Dana verga o corpo em direção do carrinho. Toma seu filhinho nos braços. Ele está choramingando.
- O que o meu bebê quer? Hein? - pergunta, amorosa.
- Seja o que for que tiver que fazer, será aqui do meu lado. - fala Mulder, com ar matreiro.
- Puxa vida, meu papai! Você tem medo que eu saia pra longe com minha mamãe, é? - diz Dana, brincando.
Mulder olha para ela, com um vago sorriso.
Estão passando perto de uma jardineira extensa, que exibe sua infinidade de plantas com flores coloridas.
O ganido de um filhote de cão faz-se ouvir.
Mulder aproxima-se para investigar. Agacha-se.
Um pequenino filhote de tenra idade, está no local. Apoiado nas patas traseiras, com uma das patinhas dianteiras levantadas, está ganindo, parecendo pedir auxílio.
O peludo filhote abana a cauda, satisfeito por ver ali alguém que o possa acudir.
- O que ele tem? - pergunta Dana.
- Tem a pata ferida, Scully!
Mulder toma o animalzinho, que não sabe de que forma pode agradecê-lo, a não ser com os lambidos e o abanar da pequena cauda.
- Aaah, parece um floquinho de algodão! - diz Dana.
- Pobre animal. Alguém o largou aqui! Como pode, Scully?
- É. Ele tem dono. Parece bem tratado. - faz uma pausa, olhando Mulder acariciando o animal - O que vai fazer, Mulder?
- Eu nem sei, Scully.
- Coitadinho do inocente! Vamos levá-lo conosco!
- Como?! - espanta-se.
- Até o hotel, Mulder! Alguém fica com ele lá.
- Pode ser que sim. Tomara.
Com o cãozinho seguro, encostado em seu corpo e empurrando o carrinho, Mulder caminha ao lado de Dana que carrega o bebê no colo.
- O que terá acontecido com ele, Scully?
Ela aproxima-se para ver o ferimento na patinha do filhote que Mulder segura, para mostrar-lhe.
- Foi atropelado, com certeza. O tecido dilacerado mostra isso.
- Mas como pode? Com esse trânsito daqui? Que é quase nenhum?
- Uma dessas bicicletas, Mulder! É o que tem demais por aqui.
- Tem razão. E largam o animalzinho desse jeito!
- Mulder... lembra do Queequag?
- Sim.
- Até hoje, às vezes me lembro da forma como morreu o bichinho.
- Mas, pelo menos, aqui não tem nenhum monstro naquele laguinho lá adiante. - ele aponta.
Dana sorri.
- É verdade. Lembra do nosso medo terrível naquela noite e afinal não era nada demais? - de repente muda o tom da voz - Mulder! Parece o caso que aconteceu há pouco! Você estava com um medo infundado, enquanto eu e o nosso filho estávamos bem, em lugar seguro!
- Eu sei, Scully. O medo é mesmo causado por nossa imaginação.
Ela aperta o braço dele, querendo confortá-lo.
Continuam andando em direção do hotel.
Uma manada de carneiros, com seus pêlos pouco limpos e balindo, atravessa seu caminho na estreita estrada que leva ao hotel.
O casal acha engraçado ver os tais animais.
O cachorrinho esperneia, inquieto, nos braços de Mulder.
O dia de sol forte faz com que os dois não consigam fitar com os olhos totalmente abertos a estrada à sua frente.
- Mulder, é melhor colocar o bebê no carrinho. O sol está forte demais. - aponta a face de seu filho - Olha só a carinha dele! - ela ri.
A criancinha, com os olhinhos apertados, os contrai mais, a fim de poder enxergar os rostos de seus pais à sua frente.
Mulder permanece observando o semblante do seu filho, enquanto Dana o ajeita comodamente no carrinho.
O bebê chora.
- O que ele quer, Scully?
- Colo, ora vejam só!
- Foi você que o acostumou!
- Eu? Foi você, que o pega no colo a toda hora!
