AMARGA OCASIÃO

"As ocasiões que nos tornam frágeis, apenas

nos mostram quanto o somos."

Madame de Choisel

Capítulo 92

Mulder não sabe mais o que fazer. Acha, neste momento, que jamais sentira-se tão impotente, tão sem ação em toda sua vida, como nesta amarga ocasião.

"A minha Scully! O meu filho! Onde foram parar?" - sua mente cansa-se em pensar.

Sente-se neste momento intensamente infeliz. Imagina o porquê de suas vidas estarem sempre tão agitadas, sempre tão embaladas pela angústia e o terror.

Mulder roda em seus calcanhares, querendo ter uma percepção de qual direção tomar.

O desânimo domina seu corpo. A sensação de infelicidade toma por completo o espaço do seu coração.

Ele, parado no centro da praça arborizada, coloca as mãos sobre o rosto.

Levanta, a seguir, a face para o sol brilhante e, com os olhos fechados, deixa que a quentura afague-lhe a pele.

O suor corre-lhe em torno do pescoço e nas frontes. Suas mandíbulas pulsam dentro da carne. Ele passa a mão com força pela testa, como que procurando dar um refrigério em sua mente cansada. Seu olhar gira em torno, procurando avistar ao redor da praça, nas calçadas, onde estão situadas as várias lojas.

Num dado momento põe-se a correr; o desespero e o terror cada vez mais tomam conta do seu ser.

Suas passadas largas e pesadas engolem os metros de chão, o qual percorre apressadamente.

Súbito, seus olhos não querem crer no que estão vendo.

Parada, à porta da loja onde Mulder a deixara, Dana está encurvada sobre o carrinho do seu bebê, lhe ajeitando o pequenino corpo, que agita os bracinhos, com os olhos fixos na linda mamãe.

Uma mulher ao lado de Dana, sorri, vendo-o aproximar-se.

Mais uma vez Mulder chama, aflito.

O bebê ao vê-lo agita as pernas e braços, sorri no semblante inocente, mostrando um olhar de alegria.

Num ímpeto, Mulder o retira do carrinho, segurando-o fortemente junto ao seu corpo.

Com o braço livre, envolve Dana.

Ficam ali, os três, aquele trio amoroso, num puro gesto de carinho. Ternura.

A mulher ao lado deles continua a sorrir, vendo a enternecedora cena.

Dana percebe que algo se está passando e ela deseja entender.

Ele não lhe responde. Tem a voz embargada pela emoção da grata surpresa. Deseja mesmo nem largar nunca mais aqueles dois seres que são sua paixão.

Ele parece despertar, então. Afrouxa o aperto do braço. Afasta Dana de si para olha-la. Segura-a no queixo e beija-lhe a testa, com calor.

A mulher, que somente assistia a cena, resolve interromper:

Dana agradece a mulher e afastam-se da frente da pequena loja.

A senhora permanece na calçada, apreciando o casal distanciando-se do lugar.

Achara-os de uma intensa ternura e amor.

Ela suspira, talvez lembrando sua época de mocidade. Entra na loja.

* * *

- Ah, nada que você possa entender.

Mulder pára de caminhar.

Novamente aperta Dana contra seu peito, enquanto que, com o outro braço sustenta o bebê. Ficam parados assim, por vários segundos.

Dana percebe que alguma coisa negativa havia passado na mente de Mulder naqueles embaraçosos minutos.

Deixa que ele a aperte contra seu corpo. Ele parece estar necessitado disso.

Mulder, da turbulência que estava em seu interior, surge a paz, o bem-estar. Sente tranquilidade, agora.

Ele suspira.

Ele suspira profundamente.

Com o dedo indicador levantado para o alto, dá um sorriso.

Mulder recoloca o bebê no carrinho.

Caminham entre as frondosas e floridas acácias que derramam seus cachos, parecendo oferecer aos passantes sua riqueza dourada, fornecida pela natureza.

De vez em quando um pássaro atravessa o espaço, na sua mudança de um arbusto para outro ali da praça.

Nesse momento os gostosos raios do sol cobrem abundantemente tudo por ali, com seu calor.

Ao mesmo tempo que o sol tudo esquenta, uma brisa mais forte, insistente, quase um vento, se instala no lugar.

Aquilo faz revolver os cabelos ruivos de Dana, que insiste em retirá-los da testa, sem conseguir, porém.

Mulder ri, divertido com o embaraço de Dana e seus cabelos.

Aperta-a de lado contra si, enquanto empurra o carrinho do seu filho.

"A tranquilidade é felicidade

quando é repouso."

Ludwig Borne