mulder tem seus passos atrapalhados pela entusiasmada criançada.

Mais uma vez pragueja qualquer coisa, chateado que está pela situação que agora enfrenta.

Um espalhafatoso ruído de sirene de vários carros de bombeiros passa junto à praça, perturbando-o nos seus pensamentos já tão massacrados pela angústia.

É demais para ele. Sente-se já um derrotado. E culpado pelo desaparecimento de Scully e a criança.

"Coisa terrível é sentir

como sua a culpa alheia."

Oscar Wilde