- Ah, tá! Você não admite mesmo, hein? Scully, quando nosso filho crescer, vai querer ter um cãozinho pra brincar.
- Sem dúvida!
- Mas aí já estaremos morando numa confortável casa, não acha?
Uma mulher caminha, apressadamente, em direção contrária a que Mulder e Scully seguem. Segura um menino pela mão.
A voz do garoto sobressai no espaço. Ambos param sua caminhada, aguardando Mulder e Scully aproximarem-se.
- Ei, senhor! - chama a mulher.
Mulder percebe que é com ele a chamada. Detém os passos, aguardando.
Dana também pára de caminhar.
- Eu não acredito que seja ele! - exclama a mulher.
Mulder observa que ela o está fitando, fixamente.
O menino inicia um choro manso.
- É ele, mãe! - exclama o menino, em lágrimas.
- Senhor, por favor!
Mulder pára seus passos, a fim de atender o chamado.
- Mulder, eles estão olhando para o cachorrinho. - diz Dana.
- Eu sei, Scully.
- Senhor, esse é o meu cachorrinho! - exclama o menino, com semblante ansioso e molhado pelo choro.
- Ah, é seu?
- Não temos dúvida, senhor, por causa dessa mancha marrom no olho esquerdo dele. - explica a mulher.
- Está ferido! - nota o garoto.
- Esse animalzinho estava lá perto da praça, num canteiro de flores. - diz Mulder - Pode pegá-lo.
- Ah, meu Deus! - a mulher segura o animal e passa-o aos braços do menino.
Os olhos vermelhos da criança inundam-se de mais lágrimas nesse instante.
- Está chorando?! - Dana admira-se.
- Sim, desde cedo, quando o bichinho sumiu. Imagine se só tivesse este!
- Por que? Tem outros?
- Sim; mais cinco! - explica a mulher.
- Mas este é o meu favorito! - choraminga o menino, apertando-o contra o corpo - Eu estava sentindo falta dele! - afaga o cãozinho - Ele é o mais bonito da ninhada! - faz uma pausa - Estavam levando ele pra onde?
- Para que fosse ser companheirinho do seu bebê. - diz a mulher.
O casal ri.
Mulder agacha-se para chegar à altura do garoto.
- Nós não deixaríamos que você ficasse chorando, se soubéssemos a mais tempo que era seu, tenha certeza.
O menino continua soluçando agarrado ao animal.
- Eu sei que o senhor faria isso.
- Por que você sabe?
- Pelo seu rosto de bondade. - diz o pequeno.
Mulder o abraça, comovido.
Dana sente emoção, também.
- Realmente os senhores fizeram um ato de bondade trazendo esse cãozinho...! - diz a mãe do garoto.
A mulher achega-se para bem perto do carrinho.
- Seu filhinho é lindo!
- Obrigada. - fala Dana.
- Eu quero dar um dos meus cãezinhos de presente pra ele. - o menino fala, com alegria na voz.
- Não, obrigado. - Mulder responde.
- Não quer?! - surpreende-se o menino.
Mulder coloca a mão sobre a cabeça do garoto.
- Meu filho agradece o presente, mas é impossível, porque não moramos aqui.
- E onde o senhor mora? - o menino quer saber.
- Bem distante daqui, rapaz. - Mulder responde, em tom amigo.
- Que pena! - o menino demonstra tristeza.
- Mas pode deixar que daqui a mais alguns meses, viremos aqui buscar o presente. Pode ser? - Dana deseja agradar o garoto.
- Pode ser, sim, não é mãe?
- Sim, filho. - a mãe o responde, sorrindo.
- Então tá. - o menino fala para Dana.
Despedem-se.
Mulder e Scully encaminham-se para o seu lugar de destino: o hotel da cidade.
- Praticamos uma boa ação hoje, hein Mulder?
- Sim, lindinha.
Os dois prosseguem com prazer no coração.
Haviam proporcionado àquele menino uma alegria sem igual, devolvendo-lhe o animalzinho.
"O prazer mais delicado é aquele
que se proporciona aos outros."
La Bruyère