SEMPRE O TEMOR

"O temor é quem desperta

a memória adormecida."

Juan Grajales

Capítulo 94

 

O céu de um azul escuro, com milhares de pontos cintilantes, serve de cobertura às duas criaturas que estão apreciando a noite, neste instante.

A lua crescente, além da montanha, do infinito, desenha-se no espaço escuro, como a boca do céu.

De mãos dadas os dois permanecem na sacada do quarto do hotel. Pensamentos dispersos. Corações tranqüilos.

Dana fita-o, com olhar quase desesperado.

Dana esquiva-se e sai em passos rápidos para dentro do quarto.

Dana correra para junto da cama de casal, onde está o bebê.

Mulder a alcança.

Ela não responde. Nem o olha.

Ela suspira. Cruza os braços.

Mulder a esquadrinha com o olhar, procurando o seu.

Ela fecha os olhos.

Ela continua de olhos fechados. Sabe que se fita-lo, sucumbirá à força do olhar dele, desbravador de sua alma.

Mulder aproxima-se e toca com os lábios nas pálpebras fechadas dela.

Esse ato dele age como a erupção repentina de um vulcão no coração de Dana. Atira-se nos braços dele, num choro manso e silencioso.

Ele embala-a em seus braços como a uma criança.

Os minutos passam-se, um nos braços do outro.

Mulder afasta-a de si. Beija-lhe a face com doçura. Afasta-se em seguida.

Deita-se na cama, ladeando seu filhinho, que acompanha com o olhar cada gesto seu. Mulder brinca com os pézinhos da criança.

Dana deita-se também ao lado de seu filho. Enxuga os olhos, enquanto os mantém fixos nele.

Há um profundo silêncio entre o casal, somente quebrado pelos murmúrios do bebê, desejando expor aos pais sua forma de comunicação.

Calados, olhando a sua pequenina criança deitada entre eles, movimentando seus braços e pernas, os punhos fechados, o casal deleita-se de amor e prazer.

É imensa sua felicidade nesse instante em que podem contemplar aquele pedacinho do seu próprio ser, gerado pelo seu amor.

Ambos sentados encostados, na cabeceira da cama, pernas estiradas ladeando seu filhinho, o contemplam agitar os membros e levar, com sua ainda difícil coordenação motora a mãozinha à boca.

Mulder segura a mão de Scully. Em seguida retira da sua testa alguns fios de cabelo que teimam em cair-lhe à fronte.

Muitos minutos permanecem calados, apenas acompanhando com o olhar os gestos imprecisos de sua criança, que os fita, demonstrando um semblante de paz e alegria.

Mulder quebra o silêncio.

Ele ri, apenas, e mansamente lhe aperta a mão.

Mulder acaricia a cabecinha de seu filho. Sorri mansamente.

Scully continua observando-o, apenas.

Ele ajeita-se, esticando-se mais ao longo da cama. Repousa um dos cotovelos, segurando a cabeça com a mão, continuando a contemplar o filho.

Dana suspira, profundamente.

Não quer pronunciar nenhuma palavra no momento. Prefere ficar olhando aquele quadro belo do pai contemplando, embevecido, o filho que ajudou a conceber.

Mas Dana continua calada. Ouve somente.

As palavras de Mulder que soam longínquas nos seus ouvidos. De seu interior brota só o silêncio, que comanda sua boca neste momento.

"O silêncio foi dado às mulheres para

melhor exprimirem seu pensamento."

Desnoyers